PSTU-SP
Ariana Gonçalves e Lucas Simabukulo*
No dia 15 de março, cerca de 60 mil trabalhadores, a maior parte professores, tomaram as ruas do centro de São Paulo. O protesto foi contra a reforma da Previdência apresentada pelo ex-prefeito Fernando Haddad (PT) e retomada pelo atual, João Doria (PSDB).
O chamado Sampaprev aumenta de 11% para 14% o desconto mensal para a Previdência nos salários dos servidores municipais. Esse percentual pode chegar a 19%. Também autoriza a criação de um sistema privado de Previdência. Na prática, dificulta o acesso à aposentadoria e reduz o salário já baixo dos servidores.
Os professores se destacam nas mobilizações contra o projeto. A greve da categoria, iniciada em 8 de março, tem o apoio majoritário da população e vem ganhando novas adesões.
NÃO TEM ARREGO!
Milhares vãos às ruas em resposta à repressão
No dia 14 de março, os professores entraram na Câmara de Vereadores e sofreram dura repressão da PM e da Guarda Municipal. A violência só aumentou a indignação. A cena da professora Luciana Xavier, que teve o nariz quebrado pela polícia, correu o país. Do lado de fora da Câmara, a polícia atacou os manifestantes com balas de borracha e gás lacrimogêneo.
As ruas se transformaram num campo de batalha. Os professores resistiram e enfrentaram as bombas. Também impediram que o carro de som do sindicato abandonasse o local. Ao som de “Não tem arrego!”, os professores retomaram as ruas e deram continuidade à mobilização. Doria declarou que repudia os abusos de violência, mas que defende o uso da força para reprimir os trabalhadores que tentaram “invadir” a Câmara.
Em resposta, no dia seguinte, milhares de trabalhadores, em sua maioria mulheres, interditaram as ruas da cidade. De cada dez escolas, nove estavam fechadas. O sindicato dos guardas municipais declarou que não concordava com a repressão e que não aceitaria atacar os colegas professores. Diversas entidades sindicais manifestaram apoio e solidariedade. Entre elas, a CSP-Conlutas e a Rede de Solidariedade Internacional.
A luta contra Sampaprev também ganhou um tempero amargo que ampliou a revolta: o assassinato de Marielle Franco (PSOL) e de seu motorista Anderson. Em passeata, os professores caminharam até a Avenida Paulista para participar do protesto contra as execuções.
Doria foi obrigado a recuar e adiou a votação do Sampaprev, mas não desistiu do projeto. É preciso ampliar a mobilização com uma greve geral dos serviços públicos e com a solidariedade das demais categorias.
ATAQUE AOS MAIS POBRES
Doria vai fechar unidades de saúde e cortar linhas de ônibus
Doria não ataca só as aposentadorias dos servidores. O prefeito riquinho anunciou o fechamento de 108 unidades de Assistência Médica Ambulatorial (AMA) e cortou R$ 2 bilhões do orçamento da Saúde. Isso afeta a maioria da população pobre, que depende do SUS e mora nas periferias, onde essas unidades serão fechadas.
Isso não é tudo. Após o aumento da passagem no início do ano (de R$ 3,80 para R$ 4), Doria anunciou que fechará 149 linhas e reduzirá o número de veículos. Hoje, o transporte que já é um caos, conta com 13.603 ônibus. Com a redução, passará para 12.667. A quantia atual já é insuficiente para atender a toda população. A redução vai aumentar a lotação dos ônibus e forçar os trabalhadores a fazerem mais baldeações, aumentando os custos da viagem.
O prefeito retira do Estado a responsabilidade pelos serviços públicos e a joga na mão dos amigos empresários. Esse desmantelamento dos serviços públicos e a desvalorização dos servidores têm por objetivo abrir as portas para a privatização.
Organizar a rebelião
Uma saída para resolver o caos na educação, na saúde e no transporte precisa inverter a lógica atual: assegurar os interesses da classe trabalhadora e acabar com os privilégios dos ricos. Isso não é possível no governo do PSDB, assim como não foi possível no governo do PT. É preciso assegurar a Previdência pública, estatizar o transporte para reduzir as passagens e aumentar a quantidade veículos. É necessário acabar com a terceirização na saúde e assegurar um serviço público de qualidade. O Estado tem de parar de dar isenções fiscais aos grandes empresários, deixar de pagar a dívida pública e investir esse dinheiro no bem-estar dos trabalhadores.
Isso só vai acontecer com muita luta. Por isso, é preciso organizar os de baixo contra os de cima. Para tanto, é preciso instituir conselhos populares nos bairros, nos quais a classe trabalhadora decida os rumos da cidade. Só assim será possível impor uma transformação social capaz de derrotar o sistema capitalista e os governos de plantão, uma rebelião a serviço da construção de uma sociedade socialista.
*Diretores do Sindicato dos Profissionais em Educação no Ensino Municipal de São Paulo (Sinpeem) pela oposição e membros do Coletivo Reviravolta na Educação