UTI do hospital Vila Nova Cachoeirinha, na zona norte de São Paulo. Foto Gustavo Basso
Redação

Já estamos no segundo mês de 2022, mas parece que ainda não saímos de 2021. Como era esperado, a pandemia de Covid-19 recrudesceu quando a nova variante ômicron se alastrou sem controle por todo o país. A média móvel de casos nos últimos sete dias foi a 188.451, uma explosão de 125% a mais do que foi registrado 14 dias antes.

Na última semana de janeiro, o Brasil voltou a registrar mais de 600 óbitos por dia. No dia 1º fevereiro, foram registradas  767 mortes. Com isso, a média móvel de mortes nos últimos sete dias é de mais de 600 óbitos – a maior registrada desde 5 de setembro do ano passado. Em comparação à média de 14 dias atrás, o aumento foi de 205%, indicando tendência de alta nos óbitos decorrentes da doença. Até o fim da primeira quinzena de fevereiro, o país ultrapassará a marca de 630 mil mortes pela doença. Mas se levarmos em consideração o “apagão” de dados efetuado pelo governo, bem como a subnotificação, seguramente o número real de mortos pode ser algo em torno de mil pessoas.

Os números desmontam o mito de que a ômicron é um variante “mais branda” do vírus Sars-Cov 2.

O suposto caráter “benigno” da ômicron foi uma desculpa para que todos os governos, mesmo sem uma prova conclusiva, se apressassem em dizer que a atual onda é apenas uma “gripezinha”. Seu objetivo era de que todos voltassem rapidamente ao trabalho para que os lucros dos capitalistas não fossem prejudicados.

Mas a ômicron não tem nada de benigna. Está provocando hospitalizações e mortes, e as cenas de hospitais e postos de saúde cheios de pacientes voltam a se repetir. Isso tem a ver com o enorme poder de contágio da nova cepa. Estima-se que cada pessoa infectada poderia contaminar mais outras seis. No começo da pandemia, a estimativa era que cada pessoa infectada com o vírus poderia contaminar mais duas. É por isso que vemos todos os dias cada vez mais pessoas conhecidas se infectarem. Com um poder de contágio maior, o vírus se alastra rapidamente, levando à explosão de mortes.  

Graças à vacinação, tão sabotada pelo governo Bolsonaro, não estamos vivendo ainda uma tragédia de dimensões épicas. Mesmo assim, aqueles que possuem comorbidades e sobretudo os que não estão com esquema vacinal completo ou não tomaram vacina se constituem nas principais vítimas da ômicron.

Embora boa parte da população esteja vacinada, é bom lembrar que o processo no país é muito desigual. Por exemplo, no Acre nem metade da população foi vacinada (49,4%). No Maranhão a situação é semelhante (51%). Já no Amapá apenas 41% se vacinaram.  Tudo isso ainda alimenta o surgimento de novas variantes e tem efeitos sobre a letalidade do vírus.

Herodes

Bolsonaro ataca vacinação infantil

Bolsonaro vem atacando repetidamente a vacinação infantil. Minimizou as mortes de crianças com idade entre cinco e 11 anos, dizendo que o número de óbitos é “quase zero” entre elas. Mas de acordo com os números do Ministério da Saúde, 311 crianças de cinco a 11 anos morreram no Brasil por síndrome respiratória aguda grave causada pela Covid-19. Os números, contudo, podem ser bem mais altos, considerando a subnotificação. Levantamentos com dados não oficiais dão conta de ao menos 558 óbitos de crianças até novembro de 2021. O fato é que o próprio Ministério da Saúde mostra que a Covid-19 foi a terceira maior causa de mortes infantis em 2020 e a segunda no ano passado.

Contrário à imunização de crianças, Bolsonaro disse que não vacinará a filha mais nova, de 11 anos, usando-a como instrumento de campanha. Também acusou os técnicos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a quem chamou de “tarados por vacinas”, de terem interesses na liberação. Marcelo Queiroga segue os passos do presidente-Herodes, sabotando a vacinação e dizendo que os pais têm liberdade de escolha quanto a essa questão. Chegou a defender a apresentação de pedido médico para vacinar crianças sem comorbidades.

Enquanto o governo Bolsonaro sabota a vacinação, os governos estaduais e prefeituras não dão sinal de que adiaram a retomada das aulas presenciais para combater a ômicron. Ao contrário, a maioria confirmou o calendário, um completo absurdo!

Quebrar patentes

Capitalismo criou ambiente perfeito para a mutação do vírus

Haverá uma nova mutação que escape das atuais vacinas e cause uma nova onda infecções e mortes? Não sabemos exatamente. Mas o que sabemos é que a evolução natural do vírus, suas novas mutações etc., tem como aliado perfeito o sistema capitalista.

Recentemente, cientistas detectaram a subvariante BA.2 da ômicron, que já representa 82% dos novos casos de Covid-19 na Dinamarca. Pesquisadores do país apontam que ela é 33% mais contagiosa que a BA.1, a primeira da família ômicron a ser identificada. Mas por que razão as mutações ocorrem tão rapidamente?

