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PSTU Minas Gerais

Poucas vezes é possível ler, em poucas linhas, ideias tão nojentas quanto o artigo “Briga ou ‘divórcio’?, de Vitório Mediolli, escrito no seu jornal ‘O Tempo’, no último dia 6. Tardiamente, em matéria publicada hoje, dia 8, pede desculpas de maneira inusitada, como se os leitores não compreenderam bem suas nobres intenções: “A todos que não compreenderam exatamente minhas intenções e a maneira como penso, fica aqui minha honesta explicação. Reforço o meu mais profundo respeito à Constituição e às liberdades de pensamento e o respeito incondicional à União Nacional”.

Mas o pano de fundo, em que afloram boas intenções que inundam o “inferno”, é a recente derrota eleitoral de Bolsonaro. Único presidente a não se reeleger depois da redemocratização, foi o suficiente para tornar transparente o que pensam setores do grande empresariado, bispos e os chamados “gente de bem” (categoria composta em geral de gente da pior espécie). Espumando pelos cantos da boca, o preconceito racial e a xenofobia deixam de ser ditas apenas em círculos íntimos, para tomar as páginas dos jornais, na internet. Vitório Mediolli, prefeito de Betim, não conseguiu se segurar e usou seu espaço, como dono de jornal, para expor, sem pudor algum, o que pensa de nordestinos e pobres. Óbvio, agora diz que não foram suas intenções.

Respeitando que não fora sua intenção supor a separação do Nordeste do restante do país, o fato é que essa proposta volta e meia é ventilada das mais variadas formas nas redes sociais ou artigos de jornais. Aliás, é parte do programa da extrema-direita fascista nacional há décadas.

Na visão do megaempresário Mediolli existem Estados “eminentemente bolsonaristas” exuberantes, “punjantes” que produzem e pagam impostos. E, Estados “não-bolsonaristas” que vivem de subsídios do Estado, bancados pelos primeiros: “Inapelavelmente, o confronto eleitoral separou essas duas vertentes: quem mais produz em contraposição aos que menos geram resultados para a economia”, escreveu o o dono do jornal ‘O Tempo’.

Obviamente, o prefeito ricaço esquece de mencionar o Estado onde mora, em que Bolsonaro perdeu, e está situada a cidade que o acolheu como prefeito. Ou mesmo que na maior cidade do país, a “punjante São Paulo”, Bolsonaro perdeu. O prefeito mostra que desconhece a história do enorme êxodo do Nordeste ou interior de Minas Gerais para trabalhar nas fábricas e canteiros de obras em todo o país, superexplorados nos “punjantes Estados bolsonaristas”.

A sociedade doente imaginada por Mediolli não existe. Eis porque: Mediolli não produz absolutamente nada. Nem o “véio da Havan”, nem a família Gerdau, ou os acionistas do Itaú, Bradesco, Santander. Muito menos os executivos das multinacionais aqui instaladas, como da Stellantis (Fiat) ou Vallourec, Arcellor, centenas delas. Quem produz são os operários explorados por Mediolli e por toda essa lista de grandes empresários e banqueiros, que somando todos eles e suas famílias não chegam a 0,5% da população, e no entanto, ficam com a maior fatia da renda nacional para comprar seus iates, jatinhos, fazendas e luxos.

Esses trabalhadores que produzem são, em sua grande maioria, negros e negras, de pele clara ou escura, brancos, miscigenados, indígenas, que através de um trabalho coletivo, movem essa enorme engrenagem de gigantescas cadeias produtivas. Operando máquinas, transportando produtos ou trabalhadores, ou operando máquinas agrícolas, nos canteiros de obras, minas, etc… São trabalhadores que recebem baixos salários e na maioria das vezes extenuantes jornadas de trabalho e péssimas condições de trabalho. Situações agravadas pelas reformas Trabalhista e Previdenciária, apoiadas por Mediolli e Bolsonaro.

Mais adiante, em seu texto, soma-se mentiras: “caminhoneiros, que, mais do que qualquer categoria, transitam nas diversidades do Brasil e têm assim condições de avaliar costumes, modelos e modos de tocar a vida, continuam reagindo contra o PT”. Como se não tivessem aí as mãos invisíveis dos velhos latifundiários modernos do agronegócio. Os assassinos de lideranças camponesas e indígenas que agora querem manter um governo criminoso para continuar atacando o pantanal, a Amazônia e as terras dos povos indígenas. Para Mediolli, esses são verdadeiros patriotas. As lideranças das entidades de caminhoneiros negam veementemente que sua categoria esteja a frente das “pataquadas golpistas” dos zumbis bolsonaristas.

E, para encerrar com chave de ouro seu artigo grotesco: “Dessa forma, a divisão territorial, por meio de um ‘divórcio consensual’, está com suas sementes se espalhando. É preciso avaliar se isso será ‘menos pior’ do que a possibilidade de uma situação que possa caminhar para uma guerra civil. Dar a Lula o que é de Lula e a Bolsonaro o que é de Bolsonaro seguiria um antigo pensamento. O separatismo, presente em outros momentos da história brasileira, não seria, à primeira vista, a solução mais adequada, mas, nesse caso, a vontade popular, por meio de plebiscitos, seria talvez a única solução para resgatar a legitimidade ameaçada“.

Mediolli coloca como possibilidade a separação ou, com diz, o divórcio consensual entre Estados bolsonaristas e Estados não bolsonaristas. Por fim, dá um ar de democratismo ao colocar a “vontade popular, por meio de plebiscitos”, para supostamente “resgatar a legitimidade ameaçada.” De uma forma pouco velada, defende a solução de “dois estados”. Um governado por Lula e outro por Bolsonaro. Depois de apoiar o candidato derrotado, Mediolli propõe Estados eternamente “bolsonaristas”. Percebe-se nas entrelinhas um incomodo do prefeito com a alternância democrática via eleições. Um fato é verdade: seja numa ditadura militar ou na democracia burguesa os mesmos banqueiros e megaempresários sãos os que mantém seu domínio.

E a essa aproximação de Mediolli ao bolsonarismo devemos explicá-la melhor. Por “bolsonarismo” entende-se uma ideologia “protofascista”, abertamente machista, lgbtfóbica, xenófoba, que pretende a eliminação de quem discorda de sua política, e que prepara a escravização total da classe trabalhadora. É isso, Mediolli, o que defende para Minas Gerais, Betim e o povo brasileiro?

Por fim, é preciso em primeiro lugar repudiar o texto grotesco do dia 6, que relata o que pensa Mediolli. Mas também, que a classe trabalhadora e a juventude tomem consciência que não basta derrotar o bolsonarismo nas urnas. Essa ideologia burguesa “protofascista” está entranhada nos meios empresariais e é por ele financiado. Hoje, tomam as ruas contra os resultados eleitorais, mas continuará fustigando a democracia burguesa, pregando golpe de Estado e a imposição de uma ditadura militar. Seus bandos continuarão atacando os indígenas, LGBTs, e tentarão atacar as manifestações da classe trabalhadora e juventude. É preciso derrotar esses bandos bolsonaristas também nas ruas. É preciso preparar desde já a autodefesa de nossas organizações para não sermos pegos de surpresa.

É necessária uma explicação de partidos tidos como esquerda que fazem parte da prefeitura municipal de Betim, compartilhando o poder com o bolsonarista Mediolli.