Não são poucos os argumentos em torno de um suposto isolamento que uma ruptura condenaria o país. Por exemplo, não é verdade que uma ruptura impediria a vinda de investimento externos produtivos. Estes investimentos, em essência, já não existem hoje. A maioria do capital que chega ao país vem “financiar” o pagamento da dívida externa e interna. Ou seja, ele só serve para realimentar a ciranda das dívidas. Outra parte destes investimentos vem para a privatização das empresas públicas ou para a compra de empresas privadas nacionais, sem nenhum aporte real à produção.

Nas contas externas, o item “conta corrente” reflete as relações do país com o resto do mundo: se o saldo for positivo, significa que o país recebe mais recursos do que envia ao exterior; se for negativo (como é o caso brasileiro), significa que o país envia mais capital para o exterior do que recebe.

Na década de 80, o Brasil “exportou” 42 bilhões de dólares a mais do que o que entrou. Na década de 90 esse processo de sangria se acelerou: 155,7 bilhões de dólares saíram do país a mais do que o que entrou. Mostra não existir o “fluxo de capitais para o país” que se interromperia no caso de uma ruptura; o que seria interrompido, em caso de ruptura, é o fluxo de capitais para fora do país.

Mais perto dos povos,mais longe de Bush

Também, uma ruptura protagonizada por um país como o Brasil provocaria uma mudança na situação da luta de classes, em todo o continente latino-americano. Uma onda de simpatia se generalizaria entre os trabalhadores e pobres do continente, fortalecendo o sentimento antinorte-americano, já em crescimento sob a administração Bush. Não estaríamos isolados do mundo, mas distantes de Bush e pertos de todos aqueles que lutam contra o imperialismo – trabalhadores e povos da Argentina, Venezuela, Bolívia, Peru, Paraguai entre outros. Estaríamos no caminho de uma verdadeira independência e não do isolamento.

Poderíamos, portanto, ir com outros países a um processo de ruptura com o imperialismo, abrindo novas possibilidades políticas e econômicas.

Isolamento comercial?

Uma ruptura impediria a troca de mercadorias? Seguramente não, pois ainda que fosse impossível importar alguns dos aparelhos eletroeletrônicos norte-americanos (que são sonhos de consumo de um setor da classe média), poderíamos priorizar a produção para as necessidades dos trabalhadores brasileiros, e utilizar-nos da disputa interimperialista para conseguir produtos em outros países.

Teríamos uma relação de troca soberana com o resto do mundo e priorizaríamos os países que também se enfrentarem com o imperialismo. Seria uma opção melhor até para setores da classe média em relação a situação da Argentina, onde profissionais liberais estão vivendo desempregados nas ruas nos dias de hoje.

Os defensores do plano atual dirão mais uma vez que estas propostas são utópicas, irrealistas. A resposta é que não existirão mudanças profundas sem rupturas. Não existiriam nem a revolução cubana nem nenhuma outra revolução.

Para os que falam do poder militar dos EUA como argumento definitivo, é bom lembrar que o aparato militar do imperialismo é muito forte, mas foi derrotado militarmente pelos vietnamitas nos anos 70, que não aceitaram este tipo de postura conformista.

Aliás, com essa postura avessa às mudanças e rupturas não seria possível a derrubada da ditadura militar nem a queda de Fernando Collor e nem a de De la Rua.


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