Nikaya Vidor, da Secretaria LGBTI do PSTU

Na quinta-feira, 13 de outubro, o bolsonarista Onyx Lorenzoni, candidato ao governo do Rio Grande do Sul, abriu o horário gratuito para o 2º turno fazendo um ataque asqueroso contra seu concorrente, o bolsonarista “arrependido” Eduardo Leite (PSDB), que assumiu sua homossexualidade em julho passado: “os gaúchos e gaúchas terão um governador e uma primeira-dama de verdade, que são pessoas comuns”, disse Onyx.

Nós, do PSTU, nos opomos veementemente a estes dois representantes das elites em nosso estado e, por isso mesmo, estamos chamando o voto nulo no 2º turno. Isto, contudo, não significa que iremos aceitar qualquer manifestação de LGBTIfobia, mesmo contra um burguês com Eduardo Leite.

Uma ideologia a serviço da violência

A LGBTIfobia mata e não é um acaso que o Brasil seja um dos países onde se tem os maiores índices de assassinatos de lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, travestis, intersexos e outras expressões que rompem com a heteronormatividade.

Números que não param de crescer exatamente em função de falas como a de Onyx, típicas do discurso de ódio semeado pelo bolsonarismo e que colaboram, em muito, para humilhar, segregar, discriminar, desqualificar e desumanizar as LGBTIs, incentivando a violência (da psíquica-emocional à física) contra nós.

Vale dizer que diante do bombardeiro de críticas que explodiu nas redes sociais, os apoiadores de Onyx ainda ousam dizer que não há nada de preconceituoso na fala. Na sua essência, contudo, além de tentar ridicularizar Leite e seu companheiro, a fala é uma defesa de dois pilares do discurso LGBTIfóbico: a defesa de uma visão estreita e conservadora de “família” e a identificação de LGBTIs como “anormais” (disfarçado no termo “não comuns”).

Diante disto, denunciar Onyx e defender Leite é uma obrigação de todos e todas nós, inclusive porque, mesmo mirando em seu oponente, sabemos que este tipo de discurso acaba vitimando com muito mais freqüência as LGBTIs pobres e trabalhadoras, que não só somos a maioria, como também não temos as mesmas condições financeiras e sociais de Leite para nos protegermos dos ataques e da violência.

Defender Leite sem nenhum pingo de confiança ou apoio político

Evidentemente, condenar essa violência não significa, em nenhuma instância, apoiar Eduardo Leite. Por isso, fazemos nossas as palavras de Rejane de Oliveira, que foi candidata ao governo gaúcho pelo PSTU e o Polo Socialista e Revolucionário, numa entrevista publicada na última edição do “Opinião Socialista” (leia a íntegra em nosso site.

“(…) A eleição no segundo turno está entre dois candidatos representantes do capitalismo, de profunda confiança da burguesia. Ônyx Lorenzoni (PL) e Eduardo Leite (PSDB) estiveram à frente de duríssimos ataques aos trabalhadores nos últimos anos. Leite se elegeu abraçado a Bolsonaro, depois procurou ser a “terceira via” burguesa, pelo PSDB nacional, e não conseguiu. Onyx teve participação direta no governo genocida de Bolsonaro e, aqui no estado, apoiou todas as reformas e ataques promovidos por Leite (…).”, destacou Rejane.

Apenas para exemplificar, Leite defende projetos de privatização, principalmente da Educação, e tais projetos atacam a classe trabalhadora de conjunto, aumentando o desemprego, impondo precarização e terceirização do trabalho e destruindo os serviços públicos, dos quais a classe trabalhadora  depende para viver, até mesmo porque a maioria está desempregada e não tem renda para pagar por serviços privados.

E, não por acaso, a situação é ainda pior quando, além de ser da classe trabalhadora, se é negro(a), mulher ou jovem. Um levantamento recente feito por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) aponta que 20 % das pessoas LGBTIs brasileiras (dentro daquilo que as estáticas conseguem detectar) estão desempregadas.

Punir Onyx, votar nulo e avançar na organização dos mais explorados e oprimidos

Mesmo que não tenhamos nenhuma confiança política em Leite, não se pode compactuar com a ofensa LGBTIfóbica que o atingiu. LGBTIfobia é crime e Onyx precisa pagar por essa discriminação. Porém, nada disso pode significar depositar confiança política em Leite. Muito menos fazer campanha para ele no 2º turno, como querem, também aqui no estado, os representantes da Frente Ampla de Lula-Alckmin.

Durante a semana, Manuela D`Avila, do PCdoB, anunciou seu apoio, afirmando que “anular o voto não constrói uma alternativa popular”. Já o diretório gaúcho do PT divulgou uma resolução, na segunda, declarando “nenhum voto em Onyx”, um jeito um tanto tímido, mas evidente, de apoiar Leite; o que, aliás, ficou óbvio quando, no dia seguinte, Tarso Genro e Olívio Dutra declaram abertamente o voto no tucano. Mesmo caminho, tudo indica, que deve ser seguido pelo PSOL e outros setores da Frente Ampla.

Para nós isto não só é um erro, como também o pior caminho para construir uma alternativa para a classe trabalhadora, principalmente nós, que, além de explorados pelo capitalismo, somos atingidos pela opressão machista, racista, LGBTIfóbica ou xenofóbica.

Um erro tão grave quanto o que está sendo feito pela Frente em escala nacional, e Lula, em particular, ao tentar se apresentar como uma alternativa ao bolsonarismo flertando com o conservadorismo, como ficou explícito na “Carta Compromisso aos Evangélicos”, em que o PT se compromete a não encaminhar nada ao Congresso que seja contrário aos “valores cristãos e da família”. Leia-se, coisas como a descriminalização e legalização do aborto ou a garantia de direitos LGBTIs, inclusive, em nossos legítimos arranjos familiares, incluso através da união-civil e da adoção de filhos.

Por isso, concluímos repetindo, aqui, o que a companheira Rejane também já declarou na entrevista mencionada: “(…) O PSTU está fazendo um chamado aos trabalhadores e trabalhadoras a não legitimarem nenhum deles. E organizarem, desde já, a luta e a oposição a esses governos! É necessária uma forte campanha pelo voto nulo e o desmascaramento dessas duas candidaturas da classe dominante. Só a revolta popular, a luta organizada da classe trabalhadora e a greve geral poderão derrotar os ataques, as privatizações e a violência promovida por esses governos. O PSTU está a serviço dessa luta e da construção de uma alternativa socialista e revolucionária (…).”