No mês de março, o Pearl Jam, banda de rock de Seattle, Estados Unidos, passou pelo Brasil pela quinta vez. O grupo mostrou que continua fiel às suas origens e às suas manifestações polêmicas no palco.
Os anos 1990, de onde não esperávamos nada de muito bom, deram-nos o grunge e, junto com ele, o Pearl Jam. A banda está na ativa há 28 anos. Formado por Eddie Vedder (vocais), Stone Gossard (guitarra), Mike McCready (guitarra), Jeff Ament (baixo) e Matt Cameron (bateria), o Pearl Jam tem como uma de suas marcas registradas o engajamento político e a tentativa de correr por fora do mercado musical.
No Brasil
Antes de se apresentar no Rio, o cartaz de divulgação já causou polêmica. A ilustração de Ravi Amar Zupa homenageia os moradores dos morros. O pôster exibe três aves – um tucano, um papagaio e um bem-te-vi – armadas com fuzis diante de uma favela.
Antes de cantar a nova música “Can’t deny me”, Eddie Vedder mirou em Donald Trump, presidente dos EUA: “Tem uma coisa boa que acontece quando seu país tem um líder terrível: isso faz com que as pessoas se deem conta de que precisam se unir e tornarem-se líderes.” E completou: “Eu sei que nosso país é semelhante ao de vocês em muitas coisas. Há muita merda acontecendo, e estamos tentando mudar isso.”
Em São Paulo, teve mais protestos, interação com o público e a participação surpresa de Sérgio Vedder, vocalista da Blaymorphed, cover do Pearl Jam no Brasil. Eddie Vedder se manifestou a favor das mulheres: “só os homens fracos não apoiam as mulheres.”
A defesa do meio ambiente não podia faltar. A música “Better Man” foi dedicada à luta contra o desmatamento da Amazônia, e um vídeo foi exibido. Por sinal, o guitarrista Stone Gossard aproveitou a passagem por aqui para fazer um passeio na Amazônia.
Não foi a primeira vez que o grupo se posicionou sobre o Brasil. Em 2015, quinze dias depois do desastre ambiental de Mariana (MG), Eddie Vedder declarou durante um show em Belo Horizonte: “Acidentes tiram vidas e destroem rios. E ainda assim eles conseguiram lucrar.” Ele exigiu punição aos responsáveis, e a banda doou US$ 100 mil às comunidades atingidas.
Histórico
A cara politizada do Pearl Jam está evidente não só nas declarações nos palcos, mas também em campanhas e ações práticas. Para começar, a banda é conhecida pelo que alguns críticos chamam de autossabotagem por se recusar a seguir as regras da indústria musical.
Em 1994, o Pearl Jam começou um boicote à Ticketmaster, responsável pela venda de ingressos, após saber que a empresa cobrava uma taxa de serviço. Além disso, a banda definiu um limite de preço dos ingressos. Também se recusou a gravar videoclipes durante anos e deixou de ir a programas de TV.
As temáticas individuais de crises adolescentes, características do grunge, evoluíram para a crítica direta ao sistema capitalista. Em 2003, em protesto à guerra do Iraque, Eddie Vedder pisoteou sobre uma máscara de George W. Bush no palco. Os protestos também estão registrados em músicas como “Bushleaguer”, “World Wide Suicide” e na recém-lançada “Can’t deny me”. Essa última refere-se a Trump: “Você planta suas sementes mentirosas/ Veja como as raízes tomam conta/ O país que você está envenenando agora.”
O Pearl Jam é um dos defensores do movimento pró-escolha, dos EUA, pelo direito ao aborto. Em 1992, Eddie Vedder escreveu um artigo para a revista de música Spin em que diz: “(…) isso não é apenas uma questão feminina. São os direitos humanos. Se fosse o corpo de um homem e este fosse seu destino, estaríamos decidindo que não haveria nenhum problema.”
A defesa do meio ambiente é parte da história da banda. Em 2001, o Pearl Jam foi nomeado “Defensor do Planeta”. Em 2003, a banda passou a calcular a quantidade de dióxido de carbono das turnês com base em transportes aéreo e por terra e até no número de fãs de cada show. A partir desse cálculo, destina parte dos lucros a projetos ambientais como forma de compensação.
Em 2006, o Pearl Jam criou a Vitalogy Foundation, uma organização sem fins lucrativos de apoio a outras organizações “que realizam trabalhos louváveis nas áreas de saúde comunitária, meio ambiente, artes e educação e mudança social”. A arrecadação de fundos é feita pela própria banda em forma de doações. Não são aceitas doações de empresas, a menos que solicitadas.
Se é verdade que a arte deve ser livre e anárquica, também é verdade que o artista reflete a realidade em que vive. O engajamento não é, em hipótese nenhuma, condicionante para a apreciação da arte. Contudo, todo artista é formador de opinião em potencial, cumprindo um papel de grande responsabilidade. Para o bem ou para o mal.
O Movimento Grunge
O grunge não foi só um estilo musical: foi um movimento que, a partir da música, fez surgir um estilo de vida que marcou os anos 1990 e entrou para a História. Foi um “Dane-se!” para a sociedade. Representava uma juventude angustiada e revoltada com o sistema. Angústia, depressão, crises existenciais eram a temática das letras, que, rapidamente, incluíram o questionamento direto ao sistema.
As principais influências musicais foram o heavy metal e o hardcore. Entre o punk já meio desgastado e o excêntrico glam metal, o grunge surgiu na contramão de tudo. Começou a declinar em 1994, com a morte de Kurt Cobain, vocalista do Nirvana. Pearl Jam, Nirvana, Soundgarden e Alice in Chains são consideradas as principais bandas grunge.