Foto Romerito Pontes

“A exigência de que abandonem
as ilusões acerca de uma condição
é a exigência de que abandonem
uma condição que necessita de ilusões”
(Karl Marx – Crítica da Filosofia do Direito de Hegel)

Queremos dialogar aqui com todos aqueles que se perfilam contra Jair Bolsonaro e seu governo genocida e corrupto e que, sinceramente, se inclinam a um voto útil na chapa Lula-Alckmin nestas eleições. Antecipamos nosso argumento: voto útil é, não só, um voto contra Bolsonaro, mas um voto socialista para derrotar definitivamente o bolsonarismo – produto do capitalismo e das traições aos trabalhadores produzidas pelos governos de colaboração de classes – e avançar na construção de uma sociedade socialista. Vamos lá!

Sob o argumento de que é preciso eleger Lula (PT) no 1º turno, há uma grande pressão para que o eleitor abra mão de um voto ideológico no projeto político em que acredita, e conceda um voto utilitarista na chapa Lula-Alckmin.

Essa campanha não surgiu, como se diz, “do nada”. Ela é o corolário da Frente Ampla organizada pelo PT desde 2020 em aliança com partidos da burguesia e com adesão de partidos de esquerda como o PSOL.

E, hoje, o apelo ao voto útil vem do discurso de que a única maneira de tirar Bolsonaro do poder é votando em Lula. Claro, oculta-se que, nestes quatro anos, a direção do PT emperrou as lutas pela derrubada de Bolsonaro nas ruas para que restasse o apelo às urnas.

Pareado a isso – e se aproveitando do imenso e justo repúdio popular contra Bolsonaro – Lula fez a maior coligação eleitoral da história do PT, inclusive com partidos de direita e do chamado centrão. A coligação Brasil da Esperança Fé Brasil reúne 9 partidos: PCdoB, PV, SOLIDARIEDADE, a Federação PSOL-REDE, PSB, AGIR, AVANTE e PROS.

O discurso petista é que Bolsonaro dividiu o Brasil e que, agora, é preciso unir o país para restaurar a paz social. Mas a verdade é que, antes mesmo de Bolsonaro subir ao poder, o país já estava dividido pelo antagonismo entre as classes sociais, pelo racismo, pelo machismo e pela LGBTIfobia. O que Bolsonaro fez foi tornar essa divisão mais explícita e ainda mais brutal.

Foi assim, por exemplo, durante a Ditadura Militar iniciada em 1964. A ditadura militar não dividiu o país, nem inaugurou o reino da exploração. Os militares – apoiados pela burguesia nacional e pelo imperialismo estadunidense – escancararam o antagonismo entre as classes sociais e o caráter predatório da burguesia e sua submissão ao imperialismo.

E aqui cabe um pouco de história. Por décadas, seguindo a política stalinista de “coexistência pacífica” com a burguesia e com o imperialismo, o maior partido de esquerda na época, o Partido Comunista Brasileiro (PCB), defendia que era preciso se aliar e apoiar a burguesia nacional e governos burgueses com uma fachada popular para se cumprir uma etapa democrática rumo à uma evolução ordeira e pacífica até o socialismo. Essa política – por desmobilizar e deseducar o ativismo e os trabalhadores – facilitou o caminho para a extrema-direita subir ao poder no país através de um golpe militar.

No final da ditadura, o PT surgiu como alternativa a essa política de alianças com a burguesia. No entanto, na luta contra a ditadura militar e seu partido, o ARENA, a esmagadora maioria da esquerda coincidiu no apoio ao… Movimento Democrático Brasileiro (MDB)!

Isso mesmo: boa parte da esquerda decidiu apoiar o MDB e repudiou a criação de um partido que organizasse os trabalhadores de forma independente, como era a proposta inicial do PT. Diziam que isso dividiria a luta pela derrubada da ditadura e que a radicalização dos trabalhadores poderia provocar uma reação violenta do governo militar…

Debaixo de uma ditadura militar, o PT surgiu em 1980 assumindo que a sociedade brasileira capitalista já estava dividida. E contra as inúmeras acusações de que “dividia a luta contra a ditadura” e de que “dividia o movimento sindical”, “que teria uma votação pífia” etc., os trabalhadores reunidos no PT respondiam dizendo que a luta contra a ditadura não passava pela adesão ao MDB e à unidade eleitoral com a burguesia, mas pela defesa política de um projeto próprio dos trabalhadores. A palavra de ordem nas eleições de 1982 era “trabalhador vota em trabalhador”.

Hoje, em setembro de 2022, é preciso dizer que a esmagadora maioria da esquerda estaria em 1980 apoiando o MDB em oposição frontal ao PT. Mas não porque – como alguém poderia dizer – “os tempos são outros”, mas porque o PT é outro.

Aliás, é porque o PT é outro que o banqueiro Henrique Meirelles, e o ex-ministro da ditadura militar, Delfim Neto, manifestaram apoio a Lula e ao PT. E é justamente porque o PT abandonou a independência da classe trabalhadora, escapou irremediavelmente ao controle dos trabalhadores, e fez alianças com a burguesia, que setores da classe média e muitos intelectuais – sendo muitos abertamente antimarxistas – hoje o apoiam.

