Enquanto a COP26 caminha para mais um retumbante fracasso, o mundo está a caminho de níveis desastrosos de aquecimento global muito além dos limites do Acordo de Paris. Isso tudo apesar de uma enxurrada de promessas de redução de carbono dos governos na cúpula climática da ONU realizada em Glasgow, na Escócia. É claro que até o término da conferência, no próximo final de semana, será celebrado algum tipo de acordo para salvar as aparências. Mas isso não vai impedir o colapso climático causado pelo capitalismo.

De acordo com a avaliação do Climate Action Tracker (CAT), uma coalizão de análise climática muito respeitada no mundo, os aumentos de temperatura chegarão a 2,4 ºC até o final deste século, com base nas metas de curto prazo que os países estabeleceram. A pesquisa foi publicada em Glasgow, no último dia 9. Isso ultrapassaria em muito o limite superior de 2º C que o Acordo de Paris estabeleceu, e o limite muito mais seguro de 1,5 ºC pretendido nas negociações da COP26.

Uma temperatura média de 2,4 ºC significa um clima extremo generalizado, com aumento do nível do mar, secas, inundações, ondas de calor e tempestades mais violentas, que causariam devastações em todo o globo.

Rumo ao colapso

Entre 1850 e 2019, os seres humanos lançaram na atmosfera 2.390 bilhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2), sendo que a maior parte dessas emissões (entre 80% e 90%) foi gerada pela queima de combustíveis fósseis (petróleo, gás e carvão mineral).

O resultado foi o aumento médio da temperatura da Terra que, desde 1850, subiu 1.25 °C. Mais da metade da elevação da temperatura ocorreu a partir de 1980 (0.7 °C). E apesar de todos os alertas da ciência, conferências climáticas etc., houve um novo salto a partir de 2014. Os anos 2016 e 2020, respectivamente, foram os mais quentes desde 1850 (confira todo esse processo no Gráfico abaixo). O primeiro dos dois períodos tem a desculpa da ocorrência do El Niño (fenômeno cada vez mais intenso e frequente, aliás), cujo efeito é aumentar a temperatura global. Mas em 2020 esse fenômeno não ocorreu. Ao contrário, foi o ano da pandemia e da retração econômica, e mesmo assim as temperaturas atingiram níveis recordes.

Nessa toada, muito provavelmente, antes do final desta década deveremos atingir os pouco mais de 0.25 °C que faltam para cruzar o limite estabelecido pelo Acordo de Paris. Manter a temperatura entre 1.5 e 1.9 °C significaria administrar as mudanças climáticas um pouco mais severas do que se apresentam hoje. Mas vale lembrar que em toda a sua história a humanidade nunca enfrentou um aumento da temperatura média global como este. Acima de 2 °C já pode significar um passo para acionar pontos de ruptura do sistema Terra, como a transformação da Amazônia numa savana degradada e a liberação do gás metano do permafrost, um solo permanentemente congelado que existe no extremo norte da Rússia e Canadá. Acima de 3 °C é o fim do sistema e da biosfera tal como conhecemos.

Manifestação em Glasgow, na Escócia, cidade sede da Conferência do Clima das Nações Unidas (COP) – 26
“ Mudança de sistema, não mudança climática”

Nas ruas contra a catástrofe climática

Lena Souza, de São Paulo (SP)

Enquanto a COP26 reunia chefes de Estado e muitos empresários que procuram ganhar algum dinheiro com soluções inúteis para reverter a catástrofe climática, a juventude de vários países presente na conferência tem protagonizado mobilizações e atos de rua durante o evento. No último dia 5 aconteceu uma passeata convocada pelo movimento Fridays for Future, em que os jovens continuam pedindo mais ação e menos blá, blá, blá. “Ao grito de ‘O povo unido jamais será vencido’ e ‘O que queremos? Justiça climática. Quando a queremos? Já!’, caminhavam muitos jovens de povos indígenas da Amazônia, de outras regiões da América Latina e da Ásia e também ativistas de diferentes países africanos, que encabeçaram a comitiva desse protesto”, explicou um reportagem do jornal El País. A jovem Greta Thumberg continuou dizendo em seu discurso que é tudo blá, blá, blá e que a COP26 é um verdadeiro fracasso. Disse também que os verdadeiros líderes são as pessoas que participam dos protestos e que “as vozes das gerações futuras estão sendo ignoradas com as falsas promessas”. No dia 7 mais de 100 mil tomaram as ruas de Glasgow novamente para denunciar a farsa da COP26.

Apoiamos e incentivamos os protestos da juventude nas ruas e seguimos afirmando que a saída está na mobilização e na luta, pois os ricos e seus representantes vão continuar fazendo lindos discursos e não cumprindo as promessas e acordos que estão encenando na COP26. Este é o 26º fracasso em mais de três décadas de enrolação.

