As manifestações da jornada nacional de lutas do dia 23 foi uma grande vitória da classe trabalhadora do país. De norte a sul, operários, sem-teto, sem-terra, estudantes, professores e servidores públicos foram às ruas contra as reformas previdenciária e trabalhista do governo Lula, que pretende retirar direitos históricos dos trabalhadores. Todas as formas de lutas foram utilizadas: greves, passeatas, ocupações, atos de protesto, ocupação de hidroelétricas e bloqueio de estradas e avenidas.
No total, cerca de 1,5 milhão de trabalhadores e estudantes participaram de alguma forma de protesto. A grande maioria teve a participação decisiva da Conlutas, que jogou todas suas forças na realização das manifestações, que foram muito superiores aos atos em defesa do governo organizados pela CUT.
A vitória das mobilizações do dia 23 se deve, sobretudo, à crescente insatisfação dos trabalhadores e refletem um aumento da temperatura social do país, expresso em greves e lutas de diversas categorias. Os protestos, porém, não foram apenas uma contundente prova de disposição de luta: mostraram também que um horizonte de lutas está se abrindo. As lutas vieram pra ficar e mostram que o segundo mandato do governo Lula será bem diferente do primeiro.
Papelão da CUT
Em muitas capitais, a CUT dividiu o movimento e realizou atos em separado, cujo caráter era de defesa do governo federal. Tentou restringir os protestos ao apoio ao veto à Emenda 3, mas a manobra não logrou o resultado esperando.
Em São Paulo, por exemplo, o ato convocado pela central na frente da Fiesp reuniu, no seu auge, cerca de 600 pessoas. Muito abaixo das expectativas dos dirigentes governistas que esperavam 10 mil pessoas. Perante o fracasso, dirigentes da entidade participaram do ato contra as reformas, realizado à tarde na avenida Paulista. Os dirigentes, entretanto, não escaparam da indignação dos ativistas. Muitos vaiaram a CUT quando o presidente da central estava intervindo.
No Rio de Janeiro, a CUT disse que não participaria do protesto chamado pelo Fórum Nacional de Lutas. No entanto, os governistas aderiram de última hora ao protesto, depois que a atividade já reunia cerca de 7 mil pessoas.
No ato unificado de Salvador, os dirigentes da CUT tentaram impedir que sindicalistas da Conlutas criticassem o governo cortando o som do microfone. Não conseguiram. Para desespero dos dirigentes da CUT, seguiram-se coros contra Lula e contra o governo como: Ô Lula que traição, essa reforma é reforma do patrão.
Manipulação da imprensa
As manobras da governista CUT tiveram uma mãozinha da grande imprensa. Sites de notícias e telejornais mostravam os protestos de hoje como se eles se limitassem ao apoio ao veto da emenda 3. Trata-se de uma manobra consciente desses órgãos, cujo objetivo é impedir a veiculação de qualquer enfrentamento contra o governo.
São aliados do governo na preparação de uma forte campanha ideológica que tentará enganar a população sobre a necessidade das reformas. Nessa campanha mentirosa, destaca-se a Rede Globo, que está em plena campanha a favor reforma da previdência, tentando convencer o povo que a aposentadoria no Brasil é uma das mais generosas do mundo.
Além das lutas que sacudiram o país, neste dia 23 também foi possível testemunhar uma aliança formada pela grande mídia com a CUT, todos unidos na defesa do governo Lula.
Manifestações sacodem todas regiões
Em Minas Gerais a mobilização foi antecipada em algumas categorias. Os metroviários paralisados sua atividades desde do dia 22 de maio. A paralisação prosseguiu no dia 23. Além disso, sem-terra ligados ao MTL (Movimento Terra, Trabalho e Liberdade) ocupam a sede do Incra, em Belo Horizonte, desde a noite do dia 22.
Já na manhã do dia 23, trabalhadores do Hospital Santa Casa de Misericórdia, maior hospital privado da capital, paralisaram sua atividades. Estudantes interditaram varias ruas da capital. Os trabalhadores em educação de diversos municípios também pararam, com destaque para as cidades de Belo Horizonte, Contagem, Divinópolis e Pirapora.