O PT tornou-se seu contrário, um partido da ordem e de alianças com a burguesia e tenta nublar isso apelando para uma simbologia (imagética e sonora) de um PT e de um Lula dos anos de 1980 (que vai do jingle do “Lula lá…” às fartas imagens de um jovem Lula barbudo e sindicalista) etc. Como se entre 1980 e 2022 Lula e a política do PT seguisse sendo essencialmente a mesma.

O Socialismo é uma necessidade

De tanto se adiar a luta pelo Socialismo no Brasil em nome da urgência, esqueceu-se quão urgente é o Socialismo para o Brasil, um país marcado por quatro séculos de escravidão e que nunca deixou de ser a colônia de alguém.

E falamos isso porque os problemas mais imediatos dos trabalhadores e do povo pobre (como a fome e o desemprego) não poderão ser resolvidos em definitivo dentro do capitalismo e sem uma revolução. As mudanças estruturais que o país precisa não serão obtidas junto com a burguesia, mas contra a burguesia.

Tomemos o caso da fome. Bolsonaro impôs a fome para mais de 33 milhões de pessoas neste país. Mas quem conhece minimamente o Brasil, sabe que a fome só desapareceu nos relatórios de estatísticas e quando admitidos os critérios rebaixados de organismos como o Banco Mundial. A erradicação da fome só é possível através de uma reforma agrária radical que culmine na destruição da propriedade privada latifundiária e socialize nas mãos dos trabalhadores e pequenos agricultores os grandes meios de produção da agroindústria que, hoje, estão nas mãos de um punhado de capitalistas do setor da agroindústria, agroquímica e imobiliário.

O arco de alianças construído pelo PT nestas eleições e a escolha para a vice-presidência de Geraldo Alckmin (PSB) – ex-presidente do PSDB – asseguram um projeto de governo burguês e alinhado à agenda neoliberal. Isto é, trata-se de um projeto contrário à resolução dos problemas dos trabalhadores e do povo pobre deste país.

No plano discursivo, o PT pôs em campo uma espécie de versão eleitoreira do slogan neoliberal de Margaret Tatcher (“there is no alternative” – não há alternativa) para retirar do horizonte de parcelas do ativismo a possibilidade de uma alternativa socialista para derrotar  Bolsonaro e o bolsonarismo.

O apelo ao voto útil se tornou um tipo de chantagem política e, como toda chantagem, ela não para quando se atende a seus pedidos: ao contrário, ela só aumenta. Num provável governo Lula, a chantagem será para não lutar ou protestar contra as medidas de ataque aos trabalhadores (como o projeto de Reforma Administrativa) sob o argumento de que isso precipitaria a volta da extrema-direita. Já assistimos a esse filme nos governos petistas anteriores e essa chantagem desmobilizou os trabalhadores e pavimentou o caminho para o surgimento do bolsonarismo. Lembramos isso porque novas traições aos trabalhadores podem dar novo fôlego à extrema-direita e ao bolsonarismo, seja ele encabeçado ou não por Bolsonaro.

Por uma alternativa socialista para derrotar definitivamente o bolsonarismo

Nestas eleições existe uma alternativa socialista para derrotar definitivamente o bolsonarismo. Essa alternativa é representada por Vera, candidata à presidência pelo PSTU e pelo Polo Socialista Revolucionário e que tem Raquel Tremembé como vice.

Foto: Romerito Pontes/Divulgação

Vera é socialista, negra e representante dos interesses da classe trabalhadora. E, por isso, tem sido invisibilizada das mais variadas formas possíveis. Vera não é chamada nos debates nas grandes emissoras e sua voz não é veiculada na rádio e nem na TV. E como sua campanha é sustentada por militantes e apoiadores e não conta com dinheiro da burguesia, esse bloqueio midiático reduz o alcance das ideias políticas que defende.

Essa hostilidade da grande mídia não é gratuita. A burguesia teme que palavras como “Socialismo” e “Revolução” sejam ouvidas pelas massas trabalhadoras, e por elas sejam debatidas e assimiladas. Por isso, a burguesia e a grande mídia preferem dar a voz a políticos de extrema-direita como Bolsonaro e fundamentalistas como o padre Kelmon (PTB), do que conceder 1 minuto sequer em horário nobre para alguém como Vera e o PSTU.

Mas sobre isso não há nada de novo. Ao longo da história, os socialistas sempre foram alvos de calúnias, bloqueios e toda sorte de repressão. Normal nos temerem.

A luta pela revolução e pelo socialismo é a grande tarefa do nosso tempo. Se você concorda, lhe convidamos a dar um voto nas candidaturas do PSTU e do Polo Socialista neste domingo, 2 de outubro. Cada voto no 16 fortalece o caminho para derrotar definitivamente o bolsonarismo e sepultar de vez a extrema-direita neste país, e construir uma sociedade socialista livre de toda forma de exploração e opressão.

Consulte

Lista dos candidatos do PSTU e do Polo Socialista Revolucionário por estado