Roberto Aguiar, de Salvador (BA)
A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia foi instalada no Senado no dia 27 de abril, depois de decisão liminar do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso. A CPI terá 90 dias para seu funcionamento e é constituída por 11 membros titulares e sete suplentes, com o objetivo de apurar as ações do governo federal no enfrentamento à pandemia da Covid-19, em especial àquelas relacionadas à crise sanitária no Amazonas, quando o estado passou por um colapso na rede de saúde, com falta de insumos e oxigênio para os pacientes internados.
Quando fechávamos esta edição, os dois ex-ministros da Saúde de Bolsonaro – Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich – estavam prestando depoimento à CPI, na condição de testemunha, quando há o compromisso de dizer a verdade sob o risco de incorrer no crime de falso testemunho.
Bolsonaro fez de tudo para impedir a instalação da CPI. Não conseguiu. Agora faz de tudo para atrapalhar o andamento dos trabalhos. Sabemos que a maioria das CPIs criadas no Brasil não deu em nada. Terminaram em pizza, como se costuma dizer. Mas cada CPI é reflexo do momento político que vive o país. Esta é fruto do aprofundamento da crise resultante da pandemia e do colapso econômico e social, com o consequente desgaste da imagem de Bolsonaro.
Crise e queda da popularidade
Hoje, temos um governo em crise, com a popularidade em queda; dependente do Centrão para manter a governabilidade e que assiste ao deslocamento de uma ala expressiva do empresariado para a oposição. A própria CPI é parte desse deslocamento de um setor burguês para oposição.
A preocupação de Bolsonaro é que a CPI pode catalisar o descontentamento crescente com o governo, não só embaixo, mas de setores cada vez mais amplos da própria burguesia.
Aprofundar o desgaste
Há uma divisão interburguesa: um setor minoritário, que apoia Bolsonaro, e outro setor, hoje majoritário, contra o governo, mas que não é a favor do impeachment ou da derrubada do presidente genocida. Ao contrário, tem como estratégia sangrar Bolsonaro até 2022.
A CPI é parte desta política de desgaste. Não podemos achar que Renan Calheiros (MDB), relator da CPI, raposa velha da política brasileira, réu por corrupção e lavagem de dinheiro, está de fato preocupado com as mais de 400 mil mortes por Covid-19.
O choque entre estes setores burgueses é reflexo de uma disputa que visa às eleições de 2022. A dita esquerda parlamentar também tem apostado neste terreno, ao invés de chamar uma mobilização unificada pelo “Fora Bolsonaro e Mourão”. Isso é uma política desastrosa que, embora no discurso ataque o presidente, na prática o deixa governando livremente para continuar a matança na pandemia, passando por cima dos direitos e conspirando contra as liberdades democráticas.
Não dá pra esperar 2022
Derrubar Bolsonaro, já!
O governo está em crise, segue fragilizado. O pano de fundo dessa crise é a pandemia, combinada com a crise econômica capitalista, que opera sobre um processo de grande e longa decadência, de desindustrialização e recolonização do país.
Pandemia, desemprego, fome, carestia: tudo isso se abate com uma força tremenda, especialmente sobre a classe trabalhadora, a pequena burguesia, o semiproletariado e a legião de desempregados.
Apostar numa política de desgaste de Bolsonaro, visando apenas às eleições de 2022 é um crime. É pactuar e ser conivente com o genocídio imposto ao povo brasileiro.
Queremos que Bolsonaro seja responsabilizado pelos crimes cometidos contra nosso povo. Mas não podemos depositar nossa esperança em uma CPI composta por parlamentares que têm votado junto com o governo na maioria dos ataques à população.
Bolsonaro é um genocida. O número de vidas perdidas, o atraso na compra das vacinas, o questionamento público e diário que ele faz contra as medidas de isolamento, a falta de insumos básicos nos hospitais são resultados da postura negacionista adotada por ele desde o início da pandemia. Mas é preciso que se diga, também, que a postura de Bolsonaro tem cúmplices em vários estados e municípios. Governadores e prefeitos, inclusive da dita esquerda, também se omitiram ou tomaram medidas apenas parciais.
Só iremos superar a pandemia mudando os rumos da condução do país. Sem tirar da presidência esse genocida, nosso povo continuará sofrendo e outros milhares morrerão. É preciso derrubar Bolsonaro, já! Não dá para apostar que o Congresso, dominado pelo Centrão, vá responsabilizar os culpados pelo genocídio.
O PT, o PSOL e o PCdoB precisam romper com política de apostar todas as fichas nas eleições de 2022, em uma frente ampla com setores da burguesia. Essa política é criminosa. Já vimos esse filme e sabemos que o final dele não é nada bom.
As grandes centrais sindicais também precisam sair do marasmo. É preciso unificar as lutas, organizar um calendário nacional de mobilização, rumo construção de uma greve geral sanitária no país para deter a política genocida dos governos e garantir as reivindicações necessárias para enfrentar a pandemia e defender a vida, com vacinação imediata para toda a população, quebra das patentes, lockdown com auxílio digno para deter a disseminação da doença, apoio aos pequenos negócios, emprego, entre outras medidas.