Movimento Mulheres em Luta (MML)

Mais um 8 de março se aproxima e novamente milhares de mulheres no mundo inteiro, atendendo ao chamado à greve internacional de mulheres, se preparam para tomar as ruas nesse dia para lutar por suas demandas e gritar “basta de violência, de machismo e de ataques aos nossos direitos! ”.

Também no Brasil, em várias cidades, já estão acontecendo reuniões e plenárias de organização do 8 de março, sendo que o que está colocado aqui é transformar esse dia de luta numa verdadeira rebelião das mulheres trabalhadoras contra o machismo e a exploração capitalista e que possa servir, como serviu no ano passado, de alavanca à construção de uma nova greve geral para derrotar definitivamente o governo Temer e suas reformas.

Entretanto, lamentavelmente, o PT e seus aliados, mais uma vez tentam impor sua própria agenda em detrimento da unidade das mulheres trabalhadoras contra o machismo e as reformas. Em São Paulo, que conta sempre com uma das maiores manifestações, o dia de luta das mulheres está sendo usurpado pelo PT a serviço de seus interesses eleitorais. Sob a justificativa de um suposto ataque aos direitos democráticos (leia-se o direito de Lula, mesmo condenado pela Lava-Jato, concorrer às próximas eleições) buscam transformar de maneira escandalosa o ato do 8 de março numa manifestação em defesa de Lula.

Não por acaso, já na primeira reunião de construção do 8 de março, antes mesmo de qualquer discussão mais séria, votaram a defesa da “democracia e da soberania”, como um dos eixos principais do ato. Não por acaso, democracia e da soberania é também o nome da frente ampla que está sendo construída com partidos como PT, PCdoB, PDT, PSB e PSOL, além de figuras como Roberto Requião (do PMDB de Temer) cujo nome é Frente Ampla em Defesa da Democracia e da Soberania e que nada mais é do que uma frente de defesa pela candidatura Lula. O descaramento é tão grande que abandonam inclusive o Fora Temer substituindo pelo Sai Temer (pelas vias das eleições é claro!).

Não é a primeira vez que o PT e PCdoB, tentam impor às mulheres e lutadoras do país a defesa de seus governos. De forma burocrática e truculenta, romperam o ato unificado em 2016, quando quiseram transformá-lo em manifestação de apoio à Dilma, já completamente desmoralizada depois de ter traído a confiança de seus eleitores e atacado os direitos dos trabalhadores e das trabalhadoras. Fizeram algo parecido em 2017, com a ajuda inestimável do PSOL e da Frente Feminista de Esquerda, ao vetar a fala no ato de quem não assinasse o manifesto cujo o centro era a narrativa do golpe, como se a queda de Dilma e do PT não tivesse sido motivada pela perda total de apoio popular após tal traição, mas um plano arquitetado pela burguesia e o imperialismo para tirá-los do governo. E o que é ainda pior, quando o que estava colocado era a unidade dos trabalhadores para derrotar as reformas de Temer e botar para fora esse governo e todos os corruptos, se posicionaram contra unificar o dia de luta das mulheres à greve das professoras e assim potencializar a construção da greve geral. Em ambas ocasiões foram derrotadas.

Novamente, já nesse ano, agora sob a justificativa do ataque à democracia, querem impor a pauta da defesa de Lula. Isso é um grave erro, não só porque significa alimentar as ilusões de que o PT foi um governo progressivo quando na verdade traiu o conjunto dos trabalhadores e inclusive as mulheres trabalhadoras, ou porque canaliza nossas energias para o processo eleitoral quando deveria fortalecer a iniciativa direta das mulheres, mas,  principalmente, porque transformar o ato numa manifestação em defesa de Lula é impor a ruptura com os setores que não tem acordo nem com a defesa de Lula, nem com a defesa de uma democracia que nada mais é do que a democracia dos ricos contra os pobres, dos que podem pagar por sua liberdade enquanto os filhos e maridos das mulheres negras e pobres da periferia são encarcerados ou mortos, quando o que está colocado é a unidade das mulheres trabalhadoras pra lutar.

Não é tarefa das mulheres trabalhadoras defender Lula e nenhum governo burguês, mas unir o conjunto das trabalhadoras e dos trabalhadores para lutar contra o machismo e a violência e derrotar Temer e esse Congresso de picaretas e corruptos, enterrando de vez a reforma da previdência e qualquer projeto de lei que retire direitos. Por isso resolvemos nos retirar do Fórum de Mulheres de São Paulo e construir um outro 8 de março, que tenha como centro as lutas das mulheres trabalhadoras e jovens contra a violência, os feminicídios, a retirada de direitos, o aborto legal (PEC 181) e a reforma da Previdência.

Retiramo-nos também porque, além de secundarizar as lutas das mulheres para defender Lula e a via eleitoral como saída para a crise que vivemos, as mulheres do PT e do PCdoB, e das Frente Brasil Popular/Frente Povo sem Medo (com o apoio envergonhado do PSOL e da Frente Feminista de Esquerda, que apesar de ter acordo com a política se abstiveram da votação) querem impor goela abaixo das que discordam de sua linha política de colaboração de classes a defesa da ordem democrática-burguesa, não admitindo discordâncias e confronto de ideias e concepções. Neste fórum não cabem mulheres independentes nem coletivos classistas que não comungam com a ideia de que estamos diante de um “novo golpe” cuja principal vítima é Lula, e que todas as lutas devem ter como centro garantir que Lula seja candidato.

O MML e a CSP-Conlutas-SP lamentaM o rumo sectário tomado pelo Fórum de Mulheres de São Paulo e a traição deste não só às lutas históricas das mulheres trabalhadoras, mas ao seu papel democrático de aglutinação dos diversos movimentos e correntes de pensamento presentes no movimento de mulheres. A elas responsabilizamos a ruptura e a necessária construção de um outro 8 de março em São Paulo!

Diferentemente desses setores que defendem a democracia burguesa, que nos concede como único direito o de escolher de tempos em tempos nossos próprios capatazes, nós defendemos outro tipo de democracia, a democracia para lutar por nossos interesses como mulheres e como classe, contra a opressão, a exploração e o capitalismo. Nesse sentido, queremos reforçar o chamado a todas as mulheres que enfrentam no dia a dia o machismo e a violência, todas as mulheres que foram vítimas de abuso, assédio e discriminação, as que estão desempregadas e sem creche para seus filhos, as que perderam suas casas e lutam por moradia, as que têm seus filhos encarcerados ou que foram assassinados pela polícia, as que sofrem com o racismo, lesbofobia e transfobia, enfim, todas as mulheres jovens e trabalhadoras para nos unificarmos em torno a esses eixos, que já são muitos e exigem de nós grande disposição de luta para enfrentá-los.

A todas as organizações de mulheres que lutam contra as mazelas do machismo e da opressão e a sanha da exploração capitalista nosso convite a que venham construir conosco um 8 de março independente, de governos e patrões, pela vida das mulheres, contra a reforma da Previdência, por emprego, creche e moradia, pelo fora Trump, fora Temer e fora todos os que oprimem e exploram as mulheres.

Chamado a construção de um 8 de Março feminista, independente e de luta