O candidato Andrés Manuel López Obrador, apelidado de AMLO, venceu as eleições presidenciais do México no último dia 1º. Foi a terceira vez que AMLO concorreu. Chamado de esquerdista pela grande imprensa, sua vitória certamente expressa a grave crise política e social pela qual o México passou nas últimas décadas.
Por mais de 70 anos, o México foi governado pelo Partido da Revolução Institucional (PRI). A sigla é uma máfia que levou o país a uma brutal degeneração social, cuja maior expressão é o narcotráfico que governa parte do México. O tráfico tem nas suas mãos políticos e membros das Forças Armadas. É responsável por assassinatos, chacinas, perseguição política e desaparecimento de milhares de homens e mulheres. Estima-se que 100 mil pessoas desapareceram no México nas últimas décadas. O desaparecimento dos 43 alunos da Escola Normal Rural Raúl Isidro Burgos de Ayotzinapa, em 2014, é emblemático. Na época, os alunos foram sequestrados por policiais e mortos por membros do cartel de narcotraficantes.
Em 1994, entrou em vigor o chamado Nafta, tratado de livre comércio com os EUA e o Canadá que impõe um antes e um depois ao México. No dia em que entrou em vigor, explodiu a revolta dos camponeses de Chiapas, sul do México, que já antevia suas terríveis consequências. O Nafta ampliou como nunca a crise social do país. O tratado desnacionalizou a economia, arrochou e expulsou quase 6 milhões de pessoas do campo. Como consequência, aumentou em 80% a migração de mexicanos aos EUA. Eis a essência da crise migratória alardeada pela imprensa, que fez Trump (mas também Obama) adotar duras leis de migração.
O Nafta também promoveu o avanço acelerado das maquilas no país, ampliando o grau de exploração dos trabalhadores. Maquilas ou maquiladoras são empresas que fazem uma determinada parte de um produto destinado à exportação, como a montagem das partes ou a embalagem. Para baixar os custos, as multinacionais transferiram algumas dessas atividades para o México. Assim, as maquilas apenas montam um produto que depois é exportado.
Tudo isso foi mantido e aprofundado pelo presidente Enrique Peña Nieto que, em meio à eleição e aos jogos da Copa, assinou decretos para privatizar 300 bacias hidrográficas, o que significa 55% dos recursos fluviais do país.
Nenhuma confiança em AMLO
Há grandes expectativas entre milhões de explorados e oprimidos em AMLO, o que é produto direto da crise social do país e do desejo do povo de expulsar a máfia do poder. Contudo, também mostra a mais completa falta de alternativas reais no país.
A maioria viu em AMLO um candidato menos pior ou o menos corrupto. Sua eleição seria um tipo de punição aos tradicionais políticos corruptos e mafiosos. Nesse contexto, destaca-se um profundo ceticismo e total desconfiança em todos os políticos. Cerca de 45 milhões votaram, num universo de mais de 89 milhões de eleitores.
No entanto, a mudança que México precisa não virá das mãos de Lopes Obrador, apesar das expectativas daqueles que anseiam uma mudança de regime e lutam por um país soberano. “AMLO somente oferece ambiguidade e a continuidade das políticas dos governos dos últimos 30 anos. Seu projeto alternativo de Nação reproduz muitos dos esquemas neoliberais que mais danos causaram aos trabalhadores e ao país. Basta analisar as personagens provenientes da ‘máfia no poder’ que AMLO propôs para integrar o seu futuro governo. Que milagre transformará funcionários do Banco Mundial, da Monsanto, da TV Azteca, de milionários capitalistas e gerentes das corporações estrangeiras em ‘defensores da mudança?’”, questiona a Corriente Socialista de los Trabajadores de México, organização filiada à LIT-QI).
AMLO não deu nenhuma demonstração de que deseja mudanças reais. Ao contrário, tem sinalizado que vai manter tudo como está. Quando questionado sobre o Nafta, principal instrumento de dominação do México, respondeu que ele “é necessário”. Com relação ao desmantelamento da Pemex (a Petrobras do México) e dos contratos de leilão de áreas petrolíferas, embasados na lei “reforma energética”, AMLO propõe revisar os contratos, mas já disse: “durante três anos, não tocarei nas leis.” Isso significa que não vai reverter a entrega do petróleo mexicano às multinacionais. O novo presidente também realizou uma reunião com Larry Fink, dono do BlackRock, o megabanco que está comprando o City Banamex e monopolizando a maior parte do petróleo e de oleodutos mexicanos.
Não haverá mudança fazendo pacto com os capitalistas. A história dos recentes governos chamados de esquerda na América Latina, do chavismo ao lulismo, mostram exatamente que esse roteiro termina em traição, entreguismo e corrupção. Os problemas sociais do país só podem ser resolvidos por meio de uma revolução social. No caso do México, uma segunda revolução, que precisa completar a Revolução Mexicana realizada em 1917. A semente da mudança está na luta independente da classe trabalhadora mexicana.