Neste ano, completaram-se 130 anos da abolição da escravidão no Brasil. Após quatro séculos de tráfico negreiro, exploração, tortura e racismo, não houve nenhuma reparação ao povo negro por esse imenso crime. Sem dinheiro, sem direito a terra, ferramentas ou moradia, os negros se. tornaram reféns da burguesia racista, agora não só nas fazendas e nos engenhos, mas também nas fábricas, nos canteiros de obras, nos estaleiros e em todo tipo de serviço nas cidades.

Fábulas e paranoias racistas
Por meio de ideólogos como Gilberto Freire, autor do livro Casa Grande & Senzala, a burguesia criou a fábula de que o Brasil é uma democracia racial. Assim, tentam apagar o nosso passado de luta, vendendo a ideia de que o povo brasileiro sempre foi pacífico e incapaz de se rebelar. De quebra, querem nos fazer acreditar que não existe racismo no país.

A verdade é que as quilombagens e revoltas eram comuns durante a escravidão e geravam pavor nos fazendeiros. Para destruir Palmares, a classe dominante teve de mobilizar centenas de milhares de homens por longos anos e, após matarem o líder Zumbi, cortaram sua cabeça e a exibiram em praça pública para amedrontar todo aquele que se rebelasse contra o sistema (leia mais nas páginas internas).

Porém a classe dominante nunca deixou de temer o povo negro. Bastavam dois negros reunidos na senzala para haver repressão, impedindo que qualquer nova conspiração surgisse dali. Essa paranoia racista está na raiz do comportamento policial que humilha, prende e tortura os negros nas periferias; está na raiz da perseguição aos operários nas fábricas e aos peões nos canteiros de obras em todo o país; também está na raiz da repressão às batalhas de hip hop e poesias da juventude negra. Afinal, eles sabem que nós temos todos os motivos para acabar com esse sistema.

Por isso a importância do dia 20 de novembro: para protestar e celebrar o Dia da Consciência Negra e da Imortalidade de Zumbi e Dandara do Quilombo de Palmares, que representam todas as revoltas e resistências de nosso povo em todo o Brasil.

Preparar a luta contra o governo racista de Bolsonaro
A revolta e a confusão gerada pela traição do PT foram tão grandes que a válvula de escape nessas eleições foi apostar num racista branco, oficial do Exército e político há quase trinta anos para comandar o país com a maior população negra fora da África. Alguém que, na realidade, é a cara desse sistema podre.

Sua missão é acabar com o 13º salário, fazer a reforma da Previdência de Temer e acabar com a CLT. Para isso, Bolsonaro divide os de baixo, semeando o preconceito contra negros, mulheres, indígenas e LGBTs com muitas fake news e projetos como Escola Sem Partido, que impedem professores e estudantes de debaterem e questionarem.

Além disso, como o próprio Bolsonaro já sinalizou, ele pode acabar com as liberdades democráticas dos trabalhadores, impondo uma ditadura apoiada nas Forças Armadas. Tudo isso para preservar o sistema, o lucro e a propriedade dos ricos e poderosos.


Unir os explorados e oprimidos na Marcha da Periferia
Precisamos formar um polo de resistência e de luta com os operários, a juventude, os indígenas, as mulheres negras e o conjunto dos trabalhadores contra os ataques do governo Temer e o de Bolsonaro. É preciso fazer, também, uma avaliação dos 14 anos de governos do PT. Foram muitos ataques ao nosso povo, com o aumento das prisões e das perseguições e assassinatos dos negros, apoiados na Lei Antidrogas, na Lei Antiterror, e no uso da Força Nacional de Segurança e de intervenções militares, como a ordenada por Temer no Rio de Janeiro.

Bolsonaro utilizará e aperfeiçoará essas medidas. Portanto, a Marcha da Periferia ganha nova importância para a organização, a resistência e a luta do nosso povo. Ela é uma unidade de ação, isto é, uma unidade entre todos os setores que querem lutar contra o genocídio negro, contra o racismo e em defesa das liberdades. Por isso, pode se tornar a semente de uma frente de luta e socialista dos negros e negras.

Em São Paulo, junto com a CSP-Conlutas, o Quilombo Raça e Classe, o Quilombo Brasil e outras organizações, está se formando uma frente de mobilização nas periferias, independente dos governos e dos patrões. Devemos espelhar-nos nesse exemplo para irmos além de novembro e prepararmos a organização e a luta contra Bolsonaro e os racistas de plantão. Mãos à obra!