Em Contagem, trabalhadores em educação, servidores da saúde realizaram uma manifestação conjunta no centro comercial da cidade.
No Sul de Minas, a Conlutas, movimentos dos sem-terra, estudantes e sindicalistas da região bloquearam a Rodovia BR 381 Fernão Dias. Em Congonhas, os mineiros da Cia. Vale do Rio Doce da Mina da CSN paralisaram suas atividades por duas horas. Também acontecem manifestações em Uberlândia e Uberaba, no Triângulo Mineiro.
Em São Paulo, mesmo a garoa e a temperatura em torno dos 18ºC, não impediram a mobilizarão. Já na parte da manhã, professores da USP, reunidos em assembléia, decidiram entrar em greve e agora se reúnem a luta dos estudantes e funcionários que ocupam a reitoria da universidade. Cresce também a mobilização nas universidades paulistas. Unicamp já entrou em greve e a Unesp deve entrar a qualquer momento.
Cerca de dez agências e dois centros do Banco do Brasil paralisaram total ou parcialmente suas atividades contra o plano de reestruturação do governo.
Durante à tarde, uma passeata bloqueou a avenida Paulista. O protesto reuniu professores estaduais, servidores, estudantes da USP que caminharam em direção a Assembléia Legislativa. Houve confronto com a polícia.
Apesar da forte chuva, os protestos sacudiram as fábricas de São José dos Campos e região. Metalúrgicos da GM fizeram uma passeata de dois quilômetros. A produção da empresa foi atrasada em duas horas na entrada do primeiro turno. Na Bundy, do setor de autopeças, também houve atraso de uma hora na produção. Também houve paralisação na LG.Philips, Gerdau, Winnstal, Swissbras e Tecsat, e na Sadefem, em Jacareí. Em todas as assembléias os trabalhadores repudiaram as propostas que modificam a legislação e reduzem direitos históricos.
Houve repressão policial na Swissbras, empresa das Chácaras Reunidas. A PM agiu com arbitrariedade e violência e dirigentes sindicais foram presos.
Mesmo com a repressão policial, nada pode ofuscar a marca desse dia nacional de mobilização, que dá um forte recado ao governo Lula de que os trabalhadores não aceitam redução de direitos, disse Luiz Carlos Prates, o Mancha, da direção dos sindicato dos metalúrgicos.
Cerca de mil trabalhadores da ocupação Pinheirinho, localizada na Zona Sul de São José, ocuparam a Via Dutra.
Ativistas do MLST (Movimento de Libertação dos Sem-Terra) protestaram ocuparam um pedágio e uma rodovia em Ribeirão Preto.
No Rio de Janeiro, houve uma manifestação com 7 mil pessoas. Participaram da manifestação, além da Conlutas, setores da CUT e da Corrente Sindical Classista, ligada ao PCdoB. Vale lembrar a CUT aderiu de última hora ao protesto, pois planejava realizar outra manifestação pró-governo, defendendo o veto a emenda 3 .
No entanto, o ato foi explicitamente contra a política do governo Lula e contra as reformas neoliberais. As palavras-de-ordem mais cantadas foram 1, 2, 3, 4, 5 mil, ou param as reformas ou paramos o Brasil. O MST também fechou três rodovias federais no interior do estado.
No Rio, foi muito importante a unidade de ação, mas pra que essa luta se torne realmente conseqüente, é preciso que esses setores [CUT, CSC] rompam com o governo, defendeu Cyro.
No Pará, o dia de luta começou com a ocupação da usina hidrelétrica de Tucuruí (PA) por manifestantes do Movimento dos Atingidos por Barragens e do MST (Movimento dos Sem-Terra). No meio da tarde Lula mandou o exercito para desocupar o local.
