Eduardo Barragán conheceu Moreno quando este estava exilado na Colômbia. Muito emocionado, ele nos conta como foi a sua convivência com o velho revolucionário, seu retorno para a Argentina e os últimos dia de sua vida

Como foi sua convivência com Moreno?

Eduardo Barragán – Eu conheci Moreno em Colômbia em 1976, no seu exílio e com ele tive uma experiência de militância política de 11 anos. Fundamos com ele a Tendência Bolchevique, com um punhado de companheiros e com grupos, e depois criamos a Fração Leninista Trotskista com a qual se deu a batalha com o Secretariado Unificado.

Nos anos 80, dentro de uma política de internacionalização dos quadros defendida por Moreno, vim para a Argentina, onde estou até hoje. Foi em 1981 ou 82, não me recordo…

A ditadura já estava terminada na Argentina?

Barragán – Moreno chega quando já havia terminado a ditadura argentina, depois da caída de [Leopoldo] Galtieri. Era o período prévio ás eleições de 1983, ele chega em setembro de 82. E até as eleições Moreno fica clandestino dentro do país. Entrava na sede (clandestina) de nosso partido às 5h da madrugada das segundas-feiras e se retirava tarde da noite das sextas-feiras, para ir passar o final de semana com a sua família. Toda essa experiência política nos fez estreitar laços com Moreno.

Eu convivi com ele até o dia de sua morte e tive uma grande experiência pessoal com ele, porque vivíamos na mesma casa. Fui eu que o levei na clinica no dia do infarto que o levou a morte. Junto com a experiência política tive uma experiência pessoal que na minha maneira de ver foi muito rica.

Com Morenos aprendemos a construir a Internacional, construir nossos partidos, a nos ligar a classe operária, uma grande paixão política de Moreno. E no último período de vida de Moreno, aprendemos a respeitar, a defender e promover a democracia operária, tanto dentro de nossos partidos como na classe trabalhadora.

Não é casual que Moreno mostrou que o trotskismo está identificado, nesta etapa da revolução mundial, com a defesa da democracia operária, por que não há outra corrente que luta por isso com tanto esforço e paixão como o trotskismo. Creio que isso é um ensinamento extraordinário, pois essa democracia operária permite que a enorme diversidade de experiências produzida pela revolução mundial possa conviver num partido político que atue centralizado e atue com um só homem no movimento operário.

Como está sendo esse ato para alguém que teve uma convivência tão próxima de Moreno?

Barragán – (Com a voz embargada) Para mim, ver os trabalhadores da delegação de Minas Gerais repetindo os mesmo cantos que foram entoados no enterro de Moreno é emocionante. E ver isso dentro de um processo de reunificação da LIT e do trotskismo é profundo e muito emocionante mesmo.