Luiza Castelli,
do Opinião Socialista
A participação no Plebiscito Nacional sobre a Alca surpreendeu: entre 1º e 7 de setembro, 10,14 milhões de pessoas votaram nas mais de 41 mil urnas montadas em 4 mil municípios brasileiros. O objetivo inicial, superar os 6 milhões de votantes no Plebiscito sobre a Dívida Externa, em 2000, foi batido com larga folga.
O resultado, entregue no dia 17 para o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal, ainda era parcial, pois faltavam ser apuradas algumas urnas em São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Bahia.
Participação nos estados
Em todos os estados houve uma maior participação inclusive na organização do Plebiscito, que envolveu mais de 150 mil pessoas em todo o país. Foi expressivo o número de votantes em cidades pequenas, nas urnas montadas por comunidades e associações de bairro, além das votações nos acampamentos e assentamentos do MST. Nos grandes centros urbanos, teve peso a participação dos Sindicatos, que promoveram o Plebiscito inclusive em bancas de rua.
São Paulo foi o estado com maior número de votantes (2,33 milhões). Na capital, só nas urnas montadas pelo Sindicato dos Metroviários nas estações do Metrô, votaram 30 mil pessoas. A zona Leste (Região Belém) teve 50 mil votantes e a Sudeste (Região Ipiranga), 30 mil. O número de participantes em outras regiões do estado, comparado com a votação conseguida no Plebiscito sobre a Dívida, também dá uma idéia do quanto a discussão sobre a Alca mobilizou sindicatos e entidades do movimento popular. Na Baixada Santista, votaram 40 mil pessoas em 2000 e 98 mil esse ano. São José dos Campos teve 58 mil votantes no Plebiscito sobre a Alca, mais que o dobro dos 26 mil votos conseguidos no Plebiscito sobre a Dívida. Em Campinas, a participação passou de 50 mil para 86 mil.
No Rio de Janeiro, um exemplo de como a questão da Alca mobilizou o estado foi a participação dos estudantes. Como só foi permitido aos maiores de 16 anos votar, em algumas escolas os alunos organizaram urnas separadas ou abaixo-assinados, nos quais manifestaram seu desagrado com a entrada do país na Área de Livre Comércio das Américas. O Rio foi o terceiro estado com maior número de votantes no Plebiscito (742 mil pessoas), atrás de Minas Gerais, que arrecadou 1,29 milhão de votos.
PSTU destaca-se na realização do Plebiscito
Os militantes do PSTU estiveram na linha de frente da realização do Plebiscito em todos os setores em que atuam. Alguns exemplos foram dados em São Paulo e Minas Gerais. Na Avenida Paulista, em São Paulo, foram recolhidos 5 mil votos na urna do Sintrajud (Sindicato dos Trabalhadores do Judiciário), dirigido por companheiros do MTS. Os metalúrgicos de Contagem (MG), que impulsionaram o Plebiscito na cidade, levaram 8 mil pessoas a votarem nas urnas organizadas pelo Sindicato.
Também fomos o único partido que utilizou a propaganda política no rádio e TV para promover a votação e o Grito dos Excluídos, o que fez com que o PSTU ficasse conhecido como “o Partido do Plebiscito”. No Rio de Janeiro, a principal banca de rua foi organizada pelo Partido na Cinelândia e teve 4.500 votos. Outro exemplo da atuação do Partido aconteceu em Fortaleza (CE): muitas pessoas, após assistirem aos programas, procuraram a sede regional do PSTU, onde mantivemos uma urna permanente, para darem seu voto contra a Alca e a entrega da Base de Alcântara.
No Pará, em todas as bancas de votação organizadas pelo PSTU, houve boa receptividade e interesse em conhecer nossas propostas políticas. “Teve muita iniciativa de pessoas que ligaram do Estado todo para a sede do partido, querendo fazer o comitê, organizar a votação, pegar urnas e cédulas”, afirma Joaquim Magalhães, militante do Partido em Pernambuco.
Grito dos Excluídos reúne 150 mil em Aparecida-SP
A 8ª edição do Grito dos Excluídos, em 7 de setembro, teve atos expressivos nas principais cidades do país, reunindo milhares de pessoas para protestar contra a entrada do Brasil na Área de Livre Comércio das Américas (Alca). Em Aparecida (SP), onde tradicionalmente ocorre o principal ato, 150 mil participaram do protesto. Sob o lema “Soberania não se negocia”, os manifestantes fizeram a votação simbólica do Plebiscito sobre a Alca.