Em Belém (PA), cerca de cinco mil pessoas, segundo os organizadores, participaram do ato contra as reformas previdenciária e trabalhista. O protesto reuniu professores estaduais, o MST e ativistas da Conlutas e Intersindical. O destaque ficou para os trabalhadores da construção civil. Cerca de 2.500 operários estiveram presentes.
Durante o piquete nos canteiros de obra, os operários foram violentamente reprimidos pela Polícia Militar, que utilizou balas de borracha, bombas de efeito moral e gás pimenta contra os manifestantes. A truculência policial deixou 14 feridos.
Em Fortaleza (CE), operários da construção civil também se destacaram na mobilização. Foram bloqueadas pelo Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST) a BR-222 e a BR-116, duas rodovias importantes do estado.
Em Pernambuco, o dia de lutas foi marcado pela greve dos condutores de metrô. Os professores da rede municipal e da rede estadual no ensino também paralisaram. Os trabalhadores da educação estão em plena campanha salarial e se incorporaram massivamente a jornada de lutas contra as reformas neoliberais.
Aproximadamente 3 mil pessoas participaram da passeata do dia 23, realizada no centro de Salvador. A manifestação teve como eixo central a luta contra as reformas neoliberais do governo Lula. A CUT participou da atividade, mas para desespero dos governistas, seguiram-se coros contra Lula e contra o governo como: Ô Lula que traição, essa reforma é reforma do patrão.
Em Alagoas, cerca de 300 ativistas interditaram o tráfego na BR-101 por mais de quatro horas.
Pela manhã, os trabalhadores municipais de Porto Alegre, realizaram um grande protesto em frente à prefeitura da cidade. A manifestação reuniu cerca de 4 mil pessoas e marcaram um greve de três dias do setor. Trabalhadores da educação do Estado, ligados à Oposição Unificada, do Cpers (Sindicato dos Trabalhadores da Educação do Rio Grande do Sul), se incorporaram ao protesto. Houve bloqueios de ruas próximas. Foi quando a Brigada Militar agiu com truculência e reprimiu os manifestantes. O confronto deixou várias pessoas feridas. A ação brutal da polícia, entretanto, não impediu o bloqueio das ruas e a resistência obrigou a polícia a recuar.
A CUT realizou uma atividade à parte, limitada à defesa do veto à Emenda 3, que reuniu apenas 400 pessoas.
Em Florianópolis (SC), cerca de cinco mil pessoas foram às ruas numa passeata unificada contra o governo e suas reformas. A Conlutas teve uma presença de peso. Todos os setores do funcionalismo federal, que está em luta, estiveram na manifestação, bem como os trabalhadores da segurança pública que estão em greve, com uma coluna bastante significativa. Também participaram representações da CUT, UNE, MST e CSC. A juventude também foi destaque na passeata, com um número grande de ativistas.
Joaninha de Oliveira, que falou representando a Conlutas, destacou a importante vitória da atividade. Esta é uma luta vitoriosa que demonstra a disposição e a força dos trabalhadores para derrotar Lula e suas reformas, disse.
Marcha à Brasília no 2° semestre
A jornada de lutas foi um marco que aponta para o início da retomada das lutas do movimento de massas. No entanto é preciso avançar e desenvolver as luta específicas, como por exemplo, a ocupação da USP em São Paulo, as greves dos servidores federais e estaduais. Por outro lado é preciso avançar nas mobilizações gerais e unificar todas as lutas.
As mobilizações mostraram que existe uma conjuntura favorável para as lutas dos trabalhadores e da juventude. O governo não vive mais um mar de rosas. Lutas, greves e mobilizações prenunciam um período de turbulência que Lula vai ter que enfrentar. Por outro lado, o novo escândalo de corrupção, que resultou na queda de um ministro, pode assumir desdobramentos imprevisíveis para o governo.
Temos que apontar agora uma grande marcha a Brasília que reúna dezenas milhares de trabalhadores no segundo semestre desse ano, a fim de cobrar do governo as reivindicações da nota conjunta que convocou este 23 de maio, definiu José Maria de Almeida, da Conlutas.