Redação
Enquanto fechávamos esta edição, o Congresso Nacional aprovava bilhões para o pacote eleitoreiro de Bolsonaro. Para fazer isso, decretou um “estado de emergência”. Qual emergência? A pobreza e a crise social agravadas pela inflação, justificam os bolsonaristas. Ora, há quanto tempo que vemos a miséria crescendo, o preço nos supermercados disparando, os salários acabando cada vez mais cedo? Bolsonaro só se lembrou que existe pobre há três meses das eleições.
Na verdade, a tal da “emergência” decretada pelo governo nada tem a ver com as 33 milhões de pessoas passando fome hoje no país, ou a queda de quase 8% na renda no último ano. A verdadeira emergência para essa gente é perder as eleições. Bolsonaro promoveu um verdadeiro genocídio durante a pandemia. “Não sou coveiro”, é a frase que o povo não esquece diante das centenas de milhares de mortes, a maior parte causadas justamente pelo atraso nas vacinas e a corrupção instaurada em pleno Ministério da Saúde.
A resposta que Bolsonaro deu às mães que perderam seus filhos, ou aos órfãos da pandemia, foi o mais puro deboche. Foi imitar gente se sufocando. Foi espalhar remédio que nada faz para dar uma falsa sensação de segurança para o povo continuar trabalhando. Acuado, foi obrigado a conceder o Auxílio Emergencial de R$ 600, sendo que no início ele queria dar só R$ 200. Mas assim que pode, cortou o auxílio pela metade até extingui-lo, deixando mais de 40 milhões sem qualquer fonte de renda.
À gestão criminosa na pandemia se juntaram sucessivos escândalos de corrupção. As já conhecidas rachadinhas, interferência na Polícia Federal para salvar os filhos e a si próprio, até os casos mais recentes. Bolsonaro transformou o Ministério da Educação num balcão de negócios gerenciado por pastores picaretas que negociavam liberação de verbas em troca até de barras de ouro. Mais recentemente, o presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, caiu com a revelação de ser um abusador em série de mulheres. Como se não bastasse, ele pegou dinheiro do banco para pagar reformas em sua própria mansão.
O brutal assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips, que completava um mês enquanto fechávamos esta edição, expressa a barbárie motivada por este governo comprometido com o agronegócio, as madeireiras e as mineradoras. Para ele, indígenas e qualquer um que se coloque ao lado dos povos originários, ou do meio ambiente, são inimigos a serem eliminados.
‘Pobre só serve pra votar’
Enquanto o povo brasileiro se afunda na miséria, na fome e na carestia, Bolsonaro passeia de jet ski e faz motociata em horário de expediente. Em dois anos, torrou R$ 21 milhões com cartão corporativo. Chegando as eleições, se lembrou de que pobre existe. Mas ele continua pensando da mesma forma quando disse, em 2013, que “só tem uma utilidade pobre nesse país: votar”. “Título de eleitor na mão, e diploma de burro no bolso”, discursou.
O pacotaço de compra de votos de Bolsonaro tenta reverter parte de seu desgaste, mas não chega perto de resolver o problema da fome ou aliviar a situação da maior parte da classe trabalhadora. O aumento do Auxílio Brasil não garante nem uma cesta básica. O “pix-caminhoneiro” é uma afronta à categoria, e o vale-gás chega a uma pequena parcela das famílias mais miseráveis. E tudo isso até o final do ano.
Enquanto isso, os preços nos postos de gasolina continuam aumentando. O litro do leite se aproxima dos R$ 10, e um novo aumento da luz vem aí na esteira da privatização da Eletrobras.
Lula-Alckmin não é alternativa
A PEC do Desespero é um absurdo por ser compra descarada de votos, mas, principalmente, por não aliviar nem o sofrimento dos mais miseráveis. Mas a oposição, ao invés de denunciar isso, e exigir um auxílio de verdade, de pelo menos um salário-mínimo a todos os desempregados, estendendo o benefício a todos os 67 milhões que dependiam do Auxílio Emergencial e ficaram sem nada, fez o que? Votou com o governo!
Se Bolsonaro está comprando votos, a oposição, com o PT à frente, está garantindo isso ao não exigir medidas que realmente ataquem a fome, a miséria ou o desemprego. Simplesmente porque, para fazer isso, teriam que se atacar os interesses e os lucros dos bilionários, dos banqueiros e das multinacionais. E o PT, ou a chapa Lula-Alckmin não farão isso, pelo contrário.
Enquanto se discutia a PEC no Congresso Nacional, Lula se reunia com grandes empresários, como Luiza Trajano do Magazine Luiza, e os donos do Itaú, representantes do Google, e o presidente da Fiesp. Provavelmente, detalhando seu real programa de governo ao invés do conjunto de generalidades que divulgou na Internet. A Temer, o PT já disse que não irá revogar a reforma trabalhista.
Resta então a pergunta: o que fazer diante dessa crise? Defender os pilares da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), e se mostrar “responsável” perante o mercado, como Lula-Alckmin? Botar um economista dos banqueiros, como Lara Resende, para comandar a economia e deixar tudo como está? Ora, por que então não deixar Guedes lá?
Precisamos de um projeto socialista e revolucionário
É urgente um projeto alternativo e independente da classe trabalhadora, que rompa com a LRF, essas leis e instituições da burguesia cujo único objetivo é beneficiar banqueiro e perpetuar nossa miséria e exploração. E isso só se dá na luta e na organização da nossa classe, em defesa de um outro sistema. O que não dá para acreditar é que, votando com Bolsonaro no Congresso, a gente vai mudar alguma coisa, não é?
A pré-candidatura de Vera à presidência, pelo PSTU e o Polo Revolucionário Socialista, tem o objetivo de fazer esse debate. Ganhar o maior número possível de trabalhadores e jovens a essa ideia e estratégia, porque só assim nós vamos conseguir mudar alguma coisa, enfrentar a barbárie do dia-a-dia e esse sistema de fome, desemprego, exploração e opressão.
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