Rebeldia - Juventude da Revolução Socialista
João C., do Coletivo Rebeldia, São Paulo (SP)
A última sexta feira, 22, foi marcada pela liberação do vídeo da reunião entre Bolsonaro e seus ministros. A divulgação da gravação foi feita pelo Supremo Tribunal Federal (STF), no âmbito das investigações que envolvem o presidente e Sérgio Moro. O vídeo é a demonstração de uma sequência de barbaridades ditas e cometidas pelo presidente e seus ministros. Não é para menos que esse seja o assunto do momento, mesmo enquanto o país atravessa a pandemia do coronavírus sendo o segundo país com maior número de infectados no mundo, com mais de 22.013 mortes e 347.398 mil casos confirmados.
Quando o Brasil estava caminhando para se tornar um dos epicentros da pandemia mundial, no dia 22 de abril, Bolsonaro e seus ministros se reuniram a portas fechadas para que o presidente cobrasse que os defendesse incondicionalmente, além de negociar e combinar como irão jogar os desastres da crise social, econômica e sanitária nas costas da maioria da população, em benefício dos ricos e corruptos. Mais do que isso, a gravação comprova um crime: a evidente intenção e tentativa de interferência do presidente na Polícia Federal (PF) para acobertar a investigação dos crimes de seus filhos.
Também são criminosas as afirmações dos ministros, como a de Ricardo Salles (ministro do Meio Ambiente) de que o governo têm que aproveitar a pandemia para “passar a boiada” com os projetos de destruição do meio ambiente e ataque aos povos indígenas; ou a fala de Paulo Guedes (ministro da Economia), de que o Banco do Brasil tem que ser privatizado, porque o governo não teria peito pra enfrentar os investidores privados e abaixar os juros; ou ainda a do próprio Bolsonaro, de que teria um sistema de informações paralelo, particular e, portanto, ilegal. Era por isso o receio que Bolsonaro e seus advogados tinham de que o vídeo não fosse divulgado publicamente.
Como se não bastasse, mais recentemente o empresário Paulo Marinho depôs à PF e entregou provas ao Ministério Público Federal (MPF) alegando que Flávio Bolsonaro, filho do presidente que é investigado por falsidade ideológica e lavagem de dinheiro, sabia da operação Furna da Onça. A operação da PF em 2018, que atingiu o gabinete do então deputado estadual e atual senador, teria sido vazada através de um delegado, o que seria mais um crime, se for confirmado. Para coroar a situação, nas últimas semanas o presidente se reuniu com governadores para atacar os servidores públicos com o veto do reajuste salarial até 2021, e também fez negociatas de cargos e verbas com o “Centrão” para amenizar desgastes e evitar o impeachment.
Mas ao contrário do que se poderia imaginar, muito se especula pela mídia e pelos analistas políticos se o vídeo não ajudaria a fortalecer a base do governo, ou até aumentá-la. É emblemático que um vídeo com tantos palavrões, grosserias e ameaças, em uma reunião ministerial que nem ao menos pautou a saúde pública e a contenção da pandemia, ajude aumentar a popularidade de Bolsonaro. Não é para menos que, em base ao discurso “antissistema”, a cúpula do governo ganhe mais força do que a esquerda parlamentar e a oposição, já que essas últimas continuam apostando em reformas e medidas por dentro do sistema e reverenciam as instituições burguesas como o Congresso corrupto e o STF, além de levar a cabo projetos de colaboração de classe nos governos estaduais e municipais.
Jogo sujo do sistema
É preciso destacar que o PT, enquanto partido que acredita e aposta totalmente no Estado burguês e nas vias institucionais, protocolou tarde seu pedido de impeachment: quase um mês após Movimento Brasil Livre (MBL) e Joice Hasselmann (PSL). Essa é a tônica de atuação da maioria da esquerda: mesmo no âmbito institucional e nos marcos da democracia burguesa, está muito aquém do papel que deveria cumprir como oposição ao governo.
Como o próprio Lula declarou em entrevista: “ainda bem que a natureza, contra a vontade da humanidade, criou esse monstro chamado coronavírus. Porque esse monstro está permitindo que os cegos comecem a enxergar que apenas o Estado é capaz de dar solução a determinadas crises.” Ou seja, que os trabalhadores esperem as próximas eleições para que mude o administrador do Estado; enquanto isso, morram, fiquem desempregados, adoeçam… Se essa continuar sendo a tática de PT, PCdoB e satélites contra o governo, veremos em poucos meses a tragédia em que irão afundar toda a classe trabalhadora e o povo pobre que já estão fartos dos jogos sujos do sistema.
Não é menos falso e hipócrita o discurso antissistema de Bolsonaro, de Mourão e dos ministros. O governo atual está demonstrando a cada dia que, na realidade, faz parte da parcela mais corrupta, criminosa e sanguinária que o sistema conseguiu produzir no país. É um governo ligado diretamente com milicianos, banqueiros, jagunços, especuladores, latifundiários… a tropa dos verdadeiros chefes do crime organizado no país, que sempre fizeram parte dos que nunca são condenados pela exploração e opressão diárias que submetem os trabalhadores e do povo pobre.
Todas as falas contra o STF, o Congresso e as instituições por parte da cúpula do governo (que cinicamente o faz invocando o nome do povo) são também testes para ver até onde a burguesia deixa eles conduzirem os seus planos autoritários e ideias obscurantistas, rumo ao fechamento do regime democrático.
Guerra social contra os de baixo
Assim, a polarização social se acentua e a guerra social contra os de baixo se agrava. Grande parte da burguesia, da mídia e das direções burocratas e reformistas da classe trabalhadora estão pagando para ver. Mas a última palavra será da luta de classes.
Nos últimos dias, no Chile, na Colômbia, na Guatemala, no Equador e na Nicarágua, manifestantes romperam o isolamento e protestaram contra os governos em meio ao crescente número de casos de infectados e mortos por coronavírus no continente. No Brasil, em vários estados trabalhadores da saúde e parte do povo estão protestando e se organizando contra a ameaça à saúde dos próprios profissionais, às condições péssimas de trabalho e atendimento e à destruição generalizada da saúde pública.
Interferências autoritárias, violência brutal policial, destruição dos serviços públicos, retirada histórica de direitos sociais e trabalhistas… para os de cima, nada disso configura crime hoje. Ninguém será preso por levar o povo para um abismo de morte, seja por tiros, fome, miséria ou qualquer desastre.
Nós não podemos aceitar contar nossos cadáveres e amontoar nossos mortos! Os de baixo têm necessidades urgentes: a unidade para lutar e a auto-organização para nos defender e contra-atacar agora mesmo, e para organizar a força da nossa classe e do povo não só para derrubar esse governo e seu projeto de ditadura, como também construir outra forma de sociedade – uma sociedade socialista, sem exploração e sem opressão.