Como afirma Zé Maria, candidato à Presidência da República pelo PSTU, “tanto o Plebiscito como os atos do Grito dos Excluídos tiveram grande participação, expressando a tomada de consciência de uma parcela importante da população sobre a luta contra a Alca e a entrega da Base de Alcântara aos EUA”. Zé Maria participou da manifestação em Aparecida e votou no Plebiscito em São Paulo, no dia 6 de setembro, em urna montada pelo Sintrajud em frente ao prédio da Caixa Econômica Federal da avenida Paulista.
Nas outras regiões do país, o Grito dos Excluídos também teve atos importantes. Em todos, não foi aberta a palavra para representantes de partidos políticos, mas o PSTU teve colunas, faixas e participação expressiva.
Na capital paulista, cerca de mil pessoas se reuniram em frente ao Museu do Ipiranga, local onde foi declarada a independência do Brasil, para exigir a independência de fato do país. Minas Gerais teve manifestações em diversas cidades, com destaque para a passeata seguida de ato público no centro de Belo Horizonte, que contou com mais de três mil pessoas.
Em Porto Alegre, como já acontece há vários anos, o desfile militar para o Dia da Independência foi encerrado com a entrada de cerca de mil manifestantes levando faixas contra a Alca e o FMI. Recife (PE) teve quatro mil pessoas em passeata pelas ruas centrais da cidade. Em Belém (PA), o ato do Grito dos Excluídos reuniu cinco mil pessoas e correu sem incidentes. No dia anterior, uma manifestação contra a Alca na cidade de Ananindeua, região metropolitana de Belém, foi reprimida pela Polícia Militar.
ESTADOS | N.º DE MUNICÍPIOS | N.º VOLUNTÁRIOS P/ URNAS | URNAS APURADAS | TOTAL VOTANTES |
Acre | 9 | 150 | 22 | 12.333 |
Alagoas | 102 | 272 | 136 | 96.472 |
Amapá | 10 | 168 | 84 | 16.404 |
Amazonas | 27 | 744 | 186 | 88.527 |
Bahia | 375 | 4.000 | 2.000 | 770.067 |
Ceará | 116 | 3.600 | 1.800 | 424.238 |
Distrito Federal | 15 | 942 | 471 | 91.397 |
Espírito Santo | 58 | 6.100 | 3.035 | 380.975 |
Goiás | 92 | 2.744 | 1.372 | 219.406 |
Maranhão | 184 | 2.752 | 1.376 | 263.388 |
Mato Grosso | 110 | 2.240 | 1.120 | 138.710 |
Mato Grosso do Sul | 72 | 2.800 | 700 | 140.403 |
Minas Gerais | 550 | 9.030 | 1.505 | 1.297.750 |
Pará | 77 | 4.458 | 2.332 | 270.888 |
Paraíba | 142 | 5.000 | 1.200 | 224.528 |
Paraná | 306 | 7.500 | 2.500 | 706.009 |
Pernambuco | 150 | 2.400 | 800 | 226.884 |
Piauí | 101 | 2.310 | 770 | 108.103 |
Rio de Janeiro | 62 | 4.176 | 1.392 | 742.254 |
Rio G. Norte | 120 | 900 | 450 | 104.565 |
Rio Grande do Sul | 369 | 12.183 | 4.061 | 548.512 |
Rondônia | 53 | 4.056 | 1.352 | 171.893 |
Roraima | 12 | 220 | 25 | 12.085 |
Santa Catarina | 210 | 10.776 | 2.694 | 531.764 |
São Paulo | 457 | 27.315 | 9.105 | 2.337.063 |
Sergipe | 60 | 3.489 | 1.163 | 186.194 |
Tocantins | 55 | 535 | 107 | 38.730 |
TOTAL | 3.894 | 120.860 | 41.758 | 10.149.542 |
Resultado do Plebiscito a partir das respostas às perguntas
O Brasil deve assinar o tratado da Alca?
Sim 113.643 (1,12%)
Não 9.979.964 (98,33%)
Brancos 32.291 (0,32%)
Nulos 23.738 (0,23%)
O Brasil deve continuar participando das negociações para a implantação da Alca?
Sim 341.593 (3,37%)
Não 9.737.190 (95,94%)
Brancos 47.470 (0,47%)
Nulos 23.289 (0,23%)
O governo brasileiro deve entregar parte de nosso território – a Base de Alcântar – para controle dos EUA?
Sim 66.219 (0,65%)
Não 10.006.740 (98,59%)
Brancos 1.100 (0,01%)
Nulos 21.547 (0,21%)