A ficha criminal de Romero Jucá (PMDB – RR) não pára de crescer. Diariamente, os jornais brindam seus leitores com mais algum escândalo de corrupção do atual ministro da Previdência. Já virou rotina. Além do já farto cardápio de denúncias – que inclui sonegação ao INSS, compra de votos, fazendas fantasmas usadas como empréstimo, entre outros delitos – o ministro é acusado também de ter desviado dinheiro público para uma rede de TV de sua propriedade.

Jucá, como de costume, declarou que as acusações eram falsas e requentadas e disse que apresentará nos próximos dias um relatório de 20 páginas para ‘provar sua inocência’. O advogado contratado para tal defesa é Antonio Carlos de Almeida Castro, conhecido também como ‘Kakay’, que nas horas vagas administra uma famosa churrascaria em Brasília, muito freqüentada por políticos poderosos. ‘Kakay’ é considerado um especialista em lidar com escândalos. Num passado recente, ele defendeu o ex-banqueiro Salvatore Cacciola e a senadora Roseana Sarney (PMDB).

Lula defende Jucá
As contínuas denúncias contra Jucá se tornaram uma imensa dor de cabeça para o governo. Por enquanto o Planalto tem optado em sair na defesa do ministro desqualificando as acusações. No dia 19, o próprio Lula defendeu publicamente o ministro dizendo que por enquanto só há ‘muitas insinuações’. “Eu não posso tirar ou colocar ministro em função desta ou daquela manchete de jornal”, afirmou o presidente. Dessa forma Lula acoberta, como no caso de Meirelles, todos os ‘cambalachos’ dos seus ministros corruptos. O ministro da Justiça, Marcio Thomaz Bastos, também se somou ao coro daqueles que tentam desqualificar as denúncias contra Jucá. “Estas denúncias são antigas, estão sendo requentadas”, menosprezou Bastos.

Pressão contra o Ministério Público
As denúncias contra Jucá estão agora nas mãos do Ministério Público (MP). O governo pretende que a instituição se manifeste sobre a defesa de Jucá. Caso o MP aceite as denúncias, a crise vai se incendiar. “O MP denunciou Jucá múltiplas vezes desde os tempos de Roraima. Ele está sendo processado desde a década de 80, quando era presidente da Funai. Na época ele fez uma lei que permitia que madeiras em terras indígenas e jazidas fossem vendidas para empresários”, declarou ao Site do PSTU o Procurador da República Luiz Francisco de Souza.

Mas o MP sofre pressão. Artigos publicados recentemente pela imprensa levantam a hipótese de que o governo federal possa retaliar o MP, retomando leis, como a chamada “Lei da Mordaça”, que impedem os procuradores revelar detalhes das investigações. Na opinião de Luiz Francisco, o governo quer domesticar o MP, mas não acredita que o governo tenha condições de desengavetar esse tipo de projeto. Para ele o governo pode utilizar uma técnica mais sutil. “A domesticação passa pelo famigerado “conselhão” (Conselho Nacional do MP e o Conselho Nacional da Justiça), conhecido como controle externo do MP, cuja a composição hegemônica é de pessoas indicadas pelo governo”. Dessa maneira, explica Luiz Francisco, procuradores podem sofrer processos infligidos por esses Conselhos.

Segurando o rojão
A defesa do ministro corrupto feita pelo governo é uma tentativa desesperada de preservar as pontes erguidas entre os líderes governistas e o PMDB. Lula precisa do apoio desse partido para viabilizar sua reeleição em 2006. A queda de Jucá será um duro golpe contra essas pretensões.

De acordo com uma reportagem da Folha de S. Paulo, publicada no dia 19 de abril, Lula estaria dando sinais, em conversas reservadas com seus assessores, de que poderia retomar a reforma ministerial para incorporar mais indicações dos partidos burgueses aliados (PMDB e PP). Dessa forma, o petista pretende suavizar a crise e tentar recuperar a maioria governista no Congresso, além de avançar num leque de alianças com esses partidos em 2006. Quer dizer, dependendo do avanço dos escândalos contra Jucá, o governo poderá até afastá-lo. Contudo, vai abrir um novo loteamento ministerial para que ingressem novos corruptos. Ou alguém dúvida que os picaretas indicados por Severino Cavalcanti não vão levar algum dessa vez?