Dayse Oliveria, de São Gonçalo (RJ)

Dia 25 de julho é o Dia da Mulher Negra Latino e Caribenha. Já o 31 de julho é dedicado à mulher africana. Os antepassados das mulheres negras viviam na África. Muitos viraram escravos, lutaram contra a escravidão e conquistaram a libertação! Mulheres negras trabalhadoras trazem em suas peles, mesmo sem querer, a denúncia do racismo, do machismo e da LGBTfobia quando são LGBTs, além da exploração capitalista. Mulheres negras são as que mais estudam e menos recebem retorno financeiro com relação aos homens brancos, negros e mulheres brancas. (EL PAÍS 2019).

Há um número significativo de mulheres negras na Educação ocupando as funções de professoras e funcionárias de escola, principalmente no serviço público e nas escolas privadas de periferia. As escolas privadas burguesas e da classe média possuem um número muito pequeno de professoras negras. Nesse caso, pesam a combinação de machismo e racismo. Muitas dessas escolas registram a rejeição de professoras negras por crianças educadas dentro do modo racista e que inferioriza trabalhadores. A burguesia, além de ser a classe dominante, é majoritariamente branca e masculina. Mulheres negras trabalhadoras não têm pontos em comum com a burguesia. Isso facilita a rejeição de educadoras negras em escolas burguesas e da classe média alta. GOMES (1997)

As professoras negras estão majoritariamente nos segmentos da Educação que trabalham mais e recebemos piores salários, como a educação infantil e o primeiro segmento do ensino fundamental (antigo primário). À medida em que os níveis de escolaridade e o salários sobem, como o 2º segmento do ensino fundamental (antigo 5º a 8ª), ensino médio (antigo 2º grau), e nível superior, pós-graduação, diminui  consideravelmente o número  de professoras negras (Moema Teixeira 2006).

A competência da professora negra sempre é questionada independente de sua qualificação ou condição de concursada. Muitas vezes colocam essas professoras com alunos que apresentam maior dificuldade, cujas famílias não valorizam a educação para, assim, “comprovar“ sua falsa inferioridade profissional. Aparecida2008). Isso ocasiona rejeição de alunos mesmo em escolas públicas, quando não há uma unidade e organização dos profissionais de educação na unidade escolar. Esses problemas causam enfermidades da educação como stress, síndrome do pânico, síndrome de burnout em profissionais da educação. Essa escola capitalista adoece. Funcionárias de escola que geralmente possuem problema de coluna, pois sofrem nas cozinhas carregando panelas pesadas!

A Fundação Oswaldo Cruz fez uma pesquisa sobre a saúde dos profissionais de educação do Rio de Janeiro que gerou uma cartilha do SEPE-RJ (Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação). Foi comprovado que a vida útil de uma professora é de 10 anos, enquanto que a vida útil de uma funcionária é de 5 anos!

As funcionárias de escola pública em sua grande maioria são negras. As estatutárias estão diminuindo com a política de terceirização e privatização da educação pública. Isso é visível nas escolas públicas estaduais e do município de São Gonçalo, cidade em que moro. A precarização do trabalho das funcionárias e professoras contratadas torna essas profissionais alvo de vários assédios morais, atrasos de salários, falta de plano de carreiras. Muitas são alvo de violência física e sexual por serem as primeiras a chegar nas escolas e as últimas a saírem para garantir a limpeza e o fechamento da unidade sozinhas, sem segurança (O GLOBO 2014). Diante desses fatos, é fundamental todo o movimento de trabalhadores debater e defender a efetivação de terceirizados para combater a destruição da escola pública e de qualidade.

Escolas fechadas e suspensão do ano letivo para impedir o genocídio negro na Educação

Estamos vivenciando, neste momento, uma pandemia em meio a uma recessão econômica com possibilidades de se tornar uma depressão pior que a de 1929. Governos estaduais e municipais seguem Bolsonaro e escolhem negros, mulheres, LGBT’s e os setores mais explorados para pagarem pela crise. Esses governos aproveitam a pandemia para reduzir salários, retirar gratificações e demitir professoras e funcionárias! Bolsonaro já anunciou uma guerra de mídia para aprovar a reforma administrativa para acabar com a estabilidade no emprego de funcionários públicos estatutários. Isso aumentará mais ainda o número de mulheres negras desempregadas! Esse é o genocídio de fome e miséria capitalista que ataca todos os trabalhadores aplicando maior força sobre mulheres negras !

Além das demissões, prefeitos e governadores estão levando professoras e funcionárias de escola, que possuem um grande número de mulheres negras, para a morte com a ameaça de retorno das aulas, e o consequente aumento dos índices de mortos e infectados pela pandemia. Isso é pressão dos empresários que colocam o lucro acima da vida. Os donos de escolas particulares pressionam para volta às aulas. Por isso, é fundamental estatizar o ensino privado. Educação não rima com lucro! Estudantes que também contam com um grande número de meninas negras estão com suas vidas ameaçadas com a volta às aulas em plena pandemia. Diante dessa situação, é fundamental o movimento sindical, estudantil, movimento negro, movimento de mulheres entrarem na campanha pelas escolas fechadas. Ao lado  da violência das balas, professores, estudantes, incluindo meninas e mulheres negras da educação, estão expostas à morte dentro das escolas por conta da COVID-19! Escolas devem ficar fechadas! Sindicatos, CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores da Educação), devem decretar greve em defesa da vida contra o genocídio de trabalhadores e estudantes que apresenta um grande número de mulheres e meninas negras!

