O presidente Fernando Henrique declarou que o Brasil pode ser a Argentina amanhã, caso o seu sucessor não tenha “competência“, leia-se: não dê continuidade ao reinado FMI/Malan/Fraga.
A admissão de que o Brasil pode ser a Argentina amanhã obedece à necessidade de vender uma nova mentira, embalada no medo. Nizan Guanaes, marqueteiro de Serra, descobriu o óbvio: primeiro, que o povo está descontente e quer mudanças e segundo, que a maioria tem medo que aconteça aqui a quebradeira da Argentina: confisco da poupança; desemprego na casa dos 50%, desvalorização de até 100% dos salários e a classe média indo morar debaixo de viadutos.
Nizan resolveu explorar o medo da quebradeira para vender o peixe envenenado de que a “competência“ do candidato do FMI evitará o desastre e, de quebra, garantirá um “choque social“: estabilidade com crescimento e distribuição de renda. “Continuidade sem continuísmo“ e “mudança segura“ são as mentiras que querem fazer colar.
Qualquer semelhança entre as duplas Menem/Cavalo e FHC/Malan, não é mera coincidência. Foram as duplas nota 10 do FMI. Só que uma entrou em campo em 1991, sendo reeleita em 1996 e a outra em 1994, reeleita em 1998. Menem não conseguiu eleger seu sucessor. Aqui, ainda não se sabe se conseguirão emplacar “Serrairrita“ em outubro.
Mas as semelhanças com a Argentina são tão grandes, que a política dá os passos da mesma dança. A oposição da “mudança com responsabilidade“ de lá foi De La Rua, o tal que “mudaria a Argentina, dando prioridade ao social sem romper contratos“. Foi eleito e seguiu fazendo a “lição de casa“ do FMI, dando continuidade à “estabilidade“ de Menem/Cavalo.
Lula não deixa de vestir o mesmo figurino de De La Rua, ainda que o marqueteiro não seja o mesmo. Aliás, Duda Mendonça andou pela Argentina fazendo a campanha da situação. Se o ex-cliente de Duda Mendonça empastelou São Paulo com o “Maluf que fez“, a Argentina teve várias cidades empasteladas com “Foi Duhalde que fez“.
Mesma “lição de casa“
Brasil e Argentina não são países idênticos, porém são muito semelhantes e, sobretudo, seguiram e continuam seguindo o mesmo modelo econômico. A Argentina, que começou antes, fez toda a “lição de casa“ até quebrar. O Brasil já está quase terminando e falta bem pouco para se estatelar no abismo. Aliás, os EUA resolveram dar uma acelerada nas “lições“ brasileiras com o cronograma da ALCA.
As “lições de casa“, salvo um ou outro item menos importante, em sua maioria são idênticas: Crescimento do endividamento externo e superávit primário das contas públicas para “honrar“ o pagamento de juros aos banqueiros; desnacionalização e privatização de todo patrimônio e serviços públicos; demissão de servidores públicos e destruição da educação e saúde; desemprego nas nuvens, desregulamentação trabalhista e arrocho dos salários; livre “exportação“ de capitais, lucros, royalties, etc. para os países imperialistas… Enfim, tudo para remunerar os lucros dos bancos estrangeiros e multinacionais. O “modelo“ aplicado até as últimas conseqüências é a completa colonização.
No Brasil, os tais “fundamentos sólidos“ da economia não resistem a um resfriado nas finanças externas. A dívida bruta do governo já atinge 71,3% do PIB. A despesa do Estado brasileiro (municípios, estados e governo central) só com juros, entre 1996 e 2000, foi de 20,5% do gasto público total e de 8% do PIB. Os “compromissos“ do país com o exterior – que incluem juros e parcelas da dívida externa, remessa de lucros das multinacionais, importações e outros itens – são de mais de 60 bilhões de dólares por ano, que o governo só consegue financiar através de novos empréstimos, venda de estatais e atração de “investimento“ estrangeiro especulativo ou “direto“, aquela que entra comprando empresas.
A entrada de capital externo está diminuindo porque já compraram quase tudo e também porque sabem que logo não haverá mais como o país seguir pagando os juros de seus “empréstimos“ e ou “investimentos“ em títulos do governo.
Todos eles sabem que, seja qual for o próximo governo, a bomba armada aqui irá explodir. Até lá, entretanto, querem tirar até o último centavo e querem garantias de que “os contratos“ serão honrados.
Tá tudo dominado
Os oito anos de FHC colocaram o Brasil na beira do precipício. A estabilidade do lucro de mais de 300% dos grandes bancos e de umas 150 mega-empresas se contrapõe à instabilidade de como vive a maioria do povo, sendo que 52 milhões de brasileiros já estão na miséria completa.
Além de José Serra, também os da chamada “oposição“, como Ciro e Garotinho, defendem o mesmo modelo. O problema, é que para piorar, Lula e o PT também aderiram, em geral, ao modelo dominante. Lula declarou que não é contra a ALCA, pois isso significaria “ser contra uma política de livre comércio“, disse também que defende a Responsabilidade Fiscal, que renovará o acordo com o FMI e que pagará a dívida externa. Daqui a pouco é capaz de acatar a “sugestão“ de Cristóvam Buarque e manter Malan e Armínio Fraga na equipe econômica do futuro governo.
São tão parecidos os discursos e programas dos principais candidatos, que até os integrantes das cúpulas das campanhas se confundem na hora de identificar quem defende o quê. Isso foi demonstrado por um teste da Folha de São Paulo. A partir de frases de Serra, Lula, Ciro e Garotinho sobre 10 temas, pediu-se para cada político identificar os autores de cada frase e a maioria errou feio.
O caminho para evitar que o Brasil vire uma colônia arruinada é romper os contratos com os colonizadores. Romper com o FMI e a ALCA; não pagar a dívida externa, impedir a remessa de lucros para o exterior, estatizar os bancos, reestatizar as empresas privatizadas, investir em obras públicas e sociais, fazer a reforma agrária, reduzir a jornada de trabalho sem reduzir os salários. Essas medidas só poderão ser impostas com mobilização dos trabalhadores e do povo.
Post author Mariúcha Fontana,da redação
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