Cansados de ver os madeireiros entrar impunemente e retirar madeiras do Projeto de Desenvolvimento Sustentável Esperança, agricultores fecharam a estrada que dá acesso ao mesmo. Localizado a 50 km da sede do município de Anapu, região da rodovia TransamazTrabalhadores rurais mantiveram a luta conduzida pela missionária, enfrentando madeireiros e a conivência governamental. Mas isso não impediu a ação dos latifundiários, seja na extração madeireira ou no atentado à vida de quem defende a floresta. Infelizmente, alguns que lutavam junto aos agricultores mudaram de lado. O bloqueio da estrada, ocorrido no dia 13 de janeiro pelos agricultores, é mais um capítulo nesse enfrentamento. A polícia militar e civil já foram acionadas e se encontram na área bloqueada.
Os trabalhadores contam com o apoio da CPT e da Congregação das Irmãs de Notre Dame. Uma representação da CSP Conlutas do Pará deverá ir ao PDS nos próximos dias.
No final do ano passado uma delegação de trabalhadores rurais de Anapu participou da plenária estadual da Conlutas do Pará. Na ocasião, uma das principais lideranças locais concedeu entrevista exclusiva ao site do PSTU. Por questões de segurança, seu nome será preservado, pois já sofreu atentados à sua vida e permanece sob ameaças de morte.
Portal do PSTU: Você se encontra na área do PDS Esperança há quanto tempo?
Liderança: Estou há sete anos. Ajudei, inclusive, a abrir picada na mata. Planto cacau em consórcio com árvores nativas, como o mogno.
luta da Irmã Dorothy foi importante para a criação do PDS Esperança. Por conta disso foi assassinada. O que mudou desde então?
Apenas um dos mandantes do assassinato está preso. Apesar disso, mudou muita coisa porque o pessoal que apoiava a Dorothy hoje está no governo (na prefeitura e no então governo estadual do PT, desde 1º de janeiro substituído pelo PSDB). Essas pessoas agora são contra a nossa luta. A situação está difícil. Aliás, nunca foi fácil. Hoje contamos com apoio só da CPT.
O Sindicato dos trabalhadores rurais está trabalhando junto com fazendeiros. Por isso, fundamos um novo sindicato, o Sindicato de Trabalhadores Rurais da Agricultura Familiar de Anapu.
O prefeito do município, Chiquinho do PT, andava com a Irmã e foi eleito a partir da luta dela e da repercussão de seu assassinato. Para se eleger, formou uma coligação onde o vice-prefeito é Délio Fernandes, um madeireiro que a Irmã denunciava como uma das pessoas que tramavam seu assassinato.
Como eles têm agido?
Havia um funcionário do Ibama que nos apoiava e enfrentava os madeireiros. O prefeito foi até a governadora Ana Júlia (PT) e juntos conseguiram sua transferência para Marabá. No final de seu mandato a governadora conseguiu nomear o prefeito presidente do consórcio que vai acompanhar a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte.
O padre Amaro é umas das pessoas que têm se colocado ao nosso lado. Ele também está ameaçado de morte. Chiquinho do PT diz publicamente que “tem pessoa que não quer o desenvolvimento da cidade e se esconde atrás da batina e da bíblia”.
Há uma associação no PDS Esperança que brigava contra a entrada de madeireiros. O presidente do sindicato dos trabalhadores rurais da região conseguiu tirar a diretoria, colocando outras pessoas no lugar e fez um acordo com os madeireiros para extrair madeira de lá. Mesmo não sendo mais presidente, ele permanece na diretoria do sindicato e é vereador e presidente da Câmara Municipal.
E os madeireiros, o que têm feito?
Continuam a retirar madeira do PDS. Uma parte dos colonos vende madeira para eles. Outros resistem. Meu vizinho não queria vender. Aí eles ameaçaram e ele saiu da casa. Fez denúncia no sindicato, que não fez nada. Os madeireiros entraram no seu lote e retiraram toda a madeira de valor. Eles dizem que não adianta denunciar porque pagam R$ 30 mil para o Ibama e resolvem tudo.
Então foram esses fatos todos que levaram vocês a fundar outro sindicato? Por que não procuraram a CUT?
O sindicato que já existia está do lado dos madeireiros. Se ficássemos na CUT e Contag teríamos que seguir a cartilha deles e isso não queremos. Por isso, viajamos dois dias para conhecer a Conlutas.