Wilson Honório da Silva, da Secretaria Nacional de Formação do PSTU
Cenas do Brasil
“Doutor Gama” é baseado na vida de Luiz Gama , um dos personagens mais importantes da história do Brasil., dirigido por Jeferson De, ainda em cartaz nos cinemas e na Globoplay (leia o artigo).
Aliás, vale ir atrás de qualquer uma das produções deste diretor – como “Carolina” (2003), “Narciso RAP” (2005), “Bróder” (2009), “O amuleto” (2015) e “M8: quando a morte socorre a vida” (2019) – que, em 2000, foi um dos autores o manifesto “Gênese do Cinema Negro Brasileiro”, que além de fazer uma profunda crítica à representação de negros no cinema brasileiro, lançou as bases do movimento “Dogma Feijoada”, que aglutinou cineastas como Daniel Santiago, Billy Castilho, Lilian Solá Santiago e Joel Zito Araújo, todos eles também autores de obras importantes.
O curta-metragem “Carolina” (disponível no Vimeo: https://vimeo.com/174292663) é particularmente importante para os dias de hoje, quando a miséria, o desemprego e a fome estão produzindo, país afora, milhões que se aproximam da vida de Carolina Maria de Jesus (no filme, interpretada de forma genial por Zezé Mota), que, apesar das penúrias, escreveu, em 1960, “Quarto de despejo”, cujos trechos serviram como roteiro para o curta.
Do mesmo grupo, vale destacar “A negação do Brasil: o negro nas telenovelas brasileiras”, o impactante documentário produzido, em 2001, por Joel Zito Araújo, que parte de uma análise da representação do povo negro no principal produto dos meios de comunicação no país para discutir temas como o mito da democracia racial e as especificidades do racismo por aqui.
Como “ancestralidade” é sempre importante para nós, vale resgatar a reportagem “O negro: da senzala ao soul” (disponível em https://youtu.be/5AVPrXwxh1A), produzida pela TV Cultura que, ainda sob a ditadura militar e um ano antes da fundação do Movimento Nego Unificado (MNU), registrou um dos marcos do processo de reorganização do movimento negro brasileiro – a “Quinzena do Negro na USP”, realizada entre 22/05 e 8/06 de 1977 –, para discutir o racismo através de depoimentos de gente do povo, jornalistas, jogadores de futebol e ativistas, como Beatriz Nascimento, José Correia Leite, Eduardo Oliveira e Hamilton Cardoso; este último saudoso militante da Convergência Socialista, um dos grupos que deu origem ao PSTU.
Também vale resgatar o excepcional “Quilombo” , dirigido por Cacá Diegues, em 1984, pela forma como, para contar a história de Palmares. O filme coloca em cena as trajetórias de Zumbi, Dandara, Acotirene e Ganga Zumba.
Arte, cultura e movimento negro nos EUA
“A voz suprema do blues” (dirigido, em 2020, por George C. Wolfe), utiliza uma tensa tarde de gravação da banda de uma das “Mães do Blues”, a cantora bissexual, Ma Rainey (Viola Davis), para discutir o racismo nos Estados Unidos durante os anos 1920. O filme ainda traz Chadwick Boseman (o eterno “Pantera Negra”) em seu último papel, antes de falecer, aos 43 anos.
Também girando em torno da música, mas mergulhado na história dos movimentos negros nos EUA, há o documentário “What Happened, Miss Simone?” (2015, “O que aconteceu, Sra. Simone?”), dirigido por Liz Garbus, que discute como a conturbada vida da cantora Nina Simone foi marcada pela luta contra o racismo, o machismo e, também, problemas com a saúde mental, temas que moldaram de forma determinante sua obra e carreira.
Um dos filmes mais importantes dos últimos tempos (e pouquíssimo visto por aqui) é “Eu não sou seu negro” (2016), baseado no livro inacabado de James Baldwin (1924-1987), escritor e ativista negro e gay norte-americano, que expõe de forma impressionante o racismo em seu país, tomando como pontos de partida episódios que marcaram sua própria vida e a luta pelos direitos civis.
Ainda no campo do documentário, há a “13ª emenda” (Ava DuVernay, 2016), que, partindo da lei que aboliu a escravidão nos EUA, em 1865, discute a permanência do racismo, principalmente a partir de um sistema carcerário marcado por um dado assustador: enquanto um a cada três negros corre sérios riscos de ir para a cadeia; entre os brancos, este índice cai para uma a cada 17 pessoas.
Por fim, até o dia 30 de novembro, é possível acompanhar (em plataformas como a Wolo TV, o YouTube e o Zoom) a programação da “MIMB Olhares Periféricos”, uma edição especial da Mostra Itinerante de Cinemas Negros Mahomed Bamba, um festival internacional de cinema que promove a difusão das produções de realizadores negros do Brasil e da diáspora de forma gratuita. Para mais informações, acesse a página do Festival (www.mimb.com.br/olhares-perifericos), que, nesta edição, também está promovendo debates, aulas online e painéis com negros e negras que trabalham com cinema.