A verdadeira saída está no rompimento definitivo com esses enganadores e a organização independente da juventude em aliança com os/as trabalhadores/as e o povo pobre do planeta, a destruição do capitalismo e a construção de uma sociedade socialista. A conclusão a que devemos chegar é que o capitalismo é incompatível com a proteção do planeta, e a defesa da vida só pode estar nas mãos de quem sofre as consequências de sua destruição. Só uma sociedade em bases socialistas pode estabelecer as condições para colocar em prática um plano para impedir o colapso ambiental, o que os capitalistas são incapazes de garantir. Por isso, têm razão os ativistas que dizem: “Mudança de sistema, não mudança climática!”

Bolsonaro volta a mentir sobre proteção do meio ambiente

O maior inimigo do meio ambiente e da ciência no Brasil é Jair Bolsonaro. Mesmo assim, depois de propagar dezenas de declarações negacionistas contra a vacina da Covid-19 e a comunidade científica, ele concedeu a si a Medalha de Ordem Nacional do Mérito Científico no último dia 4.  Mas tão absurda quanto sua autopremiação foram as promessas feitas por Bolsonaro à COP26, dizendo que o Brasil vai  ser um “líder de uma nova agenda verde mundial”.

Em 25 de outubro de 2021, antes da conferência mundial, o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, lançou um “Programa Nacional de Crescimento Verde”. Na COP26, a delegação brasileira apresentou novas metas de conservação florestal e se comprometeu a acabar com o desmatamento ilegal até 2028. Mas tudo isso é conversa fiada. Nenhuma dessas medidas prevê qualquer plano operacional para sua implementação ou explica como vai cumprir as metas.

Brasil venceu o primeiro lugar no “Fóssil da Semana”, por seu trOS625atamento “horrível e inaceitável” dos povos indígenas

Realidade

Desde que assumiu, Bolsonaro cortou em 93% os gastos para estudos e projetos de mitigação e adaptação às mudanças climáticas. Seu governo tem sistematicamente enfraquecido a fiscalização ambiental, encorajando, na prática, a atuação de redes mafiosas que impulsionam o desmatamento e que usam da violência contra os defensores da floresta. E, muitas vezes, se confraterniza com os responsáveis por esses ataques.

Não por acaso, as taxas de desmatamento na Amazônia brasileira aumentaram dramaticamente durante os primeiros dois anos do seu governo. Entre 31 de outubro e 5 de novembro, nos primeiros seis dias da COP 26, mais de 9 milhões de árvores foram ao chão na Amazônia brasileira. No total foram derrubadas, até agora, mais de 471 milhões de árvores desde 1º de janeiro. O balanço dos 11 meses aponta que 1.539.970 árvores tombaram a cada dia, o que significa 1.059 árvores por minuto ou 17 por segundo. Os números são do monitor de desmatamento do PlenaMata e podem ser conferidos na internet. Esse é o retrato de um governo criminoso que agora jura defender o meio ambiente e lutar contra as mudanças do clima.

A verdade é que o desmatamento na Amazônia Legal em 2021 já se aproxima de 800 mil hectares (8 mil km²), segundo os alertas do sistema Deter do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). A área derrubada equivale à da cidade de São Paulo e Região Metropolitana, que reúne 39 municípios.

O absurdo de Bolsonaro é tamanho que mesmo outros líderes dos governos capitalistas rejeitaram encontros ou conversas com o presidente brasileiro, reforçando a imagem do Brasil como um pária internacional.

E do lado de fora da COP26, ativistas ambientais concederam um “antiprêmio” a Bolsonaro por seu tratamento “horrível e inaceitável aos povos indígenas”: o denominado “Fóssil do dia”. A premiação é concedida de forma irônica durante as conferências climáticas da ONU. Bolsonaro levou o prêmio por criticar a ativista indígena Txai Suruí, da etnia Paiter Suruí, que em seu pronunciamento na COP26 chamou a atenção do mundo ao lembrar que os povos originários são os que mais sofrem com o aquecimento global. “Os povos indígenas estão na linha de frente da emergência climática. Por isso devemos estar no centro das decisões que acontecem aqui”, discursou. Após os ataques de Bolsonaro, sua milícia digital lançou inúmeras ameaças a Txai Suruí.

Revista explica como capitalismo provoca o colapso ambiental

Não dá para impedir o colapso ambiental sem acabar com o capitalismo. Se quiser saber mais, leia a edição especial da revista Correio Internacional, que reúne artigos que aprofundam sobre todos os problemas que o sistema capitalista está produzindo para a vida no planeta.

Baixe a revista aqui: https://litci.org/pt/colapso-ambiental-o-capitalismo-e-o-responsavel/