Deyvis Barros, do Ceará (CE)

Após a enxurrada de ameaças de atentados contra escolas, os governos se apressaram em apresentar propostas que, além de insuficientes são, em muito casos, diretamente reacionárias, como o policiamento do espaço escolar.

Em oposição a isso, as comunidades em várias escolas pelo país se organizaram para se defender. O Opinião Socialista mostra iniciativas no sentido de defender as escolas realizadas pelo país.

Zona Norte de SP: escola realiza assembleia e manifestação

Em São Paulo, na zona norte da capital, uma escola realizou assembleia, discutiu as ameaças que vinham sofrendo e tirou medidas para combatê-las. Estiveram presentes mães, pais e alunos, além de professores e funcionários.

De acordo a professora Flavia Bischain, a assembleia teve como objetivo enfrentar o medo com consciência política e organização: “Discutimos sobre o que estava na raiz desse problema, apontando o papel de discursos e práticas opressivas contra mulheres, negros, LGBTIs e como a organização de grupos neonazistas influenciam nos ataques. Várias mães se posicionaram contra a presença de policiais na escola. Depois discutimos medidas concretas para nos organizar e resistir contra essa onda de violência”.

Entre as medidas tomadas na assembleia está a formação de um comitê contra a violência na escola, para que a comunidade se mantenha organizada. Ao invés de ceder ao medo, a comunidade escolar decidiu realizar uma manifestação de rua, que ocorreu no último dia 19, como resposta às ameaças de ataques que estavam sendo convocadas para o dia 20.

Plenária virtual na Zona Sul de SP

Também na capital paulista, a comunidade de uma escola municipal na Zona Sul realizou uma plenária virtual no dia 20 para discutir a onda de violência e os ataques contra escolas.

A plenária foi realizada no horário de almoço e, segundo o professor Lucas Simabukulo, muitas mães e pais de alunos pegaram seu intervalo para participar do debate. “Passamos orientações sobre como lidar em casos de violência e decidimos nos manter a postos para reagir a qualquer ameaça. Parte da discussão que fizemos foi sobre a necessidade de apoiar a luta do dia 26 de abril, em defesa da educação e contra o Novo Ensino Médio. Parte do combate à violência nas escolas passa por defender outro projeto de educação, que não seja voltado para responder ao mercado”, afirmou.

Escola do Recife realiza protesto

A comunidade de uma escola na periferia de Recife, capital de Pernambuco, que foi alvo de ameaça de ataque, se organizou e realizou uma manifestação para reagir contra a violência.

De acordo com a professora Claudia Ribeiro, a comunidade não quis esperar calada: “Decidimos reagir. Chamamos os sindicatos da categoria, mas a prioridade foi a organização da própria comunidade, com mães, pais professores e estudantes. Saímos às ruas chamando as pessoas que moram no entorno a participarem da luta em defesa da nossa escola”.

Sindicato dos Metalúrgicos organiza reunião em Jacareí (SP)

Ativistas do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região, procurado por pais e mães que queriam fazer alguma coisa para se defender contra as ameaças, organizou uma reunião para discutir medidas.

Segundo Gabrielly Andade, o Gabi, do PSTU de Jacareí, que esteve na reunião, “a indignação dos pais começou porque as escolas orientaram apenas que olhassem as mochilas dos filhos. Um completo despreparo. O sindicato abriu as portas para reunirmos e discutir o que fazer. Os pais e mães já tentaram ter iniciativas para se organizar e a direção da escola não permitiu. Então decidimos chamar outra reunião agora com estudantes e professores, além de mães e pais, para nos organizar desde baixo”.

Entenda

Medidas do governo federal são insuficientes

O governo Lula (PT) anunciou que liberaria R$ 3 bilhões para o combate à violência nas escolas. Mas quase todo esse dinheiro era referente a valores já previstos no orçamento. Os recursos novos são insuficientes e em sua maior parte destinados ao policiamento pela ronda escolar.

Se desejasse combater a violência, além de investimento sério em educação, o governo precisaria no mínimo revogar o Novo Ensino Médio que, para atender os interesses da burguesia, impõe um modelo de educação sucateado para os filhos dos trabalhadores. Também seria necessário anular a Reforma Trabalhista que precariza condições de trabalho e nega o direito a condições dignas de vida aos jovens.

Os exemplos descritos acima são apenas algumas das muitas iniciativas que as comunidades escolares tiveram no país inteiro. Diante dessa situação de ameaças é importante estar organizados para exigir dos governos medidas contra o sucateamento da educação e por direitos à juventude.

Ao mesmo tempo é preciso estarmos organizados para nos defender. O exemplo das escolas que montaram comitês para sua autodefesa é muito importante e pode ser seguido onde existirem ameaças.