Presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira. recebe o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. Foto José Cruz/Agência Brasil
Redação

Alguns setores da esquerda nos acusam de minimizar a luta contra a ultradireita, quando dizemos que os trabalhadores e trabalhadoras não devem apoiar o governo Lula.  Mas, hoje, se olharmos para o Brasil, vemos que é o governo quem ajuda a ultradireita. 

Nos últimos dias, assistimos uma sucessão de chacinas promovidas pelas PMs. Há, aí, o dedo da ultradireita bolsonarista, que governa São Paulo e o Rio de Janeiro. Mas, também, do PT, que governa a Bahia, um dos estados com a PM mais assassina do país. 

O pior é que, mesmo diante da tragédia da violência do tráfico ou da polícia, que se abate sobre os trabalhadores e moradores das periferias, em particular a juventude negra, o governo federal não toma nenhuma iniciativa para conter a violência policial, avançar na desmilitarização das PMs ou sequer aborda o problema da descriminalização das drogas para poder enfrentar o negócio bilionário do tráfico.

Na verdade, foi Lula que aprovou a Lei de Drogas, em 2006, responsável pelo agravamento do encarceramento da juventude pobre e negra, com uma legislação que perpetua o racismo e preconceito de classe.

Apesar do PT ter ganho a eleição com um discurso contra a política de segurança pública de Bolsonaro, na prática, tanto nos estados que governa quanto no governo federal, o partido de Lula vem reproduzindo a velha política de segurança racista, a serviço dos ricos. 

Não é à toa que o governo comemore, e coloque como uma conquista sua, o avanço da privatização dos presídios. É literalmente a mercantilização e geração de lucro com o encarceramento em massa, em um país onde só se prende pobres e negros.

Governando com e para a burguesia

No terreno econômico, o governo anunciou um corte de verbas de R$ 452 milhões da Saúde e R$ 332 milhões, da Educação. Tudo isso para respeitar o Teto de Gastos criado por Temer. O novo Arcabouço Fiscal, proposto pelo governo, segue a mesma lógica do Teto de Temer. 

Quando denunciamos e fazemos exigências ao governo do PT, os setores da esquerda governista retrucam, dizendo que Lula está fazendo o possível, dentro da força que tem. Isso não é verdade, inclusive porque, se de fato quisesse acumular mais força para fazer medidas em favor dos trabalhadores, ele teria que enfrentar a burguesia e os capitalistas, desde já. 

Mas, o setor que vem implementando medidas que favorecem a burguesia, e não os trabalhadores e trabalhadoras, é próprio PT. Por exemplo, o Arcabouço Fiscal do jeito que a burguesia gosta foi feito por Haddad e por Lula. Não pela ala direita do governo. 

Não é que o PT esteja apresentando propostas boas aos trabalhadores e elas são derrotadas pela direita. Mas, sim, que ele próprio apresenta medidas que agradam a direita. 

Um governo que diz defender os trabalhadores, mesmo governando no capitalismo, poderia e deveria tomar medidas contra os interesses da burguesia e, assim, lutar por uma nova correlação de forças. 

Não é isso que Lula faz. E não por um problema de correlação de forças. Mas, sim, porque o governo, por suas alianças, projeto e composição, é da burguesia e conta com apoio dos monopólios internacionais e dos países imperialistas. 

Não governam para os trabalhadores

O que impede Lula de apresentar um projeto de desmilitarização da PM? Ou Haddad de apresentar um arcabouço social e não fiscal? Qual a dificuldade em propor um aumento do salário mínimo no valor do Dieese, de R$ 6.676,11, em detrimento do lucro das multinacionais e dos bilionários?

Caso ameaçassem com demissão, que o governo as estatizasse, colocando-as sob controle dos trabalhadores.

Apresentar estas propostas a partir do próprio governo federal, caso o governo realmente fosse dos trabalhadores, seria possível e mobilizaria os trabalhadores, a juventude e o povo pobre. Lula e o PT não fazem isto porque defendem a manutenção dos interesses da burguesia e o aprofundamento do capitalismo.

Se quisesse libertar os trabalhadores, precisaria usar o Estado contra a burguesia, o imperialismo e a direita, para quebrar a própria máquina do Estado capitalista, se apoiando na mobilização dos trabalhadores e não na governabilidade com o Centrão. 

Afinal, do que adianta um governo de esquerda ganhar a eleição para governar como a direita? Isso só ajuda a ultradireita. Mas, mesmo com “cara de esquerda”, este projeto capitalista não consegue resolver os problemas mais sentidos pelo povo. Está fadado, em algum momento, a desmoralizar, de alguma forma, a classe trabalhadora, como já vimos acontecer recentemente. 

Construir uma alternativa com independência de classe

Se os trabalhadores não construírem uma alternativa sua, com independência dos diferentes setores burgueses, é mais provável que a direita capitalize um descontentamento contra o atual projeto capitalista do PT. Por isso, está colocada, com certa urgência, a tarefa de construir uma alternativa política, que se contraponha aos dois blocos burgueses, tanto o de Lula quanto o de Bolsonaro.

Não se trata de torcer para que Lula faça um bom ou mau governo. Mas de saber que apoiar o governo não ajuda na construção de uma saída para os trabalhadores. Na verdade, atrapalha; pois nos deixa a reboque de um setor burguês e capitalista, inclusive tornando a luta contra a oposição de ultradireita muito mais difícil.  Sem construir uma mobilização independente, com exigências ao governo e denunciando os seus ataques, a situação dos trabalhadores pode piorar.

Os trabalhadores precisam reivindicar o que é seu. Para esta luta, é preciso exigir que as entidades do movimento, como CUT, a UNE e o MST, rompam com o governo e com a patronal. 

Em setembro, teremos o 5° Congresso da CSP-Conlutas, que servirá como um ponto de apoio nesta luta por um movimento social, sindical e popular com independência de classe.

Junto com isso, é fundamental fortalecer um partido que defenda um projeto revolucionário e socialista para o Brasil e o mundo, que seja uma oposição de esquerda, dos trabalhadores, ao governo Lula; para, assim, inclusive, derrotarmos de uma vez por todas a ultradireita, ao invés de “negociar” com ela.