Os amigos de Geddel sentiram o chão balançar
Redação

Vale roubo ilegal, roubo legal, o seu emprego e até a sua aposentadoria

Temer e o Congresso parecem não ter noção da sua impopularidade, falta de legitimidade e fragilidade. Certamente, acreditaram, como outros desnorteados, que depois dos resultados eleitorais podiam tudo. Não podem.

Numa única semana, o Congresso tentou aprovar uma anistia ampla aos corruptos, com aval de Temer, do PMDB, do PSDB, do DEM, do PT, do Solidariedade, do PP e de outros partidos. Agora, o ex-ministro Geddel Vieira, tentou dar uma carteirada sobre o Instituto do Patrimônio Histórico (Iphan) e viabilizar um prédio ilegal em benefício próprio.

A coisa veio à tona porque o ministro da Cultura, Marcelo Calero, se demitiu, denunciou o fato e gravou sua conversa com Temer. O presidente tentou dar uma ajudinha a Gedel, já que Calero não queria interferir.

Com a denúncia e a demissão de Calero públicas, Temer, Renan Calheiros, Rodrigo Maia (DEM) e Aécio Neves (PSDB), disseram que isso era um fato menor e… truco! Mantiveram Geddel como ministro. Em seguida, surgiram gravações envolvendo Temer.

Resultado: Temer perdeu mais dois ministros, seis ao todo até agora. Mas, muito mais importante do que os problemas nas alturas, é que o humor geral das ruas e as labaredas da indignação subiram ao ponto de o Planalto se dar conta de que estavam andando na corda bamba.

Esse é um governo frágil. Até o ex-presidente FHC (que não ficou atrás em corrupção), disse que o governo Temer é uma pinguela e não uma ponte a ser atravessada até 2018. Nisso, FHC está certo. Por isso mesmo, o PSDB correu a socorrê-lo.

O caso é que há um enorme descontentamento da classe operária, da classe trabalhadora e do povo pobre da periferia. Todos amargam um índice alarmante de desemprego, de cortes de verbas e desmantelamento dos serviços públicos, de arrocho salarial, ameaça a direitos e falência de estados. Somam-se os setores médios, que foram às ruas contra a corrupção e o governo Dilma e ameaçam voltar pelo Fora Temer.

É por medo que o governo, Rodrigo Maia e Renan, agora dizem que, se a anistia ampla ao caixa 2 passar, eles vetam.

Diante da fragilidade geral, vai se esgotando a trégua  também da própria burguesia, de grandes empresários, banqueiros e agronegócio. Eles querem jogar a crise nas nossas costas e recuperar seus lucros. Por isso, Temer e o Congresso vão tentar mais do que nunca mostrar serviço e acelerar a aprovação da PEC 55, bem como a reforma da Previdência.

Marcelo Odebrecht

Delação da Odebrecht envolve pelo menos 200 políticos
Em março, surgiu uma lista de 300 nomes de políticos mencionados nos documentos apreendidos pela Polícia Federal na operação Lava Jato. 

A empreiteira, depois de muito resistir, aceitou fazer delação premiada, na qual pelo menos 80 executivos vão delatar mais de 200 políticos corruptos. Entre eles, além de PMDB, PP e PT, estão Aécio, Serra, Alckmin, José Aníbal (todos do PSDB), entre outros. Estima-se em US$ 2,5 bilhões a multa que a empreiteira vai pagar (entorno de R$ 8,5 bilhões).

A delação envolve a maioria dos políticos do Congresso e dos grandes partidos. Como a maioria tem foro privilegiado, serão julgados pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

A lista da Odebrecht e uma eventual delação de Eduardo Cunha explicam a correria para tentar aprovar uma lei que anistie os corruptos.

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Odebrecht e demais corruptores e corruptos não nasceram hoje
Tem gente que, diante da roubalheira defende, a volta da ditadura militar, acreditando que essa não roubava. Ledo engano. Roubava muito e ainda impedia qualquer denúncia e qualquer protesto.

Bilhões foram desviados das obras faraônicas da ditadura (Rodovia Transamazônica, usinas Angras 1, 2 e 3 e hidrelétrica de Itaipu, entre outras). Como não havia nenhuma fiscalização, e a ditadura não prestava contas, nunca saberemos exatamente o quanto foi desviado. Além disso, a imprensa estava sob censura. Qualquer notícia sobre corrupção era barrada. Ou seja, se você denunciasse um corrupto, podia ir para a cadeia. A Odebrecht está hoje no centro das investigações da Lava Jato. A empreiteira, porém, sempre esteve muito próxima do poder. Na ditadura militar, no governo Médici (1969 a 1974), “quando Geisel assume a presidência da Petrobras, ele passa a contratar sistematicamente a Odebrecht; quando assume a presidência do país [1974-1979], a empresa dá um salto”, explicou o historiador Pedro Campos à revista Caros Amigos. Segundo o historiador, em 1971, a empresa era a 19ª maior construtora do país. Dois anos depois, alcançava o terceiro lugar.