EAD exclui negros, negras e pobres!  Não à EAD!

EAD é o capital educando diretamente professores e estudantes por meio de plataformas, conteúdos, apostilas, vídeos pré-fabricados reforçando as ideias dominantes e conservadoras (EVANGELISTA,2020). A burguesia é majoritariamente branca e masculina e nunca foi interessada na emancipação intelectual de trabalhadores e no combate às opressões. EAD facilita o controle autoritário e ideológico sobre professores e estudantes, principalmente sobre as mulheres e meninas negras da educação. Diante desse fato, dificulta os debates sobre machismo, LGBTfobia e racismo.

Agora, este texto está sendo escrito no momento em que o pastor Milton Ribeiro assume o cargo como ministro da Educação. O novo ministro é adepto de castigos físicos, e também da escola com mordaça. Isso lembra a escravidão! Geralmente religiosos conservadores negam a ciência e não são aliados no combate ao machismo, racismo e LGBTfobia. Por essas razões, o Ensino deve ser laico! Temos que combater qualquer controle ideológico nas escolas! Essas censuras são facilitadas com o ensino individualizado, por meio de computadores fragilizando professores e estudantes principalmente mulheres e meninas negras.

A educação pública é um dos setores que mais empregam mulheres negras, além do serviço doméstico. O projeto de EAD, quando substitui aulas presenciais pelo ensino remoto que é a versão duplamente piorada de EAD, significa demissão sumária de professoras e funcionárias de escolas! Muitas trabalhadoras de educação incluindo funcionárias, e também professoras negras demitidas estão tendo problemas para receber o auxílio! Essa é a exclusão por meio de demissão.

Muitos professores, por conta do arrocho salarial, não possuem computadores e internet para trabalhar nas plataformas. Recentemente, o secretário de educação do Rio de Janeiro anunciou que os professores que não entrassem na plataforma receberiam falta. Esse problema também atinge estudantes. Vários alunos pobres, inclusive diversas estudantes negras, estão impossibilitadas de assistir aulas por não possuírem banda larga e computadores. Não tiveram aula para ter ENEM. Por isso o ENEM deve ser cancelado. Meninas negras e pobres, estudantes trabalhadores  também  têm direito à educação incluindo a universidade! Isso é quase que a volta à escravidão que proibia escravos de estudarem! Todos merecem ter educação! A pandemia da COVID-19 e a crise econômica evidenciam o caráter cada vez mais desumano, lgbtfóbico, machista e racista do capitalismo!

Essas meninas e mulheres negras trabalhadoras, junto aos demais trabalhadores, têm mantido a creche e a escola pública de pé contra os ataques dos governos. Uma educação emancipadora, sem machismo, lgbtfobia e racismo, sem demissões  e genocídios, só será possível quando a educação estiver sob o controle dos  trabalhadores da educação que é composta majoritariamente de mulheres negras. Isso é uma proposta socialista! Essa proposta será fruto de organização e luta que inicia nas escolas, nas salas de professores, nas cozinhas, nos grêmios, nas lutas unificadas, nas greves gerais rumo à revolução socialista. Isso acabará com o arrocho salarial, com os assédios, autoritarismo, genocídios e com as demissões. Assim teremos uma vida e educação de qualidade para todos

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Aparecida Eva; A “competência” da mulher negra professora. FAZENDO GÊNERO 8 – CORPO, VIOLÊNCIA E PODER Florianópolis, de 25 a 28 de agosto de 2008 http://www.wwc2017.eventos.dype.com.br/fg8/sts/ST1/Eva_Aparecida_da_Silva_01.pdf

Em Porto Velho, funcionária de escola estadual sofre tentativa de estuprohttp://g1.globo.com/ro/rondonia/noticia/2014/02/em-porto-velho-funcionaria-de-escola-estadual-s

OLINDA EVANGELISTA & MARILEIA SILVA. Do massacre ao lucro: a tragédia da escola pública.ttps://www.youtube.com/watch?v=gga1-2zSgV8&feature=share&fbclid=IwAR0lqupmQ43Yod_4ULXQlog96zRSSF5qm8KVbC8ItwUTSKJ52-71gj3VnaU  2020

GOMES, Dayse Oliveira .Presença da mulher negra na imprensa no ano do centenário da abolição da escravidão. Niterói,RJ 1997.Monografia .Graduação em História,Universidade Federal Fluminense.

Mulheres negras recebem menos da metade do salário dos homens brancos no Brasil https://brasil.elpais.com/brasil/2019/11/12/politica/1573581512_623918.html

TEIXEIRA, Moema de Poli. A Presença negra no magistério: Aspectos quantitativos. In: OLIVEIRA, Iolanda de (Org). Cor e Magistério. Rio de Janeiro: Quartet; Niterói: EdUUF, 2006.