Secretaria Nacional LGBT
Debbie Leite e Gabriela Hipólito, da Secretaria Nacional LGBTI+ do PSTU
Três milhões de pessoas tomaram a Avenida Paulista no último domingo, dia 19 de junho, na Parada do Orgulho LGBTI+. Entre a música e a festa tão esperadas, após dois anos em que a pandemia impediu o evento, era visível a revolta contra a miséria e a violência vividas pelas LGBTI+s, expressa nos gritos de “Fora Bolsonaro!”
Governo da fome e do ódio
O país palco da maior Parada do Orgulho do mundo também é o que mais mata LGBTI+s, principalmente pessoas trans. Quando não são os crimes de ódio, é a fome, o desemprego ou o adoecimento mental que nos tira a vida.
Bolsonaro não foi apenas negligente, mas incentiva a intolerância e o ódio. Foi também o responsável pelo aumento do custo de vida e a precarização, que atingem com mais força os setores oprimidos da classe. Assim, não restam dúvidas que esse governo é nosso principal inimigo.
Votar com orgulho é apoiar um projeto socialista
Apesar da revolta expressa pela multidão nas ruas, a política da organização da Parada está longe de representar essa luta. Com o tema “Vote com Orgulho, por uma política que representa”, a direção da Parada queria canalizar toda essa revolta para as eleições, como se fosse possível derrotar o projeto autoritário e LGBTIfóbico de Bolsonaro apenas com o voto.
Não será um “voto útil” em Lula/Alckmin, aliado a empresários e banqueiros, que mudará nossa vida. Não podemos esquecer dos 13 anos de governos petistas, que, em nome da governabilidade, abandonaram nossas reivindicações, engavetando o Projeto de Lei (PL) 122 que criminalizava a homofobia e vetando o kit anti-homofobia nas escolas.
Nas últimas eleições houve recorde de candidaturas LGBTI+ disputando uma vaga no Parlamento. É verdade que, apesar de os setores oprimidos serem uma maioria na sociedade, nos espaços de poder somos uma ínfima minoria, excluída. Porém, perguntamos, com qual programa e estratégia é útil ocupar esses espaços?
A vereadora Erika Hilton (PSOL-SP), recordista de votos e reconhecida ativista trans, é uma das responsáveis pela mercantilização dos nossos espaços de luta, trazendo trios de boates e empresas supostamente friendlys à Parada e para a Feira Trans.
Nós, do PSTU, apresentamos candidaturas através do Polo Socialista e Revolucionário, pois acreditamos que o empoderamento das LGBTI+s não se dará pela ascensão individual.
A professora Flávia, pré-candidata a vice-governadora, deixou o recado: “Precisaremos seguir na luta, junto da nossa classe, para enfrentar o desemprego, a fome e a miséria. E para isso, não vai ter mágica, não basta votar na urna e esperar que tudo se resolva, a gente precisa desconfiar dessas promessas. A nossa vida só vai mudar quando a nossa classe, com os setores oprimidos, mulheres, negros e negras, LGBTI+s, fizermos uma revolução neste país.”
Mudar a realidade
Nossa voz ecoará das ruas
Nós, LGBTI+s, somos um dos setores mais marginalizados no capitalismo. E sabemos que, diante das profundas crise e barbárie, qualquer conquista é uma vitória. Contudo, cada conquista pode retroceder a qualquer momento enquanto vivermos nesse sistema de opressão e exploração, em que os lucros dos capitalistas estão acima das nossas vidas.
É crucial que as LGBTI+s tenham emprego, moradia, estudo, saúde pública e o mais importante: o direito a viver. Mas mesmo esses direitos tão básicos não serão garantidos plenamente através dessa falsa democracia. A aparente inclusão propagandeada por aqueles que lucram com o “mercado pink” na verdade mascara um sistema que não pode ser reformado. Isso é o que mostram os dados sobre as mortes violentas de LGBTI+s: um aumento de 33% em 2021; assim como a situação da mulher no mercado de trabalho: em dois anos de pandemia, 30 anos de retrocesso nos postos de trabalho e direitos.
Para uma transformação real de nossas vidas precisamos unir forças e lutar com uma política independente e revolucionária. Foi nesse marco que constituímos nosso bloco na concentração da Parada, com panfletos, intervenções, palavras de ordem e muita música.
Resgatar Stonewall
Explodir o armário e o capitalismo
Infelizmente, a apropriação pelas empresas e boates tem transformado a Parada num verdadeiro festival de privatização e marketing. Até os trios elétricos carregam o nome das empresas que a financiam: Amstel, Burger King, Vivo. A Prefeitura, pouco preocupada com nossos direitos ao longo do ano, muito se importa com a verba do turismo que circula durante o evento, e é por isso que também o financia.
É preciso resgatar a história das Paradas que surgiram tendo como referência a Revolta de Stonewall, quando em um bar em Nova York centenas de LGBTI+s, em sua maioria negras e imigrantes, resistiram bravamente por quatro dias contra a repressão policial e por liberdade sexual.
É necessário retomar esse espírito de luta e ir além, pois não existe “política que representa” dentro do capitalismo, esse sistema de desigualdade e exploração. Só teremos direito à mais plena liberdade de expressar nossa orientação sexual e identidade de gênero construindo uma sociedade socialista!