Em uma surpreendente entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, o presidente da Vale, Roger Agnelli, defendeu a “flexibilização temporária” de direitos trabalhistas e revelou que conversa sobre o assunto com o presidente LulaA Vale foi mais uma das empresas atingidas pela crise econômica mundial. A diminuição das exportações de minério de ferro para a China – maior consumidor do mundo – fez com que a empresa anunciasse recentemente uma redução de sua produção em 30 milhões de toneladas de minério, o equivalente a 10% do total produzido. Junto a isso, a empresa anunciou que pretende demitir 1.300 funcionários e deu férias coletivas para 5,5 mil trabalhadores.
Mas, na entrevista do dia 14, o presidente da Vale deixou claro que as férias coletivas não bastam. É preciso demitir para assegurar os lucros dos acionistas. “A gente coloca uma outra turma em férias coletivas. Depois outra. A gente pode levar isso por um certo tempo, mas tem limite. O que faremos quando todo mundo já tiver tirado férias? (…) Se houver problemas para os quais a gente não tenha solução, vamos ter de demitir. Olha, estamos vivendo uma situação de exceção. Para lidar com ela, precisamos tomar medidas de exceção.”
Questionado sobre quais seriam as “medidas de “exceção”, Agnelli foi taxativo: “Eu tenho conversado com o presidente Lula no sentido de flexibilizar um pouco as leis trabalhistas. Seria algo temporário, para ajudar a ganhar tempo enquanto essa fase difícil não passa”. Ele ainda completou: “O governo e os sindicatos precisam se convencer da necessidade de flexibilizar um pouco as leis trabalhistas: suspensão de contrato de trabalho, redução da jornada com redução de salário, coisas assim, em caráter temporário” .
São de enorme gravidade as declarações do presidente da Vale. Se adotadas, a medida não significaria apenas um golpe contra os direitos dos trabalhadores da Vale, o que já seria muito grave. Estaria aberta uma via para que outros patrões adotassem medidas semelhantes e atacassem os direitos dos trabalhadores de qualquer empresa.
E, o pior de tudo. Segundo Agnelli, tudo isso estaria sendo discutido e negociado com o próprio presidente Lula.
Qual é o conteúdo das conversas entre empresários e o presidente? Retomar os debates sobre a reforma trabalhista, que pretende enterrar direitos dos trabalhadores como férias e 13º salário?
O silêncio de Lula
O presidente deveria vir a público esclarecer se há um plano do governo para flexibilizar os direitos. Não é possível que Agnelli faça uma declaração desse tipo, sem que o presidente sequer faça um pronunciamento. Não se trata de um empresário qualquer, mas o mais importante do país, a frente da empresa responsável pela maior parte do saldo das exportações brasileiras.
Ao silenciar sobre o episódio, o governo apenas confirma os alertas feitos anteriormente, de que as reformas sindicais e trabalhistas estariam em seus planos.
Os trabalhadores e suas organizações devem preparar-se para grandes batalhas. Os patrões e o governo tentarão jogar a conta da crise sobre as nossas costas. Segundo pesquisa divulgada pelo jornal Folha de S. Paulo, 42% dos empresários cogitam demitir no próximo período, como forma de cortar custos.
Saídas como essa, de redução de salário e direitos, nada mais são do que chantagens. Propõe-se a destruição de direitos históricos, o rebaixamento dos salários para uma suposta “preservação” dos postos de trabalho. Mas o que são mantidos são os lucros de grandes multinacionais, como a Vale.
Tampouco é possível se deixar iludir pelo caráter “temporário” proposto por Agnelli, como farão muitos sindicatos governistas. O temporário certamente se transformará em “eterno”. Os patrões sempre encontrarão motivos para reclamar de seus lucros.
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