João Conceição

O mundo assiste atônito ao cessar-fogo de mais uma ofensiva do estado israelense contra os mais de 4 milhões de palestinos que vivem em Gaza e na Cisjordânia. Desde 10 de maio, foram pelo menos 232 mortos nos territórios palestinos (entre eles, 65 crianças e jovens), e 12 mortos do lado da invasão israelense, em um processo violento de despejo de palestinos do bairro Sheikh Jarrah em Al-Quds pelas forças militares de Israel. 11 dias de uma chacina a céu aberto, motivo pelo qual o cessar-fogo foi comemorado, mas com muito luto.

Os ataques são ainda mais cruéis, pois aconteceram na semana que se completa 73 anos da Nakba (a catástrofe Palestina iniciada em 1948, com a expulsão e despejo do povo palestino e a criação do estado de Israel), e no momento em que os muçulmanos comemoram o período religioso do Ramadan. Ou seja, já são quase 8 décadas de ataques em que os palestinos perderam dezenas de milhares de vidas. E ainda hoje, nem mesmo em um momento de resguardo religioso, existe paz.

Netanyahu, o primeiro-ministro Israelense processado por corrupção, fraude e abuso de poder, é quem dirigiu esse massacre, que segundo ele obteve um “êxito excepcional”. Em meio a crise política de seu governo, ele afirmou que estava “determinado a continuar esta operação até que seu objetivo seja alcançado”. Ou seja, aproveita o momento de crise para avançar ainda mais o plano de anexações e extinção do território palestino por completo, tentando remendar a estabilidade política que sobrou e recrutar popularidade.

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Precisa ser denunciado amplamente que é a partir do “Domo de Ferro” de Israel que a grande mídia compra e espalha a falsa narrativa nos meios de comunicação de que esse conflito é uma guerra contra o terrorismo. Não é. A luta do movimento de libertação nacional palestino contra a ocupação israelense é uma luta legítima contra o colonialismo, que existia antes, continua, e infelizmente vai continuar existindo para além do Hamas, da Jihad Islâmica e de qualquer outro grupo mal-chamado “terrorista”.

Repetimos que o que acontece na Palestina é um massacre, porque todos os dias, sem parar, o governo Israelense usa de uma força desproporcional, com ou sem o uso de mísseis, para conseguir o que quer. Com o pacto de morte entre Israel, Bolsonaro e o imperialismo dos Estados Unidos, esse estado trucida vidas inclusive de crianças e jovens palestinos. Israel destrói o próprio direito à vida, à juventude, ao futuro de um povo. Isso se chama genocídio.

Sionismo “de esquerda”: de mãos dadas ao massacre! 

Apesar dessas quase oito décadas de projeto colonial, há quem ainda defenda uma saída mediada de dois estados. E aqui precisamos abrir uma polêmica dura dentro da esquerda. Sionismo é racismo, limpeza étnica, apartheid, bloqueio econômico e comercial, assassinato em massa, preconceito religioso, invasão territorial, prisões ilegais. O sionismo pode ser adjetivado como quiserem, podem “pintar” de “vermelho comunista”, tentar colá-lo à esquerda… Mas continua sendo uma ideologia racista, utilizada para subjugar e oprimir um povo sob outro. Isso está na sua origem e sionismo é continua sendo sionismo.

Por isso, o movimento de indivíduos que se dizem “sionistas de esquerda” surgido nos últimos anos não se sustenta. São os mesmos que defendem a proposta irracional de “coexistência pacífica” de dois estados (Israel e Palestina), ou que já defendem descaradamente a proposta aberrante de manutenção de um estado Israelense soberano que abra mão da sua natureza racista, invasora e assassina. Um movimento desses não pode ser chamado de “esquerda” e tem que ser repudiado.

É por isso também que o centro do debate deve ser a própria natureza do Estado de Israel. Para alguns, é um estado de bem-estar social, estado democrático de direito. Seria o paraíso para as LGBTs, conforme defendem alguns ativistas do “pinkwashing” (falsa defesa e cooptação dos movimentos pelos direitos das LGBTs, para tentar encobrir os crimes de Israel), e também um governo preocupado com a vacinação do seu povo, conforme propaga a grande imprensa. Para a imensa maioria do povo palestino, desde 1948, é um estado terrorista de aniquilação, que hoje se utiliza do apartheid para dizimar ainda mais os palestinos durante a pandemia (foram pouquíssimas vacinas distribuídas para os palestinos). O mesmo “estado democrático de direito” israelense é o estado terrorista de Israel!

Por outro lado, crescem em vários lugares do mundo a aliança do movimento de israelenses e judeus anti-sionistas em apoio ao povo palestino, como o Neturei Karta, o Jewish Voice for Peace e tantos outros que são aliados de luta do povo palestino – seja por motivos políticos ou religiosos. Esse é o único caminho que a luta pela paz, justiça e liberdade dos palestinos pode seguir. Toda solidariedade internacional como essa deve impulsionar o movimento BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções), fortalecer os palestinos na linha de frente em Gaza e na Cisjordânia, e inaugurar uma nova intifada que una os palestinos de todo mundo numa luta final pela soberania e autodeterminação, para destruir o sionismo e o estado de Israel, e construir uma Palestina laica, democrática, não-racista e livre do rio Jordão ao mar Mediterrâneo!