O Dia Nacional de Luta começou cedo em Belém. Antes mesmo das 7 horas da manhã, vários trabalhadores da construção civil se reuniam em frente aos canteiros de obra espalhados pela cidade. “Hoje é para tomar café no sindicato”, avisou um operário a um grupo que insistia em entrar no canteiro. Ao ouvir o ronco de um fusca e uma voz conhecida saindo do alto-falante instalado em cima do possante, saíam dos canteiros. Era Zé Gotinha, como é conhecido Francisco Jesus, diretor do sindicato da categoria. Atrás do fusca, empurrando o carro, que parava várias vezes no meio do caminho, dezenas de operários. O arrastão prosseguia. De obra em obra, até chegar ao sindicato.
O sentimento de indignação acompanhou os trabalhadores por todo o percurso. Os ataques do governo Dilma (PT), com a implementação das medidas provisórias 664 e 665, ferem direitos históricos, como abono salarial, seguro-desemprego e pensão por morte. Com cartazes e palavras de ordem, os trabalhadores mostraram que não estão dispostos a pagar a conta de uma crise pela qual não são responsáveis. “Dilma. Sou operário e não otário”, avisou Cláudio.
Aumento do custo de vida
O recente aumento na conta de energia também foi lembrado no ato. No início desta semana, a tarifa de energia elétrica no estado do Pará sofreu mais um reajuste, no valor de 3,6%. Este é o 16º reajuste na tarifa desde a privatização da Celpa, feita pelo PSDB, em 1998. Nos últimos oito meses, a conta de luz ficou quase 40% mais cara no Pará.
“Enquanto milhares de brasileiros sobrevivem com apenas um salário mínimo, os governos aumentam a conta de energia. E ainda tem o preço da gasolina, dos alimentos e dos aluguéis. É praticamente impossível chegar ao fim do mês com dinheiro, porque as contas levam o nosso salário assim que ele cai”, disse Zé Gotinha.
Mulheres operárias
Se é verdade que os ataques do governo federal afetam a vida dos trabalhadores, também é verdade que as mulheres trabalhadoras serão as mais afetadas. As trabalhadoras da construção civil parecem saber disso. Às vésperas do 8 de março, a coluna de operárias no ato era grande.“A rotatividade é muito alta na construção civil e, nós, mulheres, somos as mais afetadas. Por conta do machismo, a exploração é forte. Geralmente somos contratadas no final da obra e passamos três, seis meses… como vamos ter acesso ao seguro-desemprego assim?”, desabafou Márcia Lobato, da secretaria de mulheres do sindicato da construção civil.
PT e PSDB não nos representam
Ao final do ato, os operários se concentraram na Praça do Operário, em São Bras. Para o vereador Cleber Rabelo (PSTU), o ato foi um importante recado dado pelos trabalhadores tanto ao governo federal, quanto aos governos estadual e municipal. “Os trabalhadores no país inteiro estão insatisfeitos com o governo Dilma e o PT, mas também não querem a volta da direita. A saída para a crise nesse país é construir uma alternativa de poder da classe trabalhadora que seja independente dos governos e patrões”, disse.