Operários da CSN paralisados em Volta Redonda (RJ)
Redação

Se por um lado 2022 vem sendo marcado pela manutenção do desemprego em massa, da carestia e da inflação, por outro temos visto uma onda de lutas.

Mobilizações como a forte luta travada pelos operários da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) em Congonhas (MG) e Volta Redonda (RJ), que enfrentam salários de fome enquanto a mineradora anuncia lucro recorde. Ou a luta dos operários da Avibras, fábrica de componentes aeronáuticos de Jacareí (SP), que derrotou a tentativa da empresa de mandar para a rua 420 trabalhadores. Os garis no Rio de Janeiro também deram um exemplo de mobilização, assim como os trabalhadores rodoviários da capital carioca e de várias partes do país.

Essas lutas expressam uma indignação crescente diante da superexploração, dos baixos salários, da precarização, das jornadas extenuantes, da crise social e econômica, do desemprego e do aumento brutal da desigualdade.

O alto desemprego e a precarização do trabalho exercem uma enorme pressão sobre a classe trabalhadora, e são usados pelos grandes empresários como chantagem para impor salários cada vez mais rebaixados. Ao mesmo tempo, um punhado de bilionários faz fila para comprar um jatinho particular. Enquanto famílias buscam comida nos lixos, o Brasil é o segundo país do mundo em número de jatinhos para carregar bilionários (menos de 1% da população), perdendo só para os EUA.

Superexploração, fome e miséria sustentam lucros das grandes empresas

Concentração de riqueza nas mãos de poucos: isso é o capitalismo!

O anúncio dos lucros recordes da CSN pelo seu presidente, Benjamin Steinbruch, despertou a indignação dos trabalhadores da mineradora. Pagando um dos piores salários do setor da mineração, a empresa teve um lucro recorde de R$ 13,2 bilhões em 2021, mas se recusa até mesmo a reajustar o salário de seus trabalhadores pela inflação. O trabalho dos operários é o que faz a riqueza da empresa, mas ela é quase toda distribuída aos seus acionistas.

A mesma coisa ocorre com a Petrobras. O alto preço do combustível e do gás de cozinha, que afeta toda a população, direta ou indiretamente, assim como a exploração de seus trabalhadores, não se reverte em qualquer benefício para a classe trabalhadora e a população, mas em lucros bilionários para os grandes acionistas. No ano passado foram repassados R$ 101 bilhões em dividendos, a maior parte para grandes acionistas e investidores estrangeiros.

É assim que funciona o capitalismo. O fruto da riqueza produzida pelo trabalho, e da espoliação do povo, é apropriado por um pequeno número de grandes empresas. Para se ter uma ideia, as vendas dos 200 grandes conglomerados no Brasil chegaram, em 2019, a R$ 3,9 trilhões, ou 53,7% do PIB. Ou seja, mais da metade de tudo o que é vendido no país está nas mãos de um punhado de grandes empresas.

Estas, por sua vez, são dominadas pelo capital internacional. O maior fundo de investimento do mundo, BlackRock, ligado aos bancos norte-americanos Barclays e Bank of America, é um grande investidor da Petrobras, BR Distribuidora, Vale, Banco do Brasil, JBS, Embraer, Souza Cruz, entre outras. As grandes multinacionais dominam também nada menos que 70% do campo brasileiro.

A concentração das riquezas nas mãos de um pequeno grupo de grandes empresas é o que produz os 315 bilionários do Brasil, incluindo os 77 novos bilionários que entraram nesse seleto grupo em 2020, ano em que viram suas fortunas crescerem na mesma proporção em que aumentavam a fome e a miséria.

É isso o que explica os baixos salários, a inflação, a carestia, a fome e a miséria num país que figura entre as maiores economias do mundo. O valor de quase tudo o que é produzido vai parar nos bolsos de um pequeno grupo de capitalistas, e principalmente nas carteiras de grupos de investimentos estrangeiros, que atuam como parasitas sugando as riquezas de praticamente todos os setores.

Não por acaso, enquanto os salários baixam e o desemprego cresce, aumenta também a remessa de lucros para fora do país. Foi R$ 1,5 trilhão enviado para fora de 2011 a 2020 pelas multinacionais.

 

Derrotar Bolsonaro e seu projeto golpista

A relativa recuperação de Bolsonaro nas pesquisas eleitorais deu força para que ele recrudescesse as ameaças golpistas. Bolsonaro prepara o terreno para contestar um resultado nas urnas que não lhe seja favorável.

