Imagens de segurança no momento em que o militar invade a loja do Mac Donalds Foto Reprodução
Rebeldia - Juventude da Revolução Socialista

João Pedro Andreassy Castro, Juventude Rebeldia e do PSTU

Na última segunda-feira (09), Mateus Domingues de Carvalho, de apenas 21 anos, foi vítima de um brutal crime enquanto trabalhava de madrugada no McDonald’s da Taquara, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Durante o expediente, atendendo na cabine do Drive-Thru, Mateus foi agredido e baleado covardemente pelo Sargento do Corpo de Bombeiros, Paulo César de Souza Albuquerque, após uma discussão sobre o uso de um cupom de desconto no pedido de um lanche.

Após o incidente, filmado pelas câmeras de segurança, Paulo César foi indiciado, mas teve seu pedido de prisão negado pela juíza Isabel Teresa Pinto Coelho Diniz, sob alegação de “falta de elementos concretos”. Alguns meios de comunicação apontam o possível envolvimento de Paulo Cesar com a milícia carioca como um dos motivos de sua liberdade.

O caso não passou impune sob a ótica midiática, que logo tratou de noticiar como apenas mais uma situação bizarra de violência cotidiana que estamos vivenciando no Brasil nos últimos tempos. O que a mídia burguesa não diz, contudo, é que o que aconteceu com o Mateus é fruto também da situação de miséria capitalista que a juventude trabalhadora e pobre está submetida.

Saído de Minas Gerais, Mateus foi para o Rio de Janeiro com o sonho de cursar faculdade de Veterinária. Assim como 49% dos jovens estudantes brasileiros, Mateus teve que trabalhar para conseguir pagar pelos estudos, como 8 em cada 10 jovens com até 24 anos, teve que se submeter a um emprego precário, mal remunerado e com jornadas excessivas de trabalho, e como 4 em cada 10 estudantes, acabou abandonando a sala de aula para manter seu sustento.

O McDonald’s, empregador de Mateus, se orgulha de ser uma das empresas que mais emprega jovens no Brasil. Em seu site, diz que dos mais de 50 mil funcionários, cerca de 76% têm menos de 25 anos de idade e estão em sua primeira experiência profissional. A empresa também coleciona denúncias de irregularidades trabalhistas, já foi condenada diversas vezes pela justiça por jornadas excessivas, remuneração abaixo do piso, não pagamento por acidentes de trabalho, não cumprimento de convenção coletiva, entre outros.

A última condenação foi em abril desse ano, por adotar regra de remuneração não admitida em convenção. A empresa contratava empregados para jornada fixa, mas remunerava com piso proporcional de mensalista, que é menor. Na prática, deixava de pagar aos funcionários o valor estipulado em negociação coletiva.

Essas condenações, no entanto, não impediram a rede norte-americana de lucrar mais de 10 bilhões de reais só no terceiro trimestre do ano passado, enquanto seus funcionários recebem, via de regra, abaixo de um salário-mínimo.

A questão é: por que Mateus e tantos jovens como ele se submetem a regime tão exploratório? Acontece que no sistema capitalista, os trabalhadores lidam com a realidade de vender sua força de trabalho ou morrer de fome. A crise e o desemprego aumentam a concorrência entre os trabalhadores e com tanta mão-de-obra disponível, a burguesia aproveita para rebaixar o preço da força de trabalho.

De quebra ainda utiliza a opressão para dividir e estratificar os trabalhadores, sendo que aos jovens, às mulheres, aos negros, imigrantes e LGBTIs são reservados os piores empregos, os mais mal remunerados. Usam para isso desculpas como a de que os jovens não têm experiência, que o salário das mulheres é complementar aos dos homens e outras de mesma natureza ou se apoiam nas ideologias que inferiorizam determinados setores.

