Zé Maria

Metalúrgico e presidente nacional do PSTU.

Grotesco, o episódio patrocinado pelos deputados da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro nesta sexta-feira – mandando soltar três meliantes do PMDB e devolvendo a eles o mandato parlamentar. A decisão contraria decisão de um Tribunal Federal que havia determinado a prisão e perda do mandato dos três por corrupção deslavada e descarada. Mas é bastante representativa do que são as instituições que governam os estados e nosso país.

Está em perfeita sintonia com as duas decisões tomadas na Câmara dos Deputados, livrando a cara de Temer de ser investigado por corrupção e outros crimes, e com decisão tomada no Senado federal livrando a cara do senador Aécio Neves do PSDB. E não só com o legislativo, a decisão dos deputados cariocas é perfeitamente coerente com a ação de Ministros do STF, como Gilmar Mendes, que é hoje o maior “chave de cadeia” prestando serviços a criminosos do colarinho branco.

A campanha publicitária lançada pelo Governo Temer, mentindo descaradamente à população para tentar galvanizar apoio à sua proposta de reforma da Previdência é outra expressão de que as instituições (e políticos) que deveriam governar a serviço dos interesses da população resolveram ligar um “dane-se” aos interesses populares e atender apenas os seus próprios e de seus patrocinadores (os bancos e empresas que financiam suas campanhas).

Frente ao repúdio generalizado da população a estes políticos e instituições –absolutamente normal, justo e merecido – se levanta o ideólogo petista, André Singer, em artigo na Folha de São Paulo ponderando que não se pode prescindir destes “institutos de representação”, que a alternativa é o autoritarismo, e tratando de agitar o espantalho dos desmandos (alguns reais, de fato) da Lava Jato.

O raciocínio do petista é emblemático da profundidade da falência do projeto deste partido, que não consegue enxergar nada além das instituições da democracia burguesa, especialmente as instituições eleitorais, os parlamentos e executivos surgidos delas.

O problema é que o que estas instituições podem dar à sociedade é isso que estamos assistindo hoje. Basta ver os próprios governos petistas que mantiveram o modelo neoliberal na economia, sem falar que se locupletaram até o pescoço na mesma corrupção que hoje ameaça colocar na cadeia, além dos dirigentes petistas, os dirigentes do PMDB, do PSDB e outros “p’s”.

Não, o que precisamos não é moderar o ódio que sentimos neste momento, destes políticos e destas instituições, porque não é verdade que os únicos caminhos existentes sejam o autoritarismo das ditaduras e “Bolsonaros da vida” ou estas instituições “democráticas” que estão a governar hoje o Brasil.

Há outra saída sim, uma saída que pode e deve ser construída pela classe trabalhadora e suas lutas. Nós trabalhadores somos a maioria da população, somos os que construímos toda a riqueza do país, somos quem faz o país funcionar com o nosso trabalho… pois então podemos também governar o país, transformar nossa sociedade e abrir caminho para o socialismo

Só um governo assim, um governo socialista dos trabalhadores, sem patrões, vai enfrentar as multinacionais, os bancos e as grandes empresas, acabar com os seus privilégios, abolir a grande propriedade e fazer com que todos os recursos que nosso país tem, e toda a riqueza produzida pelo trabalho seja utilizada para atender as necessidades da população e de todos e todas que trabalham.

Um governo que funcione através das organizações da nossa classe, de conselhos populares, onde os representantes ganhem o mesmo salário de um operário ou de uma professora, e seus mandatos possam ser revogados sempre que os que os elegeram assim o quiserem. Só um governo assim poderá assegurar uma verdadeira democracia para o povo, acabar com toda forma de discriminação e opressão, acabar com a corrupção.

E um governo assim é perfeitamente possível. Já o demonstraram os operários, camponeses e soldados que se revoltaram tomaram em suas mãos o controle do poder político na Rússia, cem anos atrás, e iniciaram a construção do socialismo. Não só é possível, como é a única saída possível para a crise que nosso país vive, de maneira a atender os interesses da classe trabalhadora e do povo pobre.

Depende do avanço da nossa organização e da nossa luta. Precisamos fazer a nossa revolução socialista, como parte da revolução que precisa enfrentar e acabar com o capitalismo em todo o mundo, para libertar a classe operária e os trabalhadores da exploração e opressão e assegurar o futuro da humanidade.

Que os dirigentes e ideólogos do PT não acreditem mais nisso só demonstra que há muito tempo trocaram a crença na luta da nossa classe pela defesa da conciliação com a burguesia. Mas a revolução brasileira não depende deles. Será feita por cima deles, pela classe operária brasileira, por todos os setores explorados e oprimidos do nosso país.