João Conceição

João Conceição, do Rebeldia

Caloures ou veteranes, todes nós acabamos de voltar à USP. “Aproveitem todas as oportunidades, vivam a riqueza da vida acadêmica“, foi a mensagem do novo reitor, Gilberto Carlotti, no primeiro dia da Calourada na semana passada. O reitor só se esqueceu de falar dos circulares lotados, das filas de bandejão quilométricas e do retorno presencial seguro meia-boca que a reitoria preparou pra receber es estudantes!

Mesmo com a alegria de alguns cursos de poder voltar de forma presencial, cursos como o da Geografia e o da Letras, que depois de muita mobilização arrancaram a conquista de um retorno presencial seguro, viram as tentativas da diretoria e da administração de tentar boicotar o retorno. A universidade teve dois anos para preparar planos para um retorno presencial, mas por conta do descaso e da irresponsabilidade da reitoria, das diretorias e das cúpulas de departamentos, a garantia de um retorno presencial está em jogo para esses e muitos outros cursos.

Desde o primeiro dia, também enfrentamos filas enormes, tanto nos ônibus circulares, quanto nos bandejões. Nem é preciso lembrar que isso tudo afeta em cheio es estudantes trabalhadores e mais pobres, que muitas vezes não conseguem almoçar ou jantar antes ou depois do trabalho. Os circulares parecem lata de sardinha, e quem estuda no noturno tem que voltar tarde pra casa sendo prensado no circular – com perigo de ser assaltado ou coisa pior, se decidir ir a pé para o metrô. 

Sem contar outros ataques aos nossos direitos, como a FFLCH que teve as cotas de impressões nos computadores das Pró-Aluno cortadas pela diretoria, sob uma justificativa falsa e hipócrita de defesa do meio ambiente. Isso tudo feito por debaixo dos panos, sem avisar ninguém. Para eles, es alunes que tiverem notebook, kindle ou tablet que se salvem. Es alunes que não tiverem, que se virem. Afinal, numa das faculdades com as maiores cargas de leitura obrigatória de toda a USP, pra quê cotas de impressão?

É uma contradição enorme que a reitoria e as diretorias que dizem se preocupar com as nossas vidas não conseguirem garantir nem o mínimo para um retorno presencial seguro. Ou quando falam em permanência, mas não aumentam os bandejões, nem aumentam as frotas dos circulares. E poderiam ser criadas gráficas da universidade a preços acessíveis, aumentar as cotas de impressão gratuitas e implementar projetos que visem a sustentabilidade na USP, sem usar ambientalismo como desculpa pra cortar nossos direitos.

No curso de Letras, a situação do retorno é ainda mais revoltante: antes da pandemia era comum encontrar salas extremamente abarrotadas, com estudantes no chão por falta de espaço para todes sentarem em carteiras. Es estudantes vêm batalhando, junto a parte do corpo docente, para que sejam garantidas salas de aula com um mínimo de espaçamento  para que o ambiente seja aceitável. Porém a Reitoria da Universidade se nega a garantir as 8 salas que o curso ainda não conseguiu fora do seu prédio “provisório” para poder retornar 100% das aulas. O reitor teve a cara de pau de dizer em entrevista que a questão da Letras não é um problema porque a universidade não está mais adotando nenhuma medida de espaçamento. Então, fica a pergunta a ele: Carlotti, então ter aula em pé por falta de espaço é o “padrão USP” de ensino? Negligenciar a preocupação de parte dos professores com a aglomeração em salas de aula – em uma pandemia ainda não derrotada – é o padrão USP?

Para todos esses problemas existem soluções, simples e difíceis, mas que não são impossíveis… se não fosse a falta de interesse político e econômico da USP e do governo de São Paulo para isso! Afinal, não é o reitor nem o Doria que comem no bandejão, ou estudam em salas lotadas, ou pegam o circular todos os dias, né?

Estudantes do curso de Letras da USP protestam debaixo de chuva em frente à Reitoria da USP por condições seguras para um retorno 100% presencial

Mas não falta disposição pra luta: em plena calourada, sob uma forte chuva es estudantes da Letras foram pra frente da Reitoria exigir salas e entregar uma carta com diversas reivindicações sobre a infraestrutura do curso. Se a USP não garante salas, alimentação ou transporte dignos para es estudantes, só nos resta lutar e nos organizar para que todas essas medidas sejam garantidas! Se você deseja debater sobre tudo isso e participar do movimento estudantil, vem conhecer o Rebeldia!