Para os jovens, as condições dadas são cada vez mais difíceis, já que muitos não conseguem ingressar no mercado de trabalho e os que conseguem estão expostos a ampla uberização e superexploração a todo vapor. Segundo dados da FGV, 56% dos jovens brasileiros estão desempregados e boa parte dos que trabalham, estão em subempregos, o que reflete a degradação de condições de vida que o capitalismo impõe.

Para ilustrar o que estamos dizendo, vale reportar um estudo realizado pela consultoria IDados, a partir de dados da PNAD, que constatou que 76,6% dos trabalhadores com até 24 anos, estão em ocupações consideradas de baixa qualidade, desses 59% são negros, como Mateus. Para analisar a qualidade do emprego, a consultoria considerou 4 aspectos: salário, estabilidade, rede de proteção (como INSS, por exemplo) e condições de trabalho. Em todos os pontos, o emprego dos jovens apresentou fragilidades, sendo que os piores são renda e estabilidade.

Em um estágio tão decadente como estamos presenciando, a exploração e a opressão ficam mais evidentes, à medida que os salários são cada vez menores, as jornadas de trabalho cada vez maiores e as condições de trabalho cada vez piores. Por outro lado, são justamente os setores oprimidos da classe que se tornam mais vulneráveis ao desemprego, à informalidade, aos baixos salários e às condições precárias de trabalho, ou seja à superexploração. A necessidade de aguentar até as mais duras jornadas exploratórias se mostra necessária, uma vez que a sobrevivência do explorado depende de sua força de trabalho.

Além disso, com o aumento da pobreza, causado pela crise capitalista, as diferenças de classe são cada vez mais irreconciliáveis. Durante a pandemia de COVID-19, que vitimou mais de 600 mil pessoas no Brasil, as grandes empresas e bancos lucraram à custa dos trabalhadores que tiveram que suportar o desemprego e a perda de renda. Somente os grandes bancos lucraram mais de 150 bilhões de reais (valor suficiente para manter o auxílio emergencial de 600 reais por 6 meses para a população que já recebia) dinheiro que é proveniente direto da especulação financeira e do endividamento do povo. Em resumo, a miséria da classe trabalhadora favorece diretamente a burguesia.

Nos marcos da sociedade capitalista, situações como a de Mateus tendem a se repetir, tanto pela degeneração das relações humanas e o aumento da violência que ela produz, como pela miséria que faz com que os explorados se submetam às condições mais precárias de trabalho pela necessidade de vender sua força de trabalho em prol de sua sobrevivência.

Por isso, a luta da juventude trabalhadora atualmente não pode estar dissociada da luta pela destruição do capitalismo e pela construção de uma sociedade socialista que permita que a classe trabalhadora, tenha controle de seus postos de trabalho, da economia e do país inteiro, e dessa forma assegure uma vida digna aos trabalhadores e o povo, e caminhe para uma sociedade que ponha fim à exploração e à opressão e dê uma perspectiva para os mais jovens.

Ao mesmo tempo, em relação à violência a qual Mateus foi vítima, exigimos imediata prisão do Sargento Paulo Cesar, que aliás, tem antecedentes de agressão, incluindo violência à mulher e ainda por cima usava uma arma ilegal. É lamentável que um agente do Estado, cuja função é proteger e salvar vidas, tenha justamente tentado tirar uma. Trata-se de um crime bárbaro, com consequências para a saúde e o futuro do jovem, que por pouco não teve sua vida ceifada, está hospitalizado, perdeu um rim e parte do intestino e ainda tem que conviver com o medo, pois seu agressor permanece solto.

Também exigimos e que o Mc Donalds seja responsabilizado por não garantir a segurança de seus funcionários. O próprio Mateus e um gerente da lanchonete já tinham sido ameaçados em outra ocasião por se recusarem a aceitar uma nota falsa. Cabe ressaltar que a lanchonete que funciona 24 horas fechou por apenas por algumas horas e logo reabriu para receber o público. Mais uma demonstração de como o que vale no capitalismo é o lucro.