PSTU-BA
Milena Oliveira, da direção estadual do PSTU Bahia
No último domingo, dia 12, o Esporte Clube Vitória entrou em campo para jogar contra o Jacuipense, pelo campeonato baiano de futebol, com o novo patrocinador estampado nas mangas das camisas dos jogadores: o site de “acompanhantes de luxo“ Fatal Model.
O patrocínio foi fechado no dia 10. Após o anúncio por Fábio Mota, presidente do clube, ao lado de Nina Sag, porta-voz da Fatal Model, o assunto gerou grande repercussão nas redes sociais, incluindo piadas machistas com as mulheres em situação de prostituição.
O contrato é válido até o fim da temporada e tem, segundo o clube, o objetivo de mostrar que “todos os cidadãos e profissionais são dignos de respeito, segurança e dignidade”. Mas será que é isso mesmo que está em jogo ou o montante do dinheiro envolvido na negociação? Aliás, essa fala do presidente do clube sobre respeito, segurança e dignidade só ocorreu após assinatura do contrato repercutir nas redes sociais. Durante o ato do fechamento do contrato, a fala de Fábio Mota foi concentrada na questão financeira.
“É o maior valor que o clube já recebeu por uma manga. […] Vocês sabem da dificuldade financeira que encontramos no clube. O Vitória está na Série B, porém, financeiramente, não temos cota de TV da Série B, não temos o contrato da Série B. Se tivéssemos, poderíamos fazer antecipação para equacionar a situação financeira do clube. Financeiramente, o Vitória continua na mesma realidade do ano passado, dependendo dos patrocinadores para sobreviver”, disse.
“Hoje a gente tem muita alegria de contar com um patrocinador de nível nacional, escolheu o Vitória para ser o clube do Brasil patrocinado por essa plataforma. Motivo de orgulho. Responsabilidade grande. Esses patrocinadores têm nos proporcionado estar com as contas em dia. Ontem pagamos os salários dos jogadores, hoje pagamos dos funcionários, devido a essas ações que temos feito”, completou.
Mercantilização
O contrato assinado pelo Vitória com o site de acompanhantes Fatal Model revela a mercantilização do futebol, bem como, a mercantilização do corpo da mulher. Vale ressaltar, a visão machista que reina no mundo do futebol, principalmente em relação ao corpo da mulher, vide as denúncias de abusos sexuais cometidos por jogadores, a exemplo do caso de Daniel Alves, hoje em evidência na imprensa.
O Vitória está preocupado é com os milhões desembolsados pela Fatal Model. O site de acompanhamento está preocupado é com o aumento do número de clientes. Após o anúncio, as redes sociais da Falta Model aumentaram seus números em 44%. O clube baiano não revela o valor do contrato.
Além do uniforme, o acordo prevê a presença da marca nos backdrops de entrevistas, placas no centro de treinamento, ingressos, ativações nas redes sociais e em todos os canais de comunicação do clube.
É sobre respeito e valores?
O Fatal Model também patrocina competições de futebol, como o próprio Campeonato Baiano, além de outros nove torneios estaduais. A Série A do Brasileirão já exibiu a marca do site em placas de publicidade. Ou seja, o site já tem relação com o mercado do futebol. Contudo, até hoje não vimos nenhuma campanha sobre respeito, segurança e dignidade por parte da Fatal Model, dos clubes e dos campeonatos que patrocina.
Frente a repercussão, a porta-voz da Fatal Model disse que o “patrocínio não é sobre dinheiro, é sobre respeito”. Mas sabemos que isso não é verdade. O Vitória está preocupado em ganhar dinheiro para sustentar o clube e a Fatal Model está preocupado em seguir lucrando com a exploração dos corpos das mulheres. É uma troca comercial, que reforça a posição do Brasil em primeiro lugar em exploração sexual na América Latina.
O que também faz o nosso país ter um dos maiores índices de mulheres traficadas para o escravismo sexual da América do Sul, com cerca de 110 rotas nacionais e 131 rotas internacionais, conforme os dados da Pesquisa Nacional sobre o Tráfico de Mulheres, Crianças e Adolescentes (PESTRAF).
