Incêndio na Comunidade Kampala na Penha, Zona Leste de SP, expõe a realidade da desigualdade na cidade mais rica do país

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Incêndio na comunidade Kampala Foto Bombeiros PMESP
PSTU-Zona Leste (SP)

Mais um incêndio, mais uma tragédia se abate sobre a vida dos mais pobres. Dessa vez os atingidos são os moradores da Kampala, uma ocupação situada na Penha, Zona Leste de São Paulo. Neste momento, as famílias precisam urgentemente de ajuda. A Associação dos Moradores Kampala Para Todos e as Guardiãs do Bem, ONG que atua na comunidade, está fazendo uma campanha para arrecadar alimentos, roupas, lençóis (está muito frio) e o que mais puder confortar adultos, idosos e crianças atingidas.

As famílias precisam da solidariedade e muito mais. Tudo o que eles tinham foi devorado pelo fogo: móveis, roupas e eletrodomésticos. E acima de tudo: moradia. A Kampala, nome que remete à capital de Uganda na África, existe há décadas, tem mais de 5 mil famílias e já sofreu despejos, apesar de estar sobre um terreno público da Prefeitura e do Metrô de SP e nunca ter tido uma solução definitiva àqueles que lutam todos os dias para sobreviverem e morarem dignamente. São tragédias que acontecem todos os anos com o povo pobre em nosso país. Seja a chuva ou o fogo. O pouco que têm é levado pelas águas, pela lama ou pelas chamas.

Uma vela iniciou o incêndio em um dos barracos e uma pessoa ficou ferida. Isso mesmo: além de não ter moradia segura, as ruas da Kampala não têm iluminação pública nem redes de água e esgoto. Há quem suspeite que este seja mais um incêndio provocado para expulsar os moradores, já que a comunidade está no caminho de projetos de linhas de metrô e trem que levarão ao Aeroporto Internacional de Guarulhos, que tem o maior fluxo do país, e da especulação imobiliária, que avança sobre a Zona Leste de São Paulo para erguer empreendimentos lucrativos, ou seja, para os ricos.

É inaceitável que não exista até agora um projeto de moradia que garanta um lar seguro para toda a população da cidade mais rica do país. Esta semana foi votado o Plano Diretor da cidade de São Paulo e nele não consta esse quesito básico e essencial. O grande projeto do prefeito Ricardo Nunes (MDB) e do governador Tarcísio (Republicanos) é criminalizar os sem-teto, promovendo despejos de ocupações e proibindo que eles fiquem em praças e ruas do centro da cidade. Seu projeto é higienização social, escondendo a desigualdade e a miséria que só aumenta em São Paulo, junto com o desemprego e a violência.

Na cidade mais rica do Brasil não existe lugar seguro para os mais pobres. Tudo é feito para gerar lucro como o plano diretor da cidade que privilegia sempre as grandes construtoras. As construções não são feitas em base ao atendimento das necessidades de quem precisa, mas de quem pode comprar e com isso gerar lucros aos grandes conglomerados imobiliários.

Vamos cercar de toda solidariedade as vítimas da Kampala. Entre alimentos e agasalhos, organizemos a luta por moradia para todos que necessitam.