Leia trechos da entrevista coletiva de Sotires Martalis (membro da Federação dos Funcionários do Serviço Públicos da Grécia), durante o ConclatComo você vê a atual situação de seu país?
Vocês viram na TV a luta do povo grego. Não é um problema grego senão mundial, uma crise mundial. A explosão da bolha financeira provocou uma crise mundial.
A queda do Banco Lehman Brothers fez com que os Estados sustentassem o sistema bancário e agora ocorre uma crise dos Estados, da dívida pública.
A Grécia tem um déficit de 300.000 euros, e os bancos buscam lucrar com esta situação. O Estado deu 38 bilhões a estes bancos. Agora, para manter as finanças públicas o governo ataca os trabalhadores e aposentados. Assustam com o “colapso”: que não vai haver dinheiro para hospitais, escolas, etc. Há cortes de até 50% nos salários públicos, aumento de impostos dos produtos básicos de consumo e outros ataques como cortes no salário mínimo de 740 a 640 euros. O movimento de massas deu respostas: quatro greves nacionais e mobilizações, em todo o país. O ponto alto foram os 500.000 nas ruas, em maio passado. Os trabalhadores dizem que a questão é do sistema, não nossa. Quem vai pagar a conta da crise? Na Grécia, a classe governante está fazendo uma experiência, para os países chamados PIGs. É um problema geral. Se o plano na Grécia passar, isto tem importância para a Grécia, Europa e todo o mundo. Por isso, esperamos a solidariedade de todo o mundo.
Como se organizam os trabalhadores gregos?
Na Grécia existe um movimento sindical muito forte com peso da esquerda. Existem duas confederações sindicais: uma dos setores públicos (Adedy), com 500.000 trabalhadores, e outra do setor privado (GSEE), com 1.500.000. Os partidos atuam dentro das centrais. O setor majoritário na direção sindical dos setores públicos é o PASOK (partido “socialista!”, atual governo).
Como os trabalhadores avaliam a atuação das centrais? Existem questionamentos aos seus dirigentes, por exemplo, daqueles ligados ao governo?
Existe uma grande pressão das bases na central que é dirigida pelo PASOK mas eles se adaptam. Então, não existe um grande questionamento. Os trabalhadores, em seus sindicatos de base, tomam a decisão de fazer as greves por baixo, lutam por elas e as fazem. Por exemplo, a greve de 17 de dezembro nasceu de baixo, as centrais estavam contra, mas a greve se deu e as centrais assumiram a convocatória. Existem discussões dentro dos sindicatos, mas se tomam decisões unificadas. Os líderes das centrais que se opõem têm que acabar aceitando.
Como os trabalhadores e o povo grego vêem a presença do país na UE e na zona do euro?
Este é o grande problema. Em 1997, quando se definiu a entrada na zona do euro, os trabalhadores pensaram que teriam uma vida melhor. Esse era o discurso das classes dominantes: o salário e as condições de vida melhorariam. Mas as pessoas viram que essas promessas eram mentiras. Por exemplo, meu salário como professor é a metade dos outros países da zona do euro. Então, agora, há dois questionamentos. O primeiro é quem toma as decisões: o centro europeu ou os gregos? O segundo é que os trabalhadores gregos querem estar com a Europa e a maioria está a favor da UE, mas não “esta” UE dos banqueiros, mas uma de conteúdo social, favorável aos trabalhadores. Quer dizer, ainda não está colocada a ruptura com a UE, mas isso pode ir amadurecendo na consciência.