No último dia 28, a Embraer anunciou que o seu lucro líquido, nos primeiros três meses do ano, simplesmente quadruplicou: atingiram R$ 174,3 milhões de reais, ante os R$ 44,1 milhões do mesmo período, no ano anterior. Ou seja, uma alta de quase 300%. O assunto foi manchete em todos os jornais de economia do país. A empresa ainda acumula uma carteira de US$ 16 bilhões, em dólares de pedidos firmes.
Se, por um lado, os lucros da Embraer aumentam de forma vigorosa, podem ter certeza que é à custa de maior exploração dos trabalhadores. A empresa é a que mais causa doenças ocupacionais na região. Tudo graças ao ritmo acelerado de trabalho e processos de trabalho repetitivos, além de muito esforço físico.

A Embraer aplica um forte processo de reestruturação produtiva, conhecido como “Lean”, que basicamente se resume a “produzir mais, com menos pessoas”. Os trabalhadores são forçados a mudanças no chão de fábrica que buscam a reduzir o número de trabalhadores que cumprirem determinadas funções.

Pela metade
Com alto índice de rotatividade, se trabalha mais e se ganha menos. E muitos trabalhadores que foram demitidos na crise de 2009 foram recontratados, mas com uma drástica diminuição em seus salários.

O metalúrgico José Pedro**, de 26 anos, foi um dos 4.270 demitidos em fevereiro de 2009. Conseguiu uma vaga de operador de máquina numa empresa de São José dos Campos, ganhando R$ 1.380.

No inicio deste ano, foi recontratado pela Embraer, com salário mensal de R$ 1.504,80. “O salário deixa a desejar. Em todas as entrevistas de emprego que fiz, nunca teve uma proposta de salário que fosse maior que R$1.500,00”, diz o operário.
“É humilhante voltar a trabalhar no mesmo hangar que trabalhava antes, com as mesmas ferramentas e amigos e receber bem menos do que ganhava antes. Junto comigo também entraram outros que foram demitidos no facão de 2009”, relata José Pedro, que em fevereiro de 2009 ganhava cerca de R$ 3.620 por mês. A diferença no salário dele é de R$ 2.110,80. “Pelas contas que fiz, hoje a Embraer paga dois funcionários com o salário que eu recebia antes”, afirma o metalúrgico.

Mas a Embraer conseguiu piorar essa matemática. O mecânico Luiz Inácio também foi demitido da Embraer no final de 2009. Após quase dois anos trabalhando no comércio informal, foi chamado pela Embraer para uma entrevista de emprego. A vaga era para a mesma função, pois a empresa queria aproveitar sua experiência e conhecimento, pois o metalúrgico tinha trabalhado cerca de 10 anos na empresa. Porém, o trabalhador ficou surpreso, pois a vaga era para trabalhar na outra unidade da empresa, na cidade de Botucatu, a 268 km de São José dos Campos. Por ser outra base sindical e a fábrica ser nova na cidade, o piso salarial é mais baixo. Sem alternativa, Luiz foi para outra cidade, ganhando cerca de R$ 960 por mês. Antes da demissão, Luiz recebia cerca de R$3.200.

Mas se o salário foi rebaixado, as contas de Luiz aumentaram. Casado e com filhos, ele precisa sustentar a família em São José e ainda pagar aluguel para passar a semana em Botucatu. “O que gasto com minha família, aluguel e comida aqui em Botucatu, mais as viagens não dá pra pagar com meu salário”. Luiz conta que teve que entregar a casa em que morava e sua esposa se mudou para a casa dos pais. “Tenho que dar graças a Deus por minha esposa morar na casa dos pais. Só vim pra cá porque o salário do comercio é muito baixo e se conseguir me garantir aqui, um dia eu trago minha família pra cá”, conta.

*Trabalhador da Embraer e vice-presidente dos Sindicados dos Metalúrgicos de São Jose dos Campos
** os nomes verdadeiros foram omitidos para evitar retaliações
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