Eleições 2016: Voto em ninguém bate recorde no 2º turno das eleições

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Redação

A insatisfação das massas com os políticos, o PT e todo o sistema político se expressou novamente no 2º turno das eleições para as prefeituras municipais ocorridas no último domingo dia 30.

Apuradas as urnas, os dados são categóricos. De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), os eleitores que não compareceram às urnas no 2º turno das eleições municipais, somado aos votos brancos e nulos, bateram recorde e totalizaram 10,7 milhões de pessoas em todo o país.

O total de abstenções no 2º turno foi de 7,1 milhões de eleitores (21,6% do eleitorado), que somados aos 936 mil votos brancos (4,28% dos votos) e 2,7 milhões de votos nulos, correspondem a 32,5% dos 32,9 milhões de eleitores aptos a votar nesta eleição.

O enorme rechaço ao PT e ao sistema político em geral, que já havia se expressado no 1º turno das eleições, é produto, por um lado, da grande insatisfação com a crise econômica e social pelo qual passa o país, mas, sobretudo, da profunda desilusão das massas, que romperam com o PT, principalmente a partir do estelionato eleitoral ocorrido em 2014, potencializado pelos escândalos de corrupção.

O desencanto com as urnas não é casual, explodiu nas ruas em junho de 2013, nem específico das eleições ocorridas no Brasil, mas é parte de um processo internacional de crise e questionamento da democracia burguesa.  Há uma enorme desconfiança das massas com um sistema que não atende suas necessidades, pelo contrário só lhes traz desemprego, miséria e violência.

Desde a explosão da crise financeira em 2008, ocorreram movimentos como o Occupy Wall Street, os indignados da Espanha, a Primavera Árabe, Junho de 2013 e agora o “não voto” no Brasil.  Esse processo de crise da democracia burguesa é global e em princípio progressivo, pois setores de massas começam a questionar o mito da democracia, da mudança através das eleições, e a não mais se identificar com um regime que nada tem a lhes oferecer.

Evidentemente, como as eleições são o terreno da burguesia, os resultados das urnas são uma expressão distorcida da luta de classes. No caso dessas eleições, PSDB e PMDB se beneficiaram com a diminuição dos votos válidos com a ampla abstenção e os votos nulos e brancos e, também, de uma parcela de voto castigo ao PT. Mas, ainda assim, nenhum partido capitalizou o espaço do PT. Sequer o PSOL conseguiu capitalizar esse processo, apesar do aumento do número de vereadores eleitos no país.

Sem dúvida alguma, PSDB e PMDB se utilizarão de suas vitórias eleitorais para atacarem mais ainda os trabalhadores e a juventude, vide a aprovação pela Câmara dos Deputados da PEC 241 depois do 1º turno.  Porém, é um erro conclusões apressadas de setores da esquerda a partir desses resultados eleitorais. Esses setores, ao se pautarem somente pelos resultados eleitorais, e não pela luta dos trabalhadores, tiram conclusões equivocadas. Os trabalhadores não estão derrotados. A correlação de forças se define na luta de classe e os governos eleitos são menos representativos, estruturalmente mais frágeis e vão ter que enfrentar as massas para aplicar um programa que as levaram romper com o PT.

Há uma luta em curso e o nosso terreno são as ruas, as greves. É preciso se apoiar na insatisfação das massas expressa nas lutas e também nas urnas e avançar na organização e unificação das lutas rumo à greve geral para derrotar a reforma da Previdência, trabalhista, a PEC 241 e defender nossos direitos, o emprego, a saúde, a educação, a moradia. E na mobilização, abrir caminho para a superação dessa democracia dos ricos, para que os trabalhadores possam vir a governar diretamente através de conselhos populares. As ocupações generalizadas de escolas são um exemplo.

A esquerda precisa tirar conclusões da derrota do PT, que privilegiou as eleições, a manutenção do sistema e as alianças com a burguesia. Nas mobilizações é preciso avançar no fortalecimento de uma alternativa operária, revolucionária e socialista.

Rio de Janeiro: “Não voto” supera votação do prefeito eleito Crivella

Prefeito eleito pelo Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, do PRB
Prefeito eleito pelo Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, do PRB

No2º turno, o Rio de Janeiro reafirmou a vocação de capital do “não voto” que já havia se manifestado nas eleições de 2 de outubro. A soma das abstenções com os votos brancos e nulos totalizou 2.034.352 eleitores, ou 41,53% do eleitorado superando a votação recebida por Crivella, que foi eleito por 1.700.030 (34,71%) votos.

crivella-posse-dilmaNuma eleição marcada pela crise econômica e política, o Rio de Janeiro também refletiu o fenômeno de insatisfação das massas com a crise econômica, o PT e o regime, que ocorreu em nível nacional. Crivella também se beneficiou da queda de votos válidos e do voto castigo no PT e foi eleito somente por 1/3 do eleitorado. Crivella representa os setores mais retrógrados da burguesia carioca e sua eleição é responsabilidade também do PT, que o nomeou Ministro da Pesca no governo Dilma e cujo patrono, José de Alencar, foi vice de Lula.

A candidatura de Marcelo Freixo (PSOL), que arregimentou um grande apoio na juventude e em setores médios da sociedade, ao se aliar com o PT na defesa do mandato de Dilma e não apresentar um programa de ruptura com os empresários e o regime, não conseguiu empalmar a grande massa de descontentes e insatisfeitos com o PT e os políticos em geral.

O PSTU chamou o voto crítico em Freixo no 2º turno das eleições e cerrou fileiras para derrotar Crivella, mas defendeu que o candidato do PSOL colocasse sua campanha a serviço da construção da Greve Geral contra as reformas de Temer e revisse seu programa para, entre outras questões, romper com a Lei de Responsabilidade Fiscal e anular os contratos com as OS’s a fim de garantir saúde, educação, enfim, uma prefeitura para os trabalhadores.

Ao contrário disso, às vésperas do 2º turno da votação pela Câmara dos Deputados da PEC 241, Freixo, lançou carta intitulada “Compromisso com o Rio”, que buscava tranquilizar o mercado ao garantir, entre outros pontos, manter o “equilíbrio fiscal” e os contratos em situação regular, assim como Lula fez com a “Carta aos Brasileiros” em 2002, que levou o PT a governar para banqueiros e empresários cujo resultados foram desastrosos para os trabalhadores.

Desde antes do 1º turno, os acenos de Freixo aos empresários, ao mercado, se fizeram sentir, seja nas declarações de que não se pode “demonizar a iniciativa privada” e na disposição em conversar com o PSDB e PSD no segundo turno, seja na lamentável posição de defesa do estado sionista de Israel e de Shimon Peres.

O PSOL, ao apresentar um programa que não rompe com o capital e defende apenas algumas reformas no sistema, caminha no sentido de repetir os mesmos erros do PT.

Por J. Figueiredo, do Rio de Janeiro (RJ)