Em sua última reunião nacional, a Coordenação Nacional de Lutas dos Estudantes (Conlute) definiu por unanimidade pela convocação de um Encontro Nacional de Estudantes (ENE) e pela construção do Conat. O objetivo do ENE, que será realizado no dia 4 de maio de 2006, na cidade de Sumaré (SP), será a organização de uma ampla campanha nacional contra os sucessivos cortes de verbas da educação, a reforma universitária e o pagamento da dívida externa. Além disso, o Encontro discutirá também os rumos do movimento estudantil e os caminhos que deverá trilhar a Conlute para construir uma alternativa à UNE, já falida e comprada pelo governo federal.
O Encontro, diferente dos fóruns da UNE, será um espaço plural e democrático, onde todos os estudantes, entidades e organizações poderão apresentar suas contribuições, que serão previamente debatidas através de um Caderno de Teses em cada escola e universidade.
Trabalhadores e estudantes unidos
Surgidas a partir de um mesmo processo de luta contra o governo, a Conlute e Conlutas são expressão da experiência dos estudantes e trabalhadores com as traições da UNE e da CUT. O ENE deverá discutir a participação da Conlute nos fóruns oficiais da Conlutas e sua integração na construção de uma nova direção para o conjunto dos movimentos sociais brasileiro.
Com certeza será uma grande vitória, pois se resgatará a aliança operária-estudantil, enterrada há anos pelas burocracias dirigentes. É mais do que necessário reviver essa tradição. Uma transformação mais profunda do país e a construção de uma nova sociedade passam necessariamente pela aliança entre trabalhadores e estudantes.
O desafio da preparação
Nas universidades e escolas de todo o País a convocação e preparação do ENE e a eleição de delegados ao Conat já são uma realidade. Desde o lançamento da convocatória, a procura por informações relativas ao ENE tem sido muito grande. Vários estudantes e entidades representativas já entraram em contato pedindo materiais e ajuda na preparação do Encontro. Estamos diante da possibilidade de um evento altamente representativo e vitorioso.
Coneb da UNE: um