É preciso derrotar Bolsonaro e seu projeto de genocídio, fome, desemprego, destruição ambiental e entrega do país. Mas não basta tirá-lo de lá nas eleições, é necessário também derrotar o sistema que o sustenta. Bolsonaro é expressão do país em franco processo de decadência, no qual ele surge para acelerar a superexploração e a pilhagem, e carregando ainda um projeto autoritário para evitar a reação da classe trabalhadora e dos setores oprimidos.

É necessário derrotar Bolsonaro, mas derrotar também esse sistema.

Administrar o capitalismo?

Lula/Alckmin não é a solução

Lula e o PT não têm um projeto alternativo ao capitalismo em crise. Pelo contrário, seu programa se resume a administrar essa crise nos marcos do sistema, e isso significa continuar jogando seus efeitos sobre as costas dos trabalhadores. Significa continuar governando para as grandes empresas e multinacionais que controlam a maior parte da economia, e lucram superexplorando a classe trabalhadora e espoliando o povo.

A aliança com Alckmin, expressão da ala mais conservadora e reacionária do PSDB, é a reafirmação desse projeto, apontando para um governo de unidade nacional com a burguesia e o grande capital estrangeiro.

É impossível enfrentar a crise, do ponto de vista da classe trabalhadora e do povo pobre, sem enfrentar as grandes empresas, o imperialismo e os super-ricos. E isso se faz contra eles, não governando com eles. Infelizmente, o PSOL caminha para a completa capitulação a essa frente com a burguesia, definindo o voto em Lula e Alckmin já no primeiro turno.

FALA VERA

Trabalhadores e o povo pobre no poder

Por emprego, salário, terra, defesa do meio ambiente, fim das opressões e soberania

Para mudar de fato este país, enfrentar a crise social e combater o desemprego, a carestia, a fome e a miséria, é necessário impor um projeto da nossa classe que rompa com as grandes empresas, os banqueiros e o imperialismo.

Primeira coisa a ser feita é revogar por completo a reforma trabalhista, revertendo a precarização do emprego e acabando de vez com as terceirizações. Da mesma forma, é preciso revogar a reforma da Previdência que, além de atacar as aposentadorias, prende o trabalhador por mais tempo no mercado.

É necessário reduzir a jornada de trabalho sem reduzir os salários, criando novas vagas de empregos a quem precisa trabalhar. Colocar em marcha um plano de obras públicas ecológicas que, a um só tempo, gere emprego e ataque problemas históricos como o déficit de moradias e o saneamento básico. Duplicar o salário mínimo rumo ao salário apontado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).

É necessário investir de forma maciça em saúde, educação e demais serviços públicos. Garantir terra a quem precisa, regulamentar as reservas indígenas e quilombolas e acabar com o massacre no campo.

Só é possível avançar nessas medidas atacando os lucros e as propriedades do grande capital. Rompendo com os banqueiros, parando de pagar a mal chamada dívida pública, taxando fortemente as grandes fortunas e propriedades e, sobretudo, tirando o sistema financeiro das mãos dos banqueiros, e as 100 maiores empresas dos grandes empresários, que controlam a maior parte da economia, colocando-os nas mãos dos trabalhadores.

Temos que reestatizar as empresas que foram vendidas, como a Vale, expressão máxima do grau de decadência e subordinação. Após o crime praticado pela empresa em Brumadinho (MG), em 2019, que tirou a vida de 272 trabalhadores, ninguém foi preso e mais ainda, não houve compensação aos sobreviventes e às famílias das vítimas. Pelo contrário, no ano passado, foram distribuídos mais de R$ 34 bilhões em dividendos aos grandes acionistas. No capitalismo, o crime não só compensa, como é lucrativo! Só esse crime já justificaria tirar a Vale das mãos desses assassinos e colocá-la para que os trabalhadores a gerenciassem.

Precisamos, enfim, tomar das mãos dos capitalistas as grandes empresas que controlam a maior parte da economia e colocá-las nas mãos dos trabalhadores para que funcionem não para explorar e roubar o povo e o país, mas para atender as necessidades da população.

Para impor um projeto da classe trabalhadora, porém, é preciso mudar a sociedade, construir um governo socialista dos trabalhadores, que efetivamente coloque os trabalhadores e o povo pobre no poder, para que governem através de suas organizações e apoiados na sua mobilização, para garantir pleno emprego, acabar com a desigualdade social e a decadência do país.