Compositor morreu no dia do aniversário, quando completava 77 anos | Foto: Walda Marques/Divulgação

Roberto Aguiar, paraense radicado em Salvador (BA)

Às 19h45, no Hospital Porto Dias, em Belém, o coração do músico, poeta e compositor paraense Paulo André Barata parou de bater. No dia em que completava 77 anos de vida, o filho do grandioso poeta e compositor Ruy Barata (1920-1990), nos deixou. A música da Amazônia perdeu um dos seus maiores expoentes.

A morte de Paulo André Barata foi confirmada pelo irmão Tito Barata em uma postagem nas redes sociais:

“Partiu para o céu infinito. Foi músico e compositor paraense de quatro costados. Torcedor do Paysandu e do Fluminense. Amou os animais e cantou a Amazônia. Dedicou sua vida à criação artística e ao bem comum”.

Carreira

Paulo André Barata nasceu em Belém do Pará no dia 25 de setembro de 1946. Desde menino se encantou pelo mundo da sonoridade e das letras. Aprimorou o talento musical no Conservatório Carlos Gomes. Teve seu pai, Ruy Barata, como fiel parceiro. Juntos, compuseram canções que ganharam o Brasil e o mundo na voz de Fafá de Belém.

Em “Tamba-tajá” (1976), primeiro disco de Fafá de Belém, estão registradas as canções Indauê Tupã e o clássico carimbo Esse Rio é Minha Rua. Originalmente, as canções tinham sido compostas para a trilha sonora do filme de “Brutos Inocentes” (1973), Líbero Luxardo.

Em seu segundo disco – “Água” (1977) – Fafá de Belém volta a gravar composições de Paulo André Barata e Ruy Barata. É quando ela ganha sucesso no cenário musical brasileiro com o bolero Foi Assim e com a canção rural Pauapixuna.

Emocionada, Fafá de Belém postou nas redes sociais: “Nada que eu fale ou escreva será do tamanho da minha dor. Recebo atordoada a notícia da partida de Paulo André Barata. Estou embarcando de volta ao Brasil, depois de uma semana em que conseguimos falar de Amazônia através dos olhos dos Amazônidas. Onde conseguimos – julgo, pela primeira vez, cantar a Amazônia por cantores, compositores, e a música do nosso Pará”.

E completou: “Eu tô completamente atordoada, porque algumas pessoas nós nunca imaginamos que irão embora da nossa vida. Há quase 50 anos, junto com Paulo André e Ruy, nós abrimos clareiras, nós rompemos matagais descalços com o facão afiado da poesia de Ruy e a música de Paulo André. Juntos, nós recolocamos um estado chamado Pará na rota do Brasil”.

Fafá de Belém com os compositores Paulo André e Ruy Barata | Foto: Reprodução/Instagram

Outras parcerias

Paulo André Barata também compôs canções com diversos artistas consagrados como o baiano José Carlos Capinan; os paraenses João de Jesus Paes Loureiro e Nilson Chaves; o acreano João Donato e outros.

Seu dois primeiros discos – “Nativo” (1978) e “Amazon River” (1980) – foram aclamados pela crítica especializada. O terceiro disco foi lançado somente em 1990 – “Paulo para sempre Ruy”. Uma declaração de amor e respeito ao pai, Ruy Barata. Em 1997, lançou “Projeto Uirapurá: O Canto da Amazônia”, onde interpreta diferentes ritmos musicais.

Na última quinta-feira, dia 21, chegou às plataformas digitais uma bela homenagem a Ruy Barata e Paulo André Barata: o álbum A música de Paulo André e Ruy Barata, produzido pela gravadora Biscoito Fino, que ganhará edição física (CD duplo) em breve.

O disco é composto por um elenco estelar. Além de artistas paraenses, como Fafá de Belém, Leila Pinheiro, Vital Lima, Jane Duboc, Pinduca e Dona Onete, conta com a participação de Mônica Salmaso, Maria Rita, Zé Renato, Joyce Moreno, Áurea Martins, Zeca Baleiro, Zeca Pagodinho, jogos de casino com bonus de registo, Lia Sophia e dupla Alexandre Gois e Joaquim Pessoa, entre outros intérpretes. Ouça aqui.

Um canto à Amazônia

Paulo André e Ruy Barata cantam o seu lugar. São canções lindas, cheias de poesias e de amor à Amazônia. Elas cantavam sobre e para a sua aldeia. E, cantando seu lugar tornara-se universal.

Talvez, a melhor tradução da obra genial dos dois esteja em um dos versos da canção Porto Caribe, composta por eles: “Eu sou de um país que se chama Pará”.

Para Ruy Barata, “a chamada letra regional é sempre uma letra política. O opressor sempre impõe a sua linguagem. O regional foge a essa imposição”. Afinal, canta a tua aldeia e serás universal.

Paulo André Barata agora canta lá em cima, junto a Ruy Barata. Entre nós, seguirão suas canções de amor ao povo Amazônida. A nós, cabe a missão de deixar viva a arte por eles cultivadas.

A despedida a Paulo André Barata está sendo realizada no Theatro da Paz, o templo maior da arte e da cultura paraense. Não poderia ser em outro local. O enterro será amanhã (26/09), no Cemitério Santa Isabel!

Adeus, Paulo André Barata! (1946-2023)