Alexa Figueiredo Ide, da Secretaria LGBTI do PSTU

Quando fechamos esse artigo fazia uma semana do início da 22º edição do programa Big Brother Brasil. Nessa edição, e tem sido da natureza desse Reality Show, um verdadeiro show de horrores de racismo, machismo e LGBTIfobia. Na última semana, a travesti negra, cantora, ativista e periférica Linn da Quebrada sofreu com discursos transfóbicos já nos primeiros dias de sua participação no programa. O que demonstra o caráter racista e transfóbico do mesmo.

Dois ataques e constrangimentos transfóbicos a Linn da Quebrada

No último sábado a mesma recebeu um torpedo anônimo, em um telão, o que é importante frisar, se referindo a ela pelo masculino: “Você está solteiro? Tem alguém perguntando aqui”.

Por que esse episódio seria de transfobia? Para as pessoas Transexuais, Travestis e Não Binários ser chamada ou chamado pelo gênero no qual não nos identificamos é muito mais do que uma brincadeira, um erro ou lapso. Trata-se de uma forma de violência, porque um dos discursos cotidianos dos reacionários LGBTIfóbicos é o de negar nossa identidade de gênero. Dizer, por exemplo, que uma travesti e uma mulher transexual são na verdade homens cisgênero é uma prática que pode trazer muito sofrimento, adoecimento e tristeza.

Cabe lembrar que, em muitos espaços da sociedade, as pessoas transgênero não são chamadas pelo seu nome social ou pelos pronomes corretos, no caso da Linn Ela/dela. Algumas vezes, a recusa em usar o nome social e se referir com os pronomes corretos é motiva por transfobia.

Outro episódio de transfobia, dessa vez ainda mais escancarado, foi a fala do participante Rodrigo Mussi se referindo a Linn como “traveco”. O restante da fala dele, que também não cabe expor aqui de tão inescrupulosa, também hiperssexualiza a cantora quando resume sua pessoa a um pedaço de carne. O termo “traveco” é totalmente condenado por muitas LGBTI trabalhadoras, primeiro porque é uma referência masculina, mas também se trata de uma palavra humilhante e pejorativa.

As situações descritas acima revelam algo que atinge a população Transgênero trabalhadora: não ter sua identidade de gênero respeitada e ser vista, constantemente, como objeto sexual. No caso da Linn a situação ainda se agrava, pois ela é negra e periférica, por isso os discursos transfóbicos se combinam ao racismo e o machismo.

Mesmo que a ofensa se apresente na fala de Rodrigo Mussi, a transfobia direcionada a Linn da Quebrada no BBB é uma responsabilidade, sobretudo, da Rede Globo. Trata-se de uma das maiores emissoras de televisão, está entre poderosas multinacionais e deveria impedir qualquer forma de opressão no jogo, visto a reprodução frequente de racismo, machismo e LGBTIfobia  entre participantes.

É importante lembrar que a LGBTIfobia no BBB não é uma novidade. Na 21º edição do programa o ator Lucas Koka Penteado sofreu com um comentário bifóbico da participante Lumena, após beijar o Gilberto (Gil do Vigor) em uma festa, causando muito sofrimento e por fim a desistência do ator da competição.

BBB um espelho distorcido da exploração e opressão capitalistas

O Big Brother Brasil apresenta essas cenas de machismo, racismo e LGBTIfobia, não só pelo formato do programa, mas pelo fato dessas opressões estarem a serviço dos interesses da mídia burguesa e presentes no Capitalismo.

Nós do PSTU entendemos que os males vividos por setores oprimidos da classe trabalhadora, como as LGBTIs, é constante e histórica, porém toda essa violência está sempre a serviço da superexploração e do lucro da burguesia. Por isso, entendemos que a violência sofrida por Linn e milhões de Travestis se dá não só pela opressão histórica, mas porque é inerente ao capitalismo e de interesse da classe dominante.

Hoje, o Brasil é o país em que mais são assassinadas pessoas Trans, tendo um total de 175 transexuais e travestis em 2020. Onde 90% das Travestis e mulheres transexuais estão na prostituição segundo os dossiês da (Associação Nacional de Travestis e Transexuais- Antra). Continuamos também como o país onde mais ocorrem assassinatos motivados por LGBTIfobia.

Além desses dados importantes, devemos apontar aqui um responsável: a burguesia e os governos. Entendemos também que, para por fim à transfobia, é necessário destruir o capitalismo, sistema podre no qual os interesses do lucro dos bilionários é prioridade.

Precisamos trazer esperança e dignidade para a Travesti pobre, às mulheres transexuais, assim como toda população LGBTI, negra e feminina da classe trabalhadora, e construir uma nova sociedade, o Socialismo.  Onde entretenimento e cultura também estejam a serviço dos trabalhadores e dos ideais de solidariedade, liberdade sexual e de gênero.

(modificado em 28/01 às 13h)