Nestas eleições é preciso debater algo mais do que medidas imediatas para enfrentar as crises tão recorrentes em nosso país. Como vencer a luta cotidiana pela sobrevivência que caracteriza o dia a dia da maioria da população? Como construir um futuro em que comer todos os dias e ter direito a um trabalho digno seja tão natural como assistir a uma partida de futebol? É possível conseguir estas mínimas condições de vida nos marcos do capitalismo?
Hoje, 80% de tudo o que é produzido no mundo é consumido por apenas 20% da população mundial, concentrada em um número de países que se pode contar nos dedos das mãos. Assistimos, portanto, a uma brutal concentração de riqueza em um pólo da sociedade e de pobreza no outro pólo.
Ainda assim, partidos como PT afirmam que o socialismo é coisa do passado, e que ao invés de propormos colocar um fim nesse estado de coisas, devemos somente propor diminuir as diferenças sociais e a desigualdade, preservando o sistema capitalista.
Em nome de um suposto “realismo” a direção do PT se rende aos que afirmam que a luta pelo socialismo é uma coisa do passado e concentra seu programa na “distribuição de renda e riqueza”. Para isso já não seria mais necessário sequer deixar de pagar a dívida externa. O PSTU pensa justamente o oposto: a luta pelo socialismo é mais atual do que nunca.
Os donos do mundo
Em todo o mundo não mais do que 200 grandes empresas, vinculadas a uns quantos bancos, controlam cerca de 70% da produção e do comércio mundial, no Brasil este número é ainda menor.
Tanto no Brasil como no mundo, o capitalismo desenvolve o sistema concentrando a produção em mãos dos grandes monopólios que produzem em escala mundial, e uma centralização da propriedade em mãos de um número cada vez menor de capitalistas.
Esta concentração de propriedade responde a razão de ser do sistema: gerar e incrementar os lucros.
Mais na vida não existe nada que brote do ar, se um lado concentra cada vez mais riqueza, o outro lado concentrará cada vez mais pobreza, pois o lucro não é outra coisa que o resultado do trabalho de milhões de homens e mulheres e crianças que deixam todos os dias uma parte das suas vidas nas empresas.
Riqueza e Pobreza no Brasil
Assim, a concentração de renda e riqueza que existe no Brasil é o resultado da forma como está organizada a produção e reprodução da vida na sociedade. Os que têm um “título de propriedade” seja de uma fábrica ou da terra, ficam com os benefícios gerados pelo trabalho de milhões. E no caso do Brasil, uma fatia cada vez maior destes benefícios é também absorvida pelos países imperialistas.
No entanto, para produzir, os que detêm este “título” necessitam do trabalho de milhões, necessitam da infra-estrutura do Estado (energia, transporte, estradas), necessitam de desenvolvimento científico; necessitam de que além haja uma grande parte que não trabalhe para baixar o salário de quem está trabalhando e seja uma reserva para futuros aumentos de produção. Enfim, necessitam que toda sociedade esteja voltada para garantir a produção.
No entanto, o resultado desta produção não é repartido por toda sociedade. Assim, este “modelo” de organização da sociedade funciona sob a desigualdade, entre os que são proprietários das fábricas e terras e os que têm somente a força de trabalho; desigualdade entre grandes e pequenas empresas; desigualdade entre países imperialistas e periféricos; desigualdades de regiões do mundo e dentro dos próprios países.
“Modos” de Distribuir Riqueza
A direção do PT afirma que para combater esta desigualdade basta tomar medidas no sentido de distribuir a renda e a riqueza dentro da sociedade, preservando assim a propriedade privada e o lucro e concentrando o seu programa no “modo de distribuição capitalista”.
O problema é que não existe nenhuma maneira de estabelecer um modo de distribuição justo, se a produção, concentrada nas mãos das grandes empresas nacionais e multinacionais, seguir voltada para o lucro dos seus “proprietários” e não para satisfazer as necessidades da sociedade.
Mas sem expropriar as grandes empresas e romper com a sangria imperialista, não existe forma de distribuir riqueza.
E isto nos leva ao problema do poder político. Os governos, controlados pela burguesia, organizam toda a sociedade para servir aos interesses das grandes empresas, a produção não está voltada para satisfazer as necessidades da sociedade: existem famintos, não porque falta terra para plantar, senão porque existe concentração da propriedade da terra; falta transporte público não porque faltem fábricas para produzi-los, senão porque estão voltadas à produção de automóveis particulares.
“Realismo” e Reformismo
Somente podemos inverter esta relação com um governo dos trabalhadores, pois nenhum burguês vai conspirar contra os interesses da sua própria classe.
O capitalismo somente pode existir mantendo e aprofundando a exploração dos trabalhadores, dos camponeses e inclusive dos pequenos proprietários. Somente pode subsistir aumentando a desigualdade entre os países e dentro dos países, gerando guerras e genocídios como os do Afeganistão e agora na Palestina, e um outro genocídio que mata milhões pela fome e subnutrição todos os dias. Somente pode manter-se com o uso da força, pois não tem nada que oferecer à imensa maioria do planeta a não ser a destruição.
Os que se arvoram “realistas” dizendo que não há outra alternativa que reformar o capitalismo, quando chegam ao governo, continuarão sendo “realistas”: ante a impossibilidade de reformá-lo, acabarão governando para os capitalistas.