Sob FHC, a corrupção veio igualmente forte. Além das empreiteiras, banqueiros e privatizações estiveram no centro. A reeleição de FHC, por exemplo, custou caro.  Para mudar a Constituição, houve um pesado esquema de compra de votos. Gravações revelaram que os deputados Ronivon Santiago e João Maia, do PFL do Acre, ganharam
R$ 200 mil cada para votar a favor do projeto. As maletas de dinheiro rolavam soltas. Mas os escândalos não pararam aí.

A privatização da Vale foi feita por apenas R$ 3,3 bilhões, enquanto seu preço era estimado por especialistas em, pelo menos, R$ 30 bilhões. O que foi pago por ela equivale, hoje, ao lucro trimestral da empresa. Foi um grande escândalo, denunciado pelo jornalista Aloísio Biondi. Mais escandalosa ainda foi a privatização da Telebras, um jogo de cartas marcadas que envolveu diretamente FHC e lideranças tucanas. São alguns exemplos entre tantos escândalos, envolvendo informações privilegiadas a banqueiros.

Agora, sob o governo do PT em aliança com PMDB, PP e cia., a corrupção continuou de vento em popa. Só a Odebrecht e a OAS, numa única obra, na Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, conseguiram um superfaturamento de R$ 2,1 bilhões, destinando 3% a propinas.

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Um sistema ladrão
O sistema capitalista e a corrupção andam juntos. Não há capitalismo ético. Quando esgota ou fica limitada a faixa de exploração (o roubo do trabalho do trabalhador, ou seja, do trabalho não pago que o capitalista lhe arrebata), os capitalistas apelam para a expansão dos seus negócios via Estado, privatizações, propinas ou quaisquer meios legais ou ilegais.

O capitalismo nasceu roubando. Na sua decadência, o roubo explícito vem à tona: sonegação, evasão de divisas, lavagem de dinheiro, contratos superfaturados de obras públicas e tudo o mais.

O ex-governador do Rio, Sérgio Cabral, chegou a lavar dinheiro só via compra de joias com dinheiro vivo num montante de quase R$ 2 milhões. Assim como levaram nossas estatais a preço de banana, superfaturaram obras e deram propina para políticos, daqui a pouco vão querer privatizar o ar que respiramos.

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Dívida pública é um roubo
A Auditoria Cidadã da Dívida denuncia que a maior corrupção do país é legalizada no sistema da dívida, que consome quase a metade do orçamento federal, grande parte dos orçamentos estaduais e municipais, sem nenhuma transparência.

A dívida pública é um roubo legalizado que leva 42% do que o país arrecada todos os anos, devido aos juros de agiota que o governo e o mercado decidem. Esse dinheiro sai da saúde, da educação, da habitação e dos programas sociais direto para o bolso de meia dúzia de banqueiros.

É por isso que nenhum governo, nem do PSDB, nem do PT, nem do PMDB, aceita fazer uma auditoria da dívida pública.

Nenhuma confiança na Lava Jato: prisão e confisco dos bens de todos os corruptos e corruptores
Diferentemente de parte das correntes de esquerda que defendem a impunidade de corruptos ou dizem que que a Lava Jato é uma manobra imperialista, defendemos a prisão de todos os corruptos e corruptores. Também alertamos os trabalhadores, contudo, para que não depositem confiança na Lava Jato.

Todos os corruptos devem ir para a cadeia, e os corruptores, como a Odebrecht e demais empreiteiras e bancos devem ter seus bens confiscados, o que inclui expropriar, sem indenização, suas empresas, estatizá-las e colocá-las sob controle dos trabalhadores.

A Lava Jato e todo o Judiciário não merecem confiança. Não é garantia que investiguem e punam também o PSDB. Sempre é bom lembrar que o poder Judiciário é tão corrupto quanto o Legislativo e Executivo.

Basta fazer um levantamento dos escândalos do Judiciário ou dar uma olhada na porcentagem de juízes, desembargadores e promotores que recebem acima do teto constitucional de R$ 33.763, um salário escandaloso num país em que o mínimo é de R$ 880. Ou seja, os gastos com esses senhores do Judiciário somam quase R$ 10 bilhões, ou mais de 11 milhões de salários mínimos.

Por Mariúcha Fontana, da Redação

Publicado originalmente no Opinião Socialista nº 529