Foto: Santos Futebol Clube/Divulgação
Rebeldia - Juventude da Revolução Socialista

João Pedro Andreassy Castro, torcedor do Corinthians e militante da Juventude Rebeldia e do PSTU

Às vésperas do clássico Alvinegro (Santos x Corinthians) na Vila Belmiro, uma situação no mínimo estranha pairou sobre o clima já tenso de um clássico do futebol Paulista.

No dia 24 de fevereiro, apenas dois dias antes da partida importantíssima para a sobrevida do Santos no Campeonato Estadual, uma nota assinada pela diretoria e pelo presidente Andres Rueda foi emitida. O teor da nota? Reclamar da escalação da árbitra Edina Alves para apitar a partida.

Tal atitude não passou despercebida, visto que o Santos não costuma, como ocorre com alguns clubes, soltar notas para todo e qualquer acontecimento. Por outro lado, reclamações oficiais para a federação paulista sobre a escalação de juízes é algo pouco comum, portanto, seria de se perguntar por que, num ambiente predominantemente masculino, foi justamente uma mulher o alvo de questionamento.

Obviamente, os clubes de futebol têm direito (se não o dever) de se pronunciar, e se pronunciam, perante atitudes da arbitragem que não lhes agradam e lhes dizem respeito, não só porque é parte do jogo, mas inclusive porque ao apontar possíveis erros, contribuem com a melhora do preparo dos profissionais. O problema com a nota do Santos, contudo, é exatamente que ela não se propõe a isso, trata-se de uma nota vaga, que faz referência a dois jogos, um até do ano passado, em que a arbitra teria cometido “erros capitais”, mas sem especificar os erros.

A nota em questão, portanto, parece ser apenas mais uma expressão do machismo naturalizado no futebol e na sociedade, que julga a mulher pelo fato de ser mulher e não pelo seu desemprenho profissional, de modo que, qualquer falha eventualmente cometida transforma-se em motivo marcá-la, irremediavelmente.

Importante ressaltar que a arbitragem brasileira não é propriamente conhecida por seu alto nível, mas Edina, ao contrário é, de certa forma, até um ponto fora da curva, já que é reconhecida como uma das poucas brasileiras a se qualificarem pelo selo da FIFA de arbitragem. Isso não a imuniza de cometer erros. No próprio clássico paulista do final de semana, alguns corinthianos ficaram na bronca com a juíza, por sua atuação no jogo. Porém, isso não significa que ela faça um trabalho ruim. Edina é conhecida como uma juíza de decisões fortes e que não se intimida, como outros juízes, com a torcida ou os jogadores fazendo pressão. É uma profissional competente e deve ser respeitada.

O que sim é digno de nota, infelizmente, é o histórico recente e problemático da diretoria do Santos na luta contra o machismo. Quem não se lembra, por exemplo, que em 2021, o alvinegro praiano tentou contratar Robinho, mesmo sabendo da acusação de abuso sexual que pesava contra ele? Tal fato gerou revolta na mídia e principalmente na torcida santista (essa sim, digna de admiração, pela disposição de evitar que a história do clube fosse manchada por esse triste episódio), mas nem isso levou o Santos a rescindir o contrato de Robinho, somente quando os patrocinadores ameaçaram romper contrato com o clube, a passagem dele pelo time foi encerrada.

Diante de tudo isso, não nos resta outra opção a não ser repudiar a nota do Santos questionando Edina, numa nítida tentativa de desqualificá-la como juíza. Não podemos tolerar que as profissionais do esporte mais amado do Brasil sigam sendo tratadas dessa forma. Chega de machismo no futebol e na sociedade!