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Central Sindical e Popular

Mais um evento climático que termina em promessas, mas sem compromissos e metas concretas. A Cúpula da Amazônia foi encerrada nesta quarta-feira (9) sob críticas de ambientalistas, movimentos indígenas e organizações sociais. Realizado em Belém (PA), nos dias 8 e 9, o evento reuniu chefes de Estado de oito países amazônicos para discutir questões relacionadas à preservação da Amazônia e desenvolvimento econômico na região.

A declaração de Belém, documento assinado por Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela, traz mais de 100 itens, mas, segundo denunciam organizações, reúne compromissos genéricos, sem a definição de medidas concretas para alcançar as metas sugeridas, principalmente para alcançar o desmatamento zero, vetar a exploração de petróleo na foz do Amazonas, um dos temas mais polêmicos em debate, e firmar uma posição contundente contra a tese do Marco Temporal.

Segundo o Observatório do Clima, “a declaração presidencial da 4ª Cúpula da Amazônia repete a sina de outras declarações multilaterais e nivela compromissos por baixo. Ao fazê-lo, num contexto de emergência climática, ela falha com a floresta e o planeta”.

Os elogios aos esforços do encontro se limitam a ressaltar que a iniciativa teve o mérito de reavivar a esquecida OTCA (Organização para o Tratado de Cooperação da Amazônia) e reconhecer que o bioma está sob ameaça de atingir um ponto de não-retorno, “mas que não oferece soluções práticas e um calendário de ações para evitá-lo”.

Ponto de não-retorno  é o termo utilizado por especialistas que alertam que a Amazônia se aproxima do ponto em que a destruição se torna irreversível e o bioma não consegue mais se regenerar. Estudos recentes indicam que, se o desmatamento ultrapassar 20%, o bioma entrará em colapso, em um efeito cascata de destruição, provocado pela soma da perda florestal com a mudança do clima. A floresta se tornaria uma savana empobrecida.

Em outro alerta, a Agência Internacional de Energia declarou que o mundo não pode autorizar mais nenhum projeto fóssil se quiser ter a chance de manter o aquecimento global em 1,5ºC.

Diálogos Amazônicos ignorados

Ativistas, pesquisadores e ambientalistas que participaram dos Diálogos Amazônicos, evento que antecedeu a Cúpula, nos dias 4 a 6, e reuniu organizações da sociedade civil, também denunciam que as diversas propostas elaboradas no encontro foram ignoradas pelos governos.

Ao site Amazônia Real, pesquisadores e lideranças indígenas criticaram a Declaração de Belém por conta das omissões e da falta de encaminhamentos sobre o fim do desmatamento e o veto à exploração do petróleo na foz do Amazonas que, vale destacar, teve o Brasil como principal entrave, já que o governo Lula se nega a descartar os planos de extração do combustível na região.

Para a indígena e integrante da Secretaria Executiva Nacional da CSP-Conlutas Raquel Tremembé “não tem supresa o resultado da reunião”. “São assuntos que temos debatido há muito tempo, como nas COPs [Conferência do Clima das Nações Unidas], em que se discute como evitar a devastação ambiental, mas o fato é que já estamos vivenciando a crise climática que se agrava a cada dia”, afirmou Raquel.

Infelizmente, fala-se muito, criam palcos como essa cúpula, mas não tem proposta concreta para barrar o desequilíbrio ambiental, a devastação, os ataques aos povos indígenas”, disse. “Inclusive, não dá para discutir a defesa do meio ambiente se não se falar em enterrar de vez a tese do Marco Temporal. Enquanto os territórios não estiverem protegidos, não há defesa do meio ambiente. Esse espaço deveria ter sido propício para ter realmente esse compromisso e acabar de vez com essa tese, mas não é o que vimos”.

Os discursos não garantem direitos, nem impedem a morte à bala. Essa continua sendo a realidade dos povos indígenas. As questões indígenas e ambientais são usadas por muitos como forma de propaganda. Políticos fazem isso todos os dias. Mas quando chega o momento de garantir nossos direitos, contra o agronegócio, muitos fogem. Por isso, nenhum passo atrás. Nossa confiança é em quem está na luta”, afirmou Raquel.

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