Reforçamos, o contrato entre o Vitória e a Fatal Model não é por respeito, segurança e dignidade: é por dinheiro!
Regulamentação da prostituição
Em entrevista ao GE Bahia, Nina Sag, prota-voz da Fatal Model, disse que o objetivo é, também, discutir a regulamentação da prostituição. “A gente pode trabalhar com direito e deveres como qualquer outra profissão. É regulamentar para que outras pessoas possam trabalhar de forma tranquila”, afirmou.
Esse assunto é importante debater, pois a ideia de que a regulamentação da prostituição vai “desmarginalizar” a prática e garantir uma suposta proteção às mulheres em situação de prostituição, como diz a porta-voz da Fatal Model, não é verdade. Dignificar a prostituição como trabalho não significa dignificar as mulheres, mas sim “dignificar” ou facilitar a vida da indústria sexual.
A prostituição como mercadoria é a escravização do corpo da mulher. O sexo e a mulher são mercadorias. Rompe-se a ideia da mulher como sujeito social, substituindo-a por uma mercadoria exposta ao comércio sexual, cujo valor é resultante de uma relação desigual entre quem consome a prostituição e a quem a ela tem de se submeter, permeada por uma naturalização do machismo e da submissão. O que não é o mesmo de uma relação entre o patrão que explora a força de trabalho do empregado para produzir uma mercadoria ou um serviço.
Isso porque, é impossível comercializar o sexo sem comercializar a pessoa. A própria mercadoria (corpo) é o meio de produção (corpo). Então, não se trata da venda da força de trabalho, mas da escravização do corpo da mulher que se transforma em próprio objeto mediante pagamento.
Sendo assim, a regulamentação da prostituição como profissão corrobora com a degradação do capitalismo na busca desenfreada para explorar e obter lucros, onde tudo possa ser comercializado, inclusive, as relações sociais. Neste caso, na ampla maioria das vezes, as mulheres sequer têm o direito de escolher, já que a necessidade de sobrevivência se impõe ao desejo de se prostituir.
Por isso, a regulamentação é um retrocesso, pois legaliza mecanismos que garantem a exploração sexual e a prostituição como mais um comércio dentro da lógica capitalista. Não concordamos que o capitalismo se aproveite do corpo das mulheres para lucrar. Defendemos as mulheres em situação de prostituição e queremos que sejam donas de seus corpos.
Em defesa das prostitutas, contra a regulamentação da prostituição
Ser contra a regulamentação e lutar pelo fim da prostituição não se trata de uma posição moralista contra quem assim o deseje. Trata-se de ser contra um sistema que exclui as mulheres, que as joga em uma situação de pobreza extrema e que, diante da ausência de condições de vida, escraviza seu corpo, naturaliza o machismo e faz desse comércio um negócio lucrativo para os grandes capitalistas.
A prostituição está diretamente relacionada com a exploração sexual, a mercantilização do corpo feminino e a violência contra as mulheres. Nesse contexto de violência cotidiana a que as mulheres estão submetidas, o que está colocado é a necessidade de mecanismos de proteção e defesa das mulheres que estão em situação de prostituição. Bem como, lutarmos por condições concretas que possam livrá-las da violência desse sistema do sistema capitalista que lhes reserva opressão e exploração.
Sendo assim, nenhuma mulher deve ser discriminada por se prostituir, ser penalizada pela sua própria exploração e vítima de violência, seja policial, dos cafetões e clientes.
É preciso garantir assistência e previdência social para mulheres em situação de prostituição; construir centros de referência que ofereçam abrigo, formação profissional e direcionamento ao mercado de trabalho às mulheres em situação de prostituição. Assim como, é preciso gerar emprego e renda. Condições necessárias ao fim da prostituição.
O Esporte Clube Vitória vai na contramão dessa luta e das demais lutas das mulheres por sua emancipação. O clube baiano reforça a ideia do corpo da mulher como uma mercadoria exposta ao comércio sexual.