Herbert Claros, de São José dos Campos (SP)
Na ultima quinta-feira (30), ocorreu uma reunião de negociação entre o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e a Embraer. A empresa anunciou que irá abrir um novo Programa de Demissão Voluntária (PDV) para todos os trabalhadores da fábrica. É o segundo apresentado pela empresa dentro de um mês.
A proposta é que até o dia 14 de agosto os trabalhadores interessados possam aderir ao PDV que tem os mesmos moldes do que foi apresentado no início de julho. Entre as propostas da empresa estão:
– Indenização adicional de 10% sobre o salário nominal por ano trabalhado.
– Plano médico por seis meses.
– Auxílio-alimentação por seis meses (valor de R$ 450).
O sindicato é radicalmente contra o PDV apresentado pela empresa. Além de oferecer incentivos irrisórios, a entidade repudia a maneira como a Embraer tem conduzido as negociações. A fabricante de aeronaves se nega a divulgar o número de funcionários que aderiram ao último PDV e os objetivos de corte de funcionários.
O sindicato exigiu a estabilidade no emprego para todos os trabalhadores que não aderirem ao PDV. No entanto, os negociadores da empresa afirmaram que não se comprometem com a manutenção dos postos de trabalho.
Assim, o sindicato faz o alerta a todos os companheiras e companheiros da Embraer. Ao que tudo indica, o interesse da empresa é iniciar um processo de demissão em massa.
O trabalhador não deve pagar pelas estratégias equivocadas adotadas pela direção da Embraer ao se entregar para a Boeing. Nos últimos três anos, não houve investimentos em projetos de novas aeronaves.
Um estudo do ILAESE a partir da análise dos demonstrativos financeiros da empresa, demonstram que ela possui sólidas condições de enfrentar a crise atual em meio à pandemia sem jogar o ônus para os trabalhadores. A Embraer possui um caixa capaz de arcar com os salários dos trabalhadores por três anos.
Hoje, por conta da pandemia, estão trabalhando na fábrica cerca de 1/4 dos trabalhadores, outra parte está de licença remunerada e outros em home office.
O sindicato tem realizado lives através das mídias sociais para manter os trabalhadores informados e assim em estado de mobilização caso a empresa avance nos planos de ataques aos trabalhadores como tentativa de retirada de direitos e ou mesmo demissões.
A única alternativa para os trabalhadores é lutar por seus empregos. O exemplo dos metalúrgicos da Renault no Paraná devem inspirar todos os trabalhadores que hoje sofrem com a ameaça de demissão em meio à pandemia.
Ajuda do governo somente para grandes empresas
A Embraer, como outras grandes empresa no país, tem recebido ajuda do governo, tanto através das medidas provisórias que flexibilizaram direitos e permitiram redução de salários com a justificativa de crise por conta da pandemia como também muitas destas empresas estão tendo benefícios com desonerações de impostos e até empréstimos de bancos públicos.
Na semana passada a empresa foi beneficiada com o anúncio de um empréstimos de cerca de R$ 1,6 bilhão de cinco bancos, inclusive do Banco do Brasil. A empresa também já recebeu a aprovação de outro empréstimo no mesmo valor do BNDES.
Desde que foi privatizada, a Embraer já recorreu diversas vezes ao auxílio do Estado. Foram mais de R$ 100 bilhões dos cofres públicos aplicados na empresa. Este dinheiro é algo próximo a 20 vezes ao que seria pago pela Boeing para comprá-la. Só o BNDES já concedeu mais de R$ 85 bilhões.
O uso de verba pública para garantir os lucros dos acionistas da Embraer confirma aquilo que o sindicato defende há anos: é possível e necessário reestatizar esse patrimônio nacional. O governo não pode sustentar uma empresa privada e, ao mesmo tempo, abrir mão da soberania e da preservação de empregos.
É por isso que o sindicato hoje leva à frente com demais organizações a campanha pela reestatização da Embraer sobre o controle dos trabalhadores.
Um projeto de lei que autoriza o Governo Federal a tornar a fabricante de aviões novamente estatal já tem a adesão de 54 parlamentares, que assinam como coautores.
Os próprios números de empréstimos e benefícios fiscais que a empresa recebe do governo demostram a necessidade concreta de reestatização da empresa. Somente desta maneira é possível garantir empregos e o futuro da indústria aeronáutica do país.