Evidentemente que essa é a evolução natural do vírus, mas o sistema capitalista criou um ambiente perfeito para tal processo. Até hoje uma parte significativa da população mundial não foi vacinada ou segue com ciclo vacinal incompleto. Por isso o vírus circula livremente e há novas mutações, criando um risco enorme de que novas cepas possam escapar das atuais vacinas e que, com o massivo trânsito global de pessoas e mercadorias, se espalhem em velocidade espantosa.

O continente africano, por exemplo, teve menos de 10% da população totalmente vacinada contra o coronavírus, de acordo com os últimos números do Centro Africano de Controle de Doenças (CDC).

A ômicron foi identificada pela primeira vez na África do Sul, um dos poucos países não imperialistas que teria capacidade para fabricar vacinas contra a Covid-19. Mas o país não fez isso porque as nações imperialistas e a grande indústria farmacêutica não permitiram.

A quebra das patentes das vacinas, ou seja, do monopólio de fabricação e comercialização das grandes farmacêuticas, foi uma necessidade desde o início da pandemia. Teria permitido a rápida fabricação das vacinas, a imunização da grande maioria da população e impedido o surgimento de novas variantes. Contudo, a lógica do capitalismo coloca o lucro sempre acima da vida. Por isso os governos seguem defendendo a propriedade privada, o direito de patente e os lucros das grandes farmacêuticas enquanto a pandemia continua matando os trabalhadores.

É por isso que a pandemia segue sem data para acabar, com o surgimento de novas variantes do vírus, e sua transformação, a médio ou longo prazo, em doença endêmica, especialmente nos países mais pobres e desiguais. Enquanto isso, as grandes companhias farmacêuticas acumulavam, em outubro do ano passado, um aumento de US$ 270 bilhões em seu capital. É escandaloso que pandemia tenha aprofundado a crise econômica, levando milhões ao desemprego e à miséria, enquanto os lucros obtidos pelos dez homens mais ricos do mundo, em 2021, acumularam lucros de mais de US$ 608 bilhões. Essa é a verdadeira face do capitalismo.

Genocida

Bolsonaro diz que ômicron é “bem-vinda”, e saúde fica à beira do colapso

​Muitos governos e prefeituras simplesmente desmontaram toda estrutura de leitos de UTIs e hospitais de campanha que haviam sidos criados anteriormente, o que elevou a pressão sobre o sistema de saúde. O resultado é que o Brasil registrou o maior número de estados sob alerta crítico na ocupação de leitos de UTI para Covid-19 desde junho de 2021, informou a Fiocruz em boletim divulgado no último dia 26.

Seis estados e o Distrito Federal têm 80% ou mais dos leitos intensivos ocupados. A pior taxa de ocupação dos leitos de UTI está no próprio DF, com índice de 98%, à beira do colapso.

Outros estados com ocupação crítica nos leitos de UTI são o Rio Grande do Norte (83%); Goiás e Piauí (82%); Pernambuco (81%); Espírito Santo e Mato Grosso do Sul (80%). Muitas capitais estão próximas do colapso do sistema, como Rio de Janeiro e Brasília (98% de ocupação); Belo Horizonte (95%) e Fortaleza (93%). Em outras a situação não é muito animadora, com taxas que variam de 70% a 80% de ocupação e crescendo.

Mas enquanto a população sofre com o colapso, o governo Bolsonaro promove um corte de R$ 3,2 bilhões no Orçamento de 2022, afetando inclusive a Saúde, que teve um corte de R$ 74 milhões, além dos hospitais federais, vinculados ao Ministério da Educação, que tiveram um corte de R$ 100 milhões.

Como se não bastasse, o Ministério da Saúde ainda tem o descaramento de insistir na farsa da eficácia da hidroxicloroquina, dizendo que elas são mais eficazes que as vacinas. No dia 21 de outubro, a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec), colegiado do Ministério, empatou em uma votação sobre parecer contrário ao kit Covid para casos leves.  Cinco das sete secretarias do Ministério comandado por Marcelo Queiroga votaram a favor do kit Covid.

Bolsonaro tenta criar um movimento antivacina no Brasil (que hoje praticamente não existe) para coesionar sua base de apoio e mobilizá-la para as eleições. Por isso faz declarações públicas pondo em dúvida a eficácia das vacinas e dizendo “que a melhor vacina que pode haver contra a Covid-19 é a própria contaminação”. Em uma live nas redes sociais, o genocida disse que a variante ômicron é “bem-vinda”, provocando a fúria da população.

Programa

Vacinação pra todos, quebrar as patentes e defender o SUS

– Vacinas para todos já!

– Imediata quebra do direito de patente dos laboratórios que as fabricam.

– A pandemia não vai acabar enquanto não existir vacina para todos os países do mundo. É preciso quebrar as patentes para garantir imunização universal. O lucro não pode estar acima da vida.

– Não aos cortes de verbas da Saúde! Em defesa do SUS e fortalecimento dos sistemas de saúde pública

– Volta às aulas só com vacinação de todos os alunos imunizados

– É preciso retomar medidas de distanciamento social, pois é criminosa a ideia da “nova normalidade”, que apresenta a ômicron como uma “gripezinha” e manda todos os trabalhadores para o abate. No entanto, elas devem ser seguidas de garantias de proteção ao emprego e renda