A paralisação dos estudantes teve início no dia 21, tendo o curso de Letras à frente, em greve desde o dia 18

Na reunião realizada ontem (28/09), a Reitoria da Universidade de São Paulo (USP) não avançou nas negociações das pautas reivindicatórias apresentada pelos os estudantes em greve.

A postura da Reitoria foi inadmissível. Primeiro, o Reitor viajou para cumprir uma agenda no exterior, no momento mais importante de diálogo com os estudantes. A vice-reitora ficou apenas os primeiros 15 minutos, mesmo estando o tempo todo no prédio da Reitoria. Os representantes da direção, durante toda a reunião buscaram atravancar o debate sobre as pautas estudantis e inviabilizaram o debate. Isso demonstra que a Reitoria não está disposta ao diálogo e nem preocupada em atender as nossas pautas. Por isso, a greve segue e amplia-se”, afirma Mandi Coelho, diretora do Centro Acadêmico de Letras (CAELL) e uma das 11 estudantes presentes na reunião com a Reitoria representando o Comando Geral de Greve.

A paralisação dos estudantes teve início no dia 21, tendo o curso de Letras à frente, em greve desde o dia 18. Os estudantes de Letras já vinham há meses se mobilizando pela contratação de professores. O movimento foi se expandido pelos demais cursos da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) e hoje atinge a quase totalidades da Faculdades e Institutos da USP na capital e no interior. Na capital, apenas o Instituto de Odontologia não aderiu até o momento à paralisação, com assembleia a ser realizada hoje.

Estamos diante de uma das maiores greves da história da USP. Estamos com muitas demandas acumuladas, inclusive dos anos da pandemia. Estamos passando por uma situação calamitosa com o risco de fechamentos de cursos, como o Coreano, que é ensinado somente aqui na USP. Ainda na Letras, o Japonês corre o risco de fechar o horário noturno. É greve porque a situação é grave”, ressalta a diretora do CAELL e ativista do Coletivo Rebeldia.

Um dos principais pontos de reivindicação da greve é a contratação de professores

Reivindicações

Os estudantes apresentaram uma carta à Reitoria na primeira reunião, e na segunda, sintetizaram as demandas em 23 pontos, organizadas em cinco eixos: contratação de professores; permanência estudantil; reivindicações da USP Leste; vestibular indígenas; e direitos democráticos dos estudantes.

Ontem foi a primeira reunião do Comando Geral de Greve com a Reitoria, após a entrega da pauta reivindicatória. “Essa pauta foi entregue semana passada. A Reitoria nos garantiu que teria propostas concretas a apresentar nessa reunião, mas não foi isso que aconteceu”, denuncia Mandi Coelho.

Os representantes da Reitoria impediram que entrássemos no debate das propostas. Ficamos a maior parte do tempo da reunião refletindo sobre o método, a forma da negociação. Isso foi feito para impedir o debate mais a fundo”, completou.

De acordo com diretora do CAELL e integrante do Comando Geral de Greve, o tema da contratação de professores foi o ponto mais debatido. Os estudantes apresentaram três exigências nesse ponto:

Retorno do gatilho automático para a contratação de professores: hoje, quando um professor falece, é exonerado ou se aposenta, não tem a reposição automática da vaga. Os discentes cobram o retorno desse mecanismo para que as vagas sejam respostas;

Número mínimo de professores para garantir o funcionamento dos cursos – 1.683 docentes: esse número é baseado no retorno da proporção do número de estudantes para o número de professores que a USP tinha em 2014.

Fim do edital de excelência ou mérito: para os estudantes esse critério é absolutamente meritocrático e não destina as novas contratações para as unidades que precisam de professores, apenas para aquelas que cumprem um critério de excelência.

A reitoria se negou a debater esses três pontos em conjunto. Apresentou uma proposta de reposição nos próximos três anos, mas isso já estava no plano da Reitoria. Isso não é uma proposta e sim a defesa da política atual da direção da instituição”, questiona Mandi Coelho.

Essa proposta não contempla a nossa demanda. Nós queremos a reposição nos próximos anos. Contudo, queremos que seja levado em conta o número de professores que demandamos e que não a seleção não seja ancorada no edital de mérito”, explicou a estudante.


Ampliação da greve

Mandi Coelho ressalta que os estudantes têm interesse em resolver as demandas o quanto antes. “Se hoje existe uma greve na USP, sem perspectiva de finalização, a responsabilidade é única e exclusivamente da Reitoria”, diz.

O Reitor foi à imprensa dizer que a nossa greve é violenta, que não entende nossas reivindicações e que nós estamos fechados para o diálogo. Na verdade, quem age com violência é a direção ao chamar a polícia para reprimir e criminalizar a nossa greve. Quem fecha o diálogo é a Reitoria, quando o reitor e vice-reitora se negam a participar da reunião de negociação, e quando os representantes da Reitoria emperram o debate na mesa da negociação e buscam debochar de nossas propostas”, pontua a diretora do CAELL.

De acordo com Mandi Coelho, a greve segue e amplia-se. “A postura da Reitoria leva a que a greve siga. Vamos ampliar e estender a paralisação para as poucas unidades que ainda não aderiram ao movimento, pois nada vai vir de mão beijada. Ontem, a Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária (FAE) entrou na greve. A palavra de ordem é avançar na greve e unificar a luta com as outras universidades estaduais de São Paulo”, concluiu.

Na próxima segunda-feira, dia 2, os estudantes realizarão uma assembleia geral para debater os próximos passos da greve. Na terça-feira dia 3, irão somar na greve do metrô, trens e trabalhadores da Sabesp, que irão paralisar contra os planos de privatização do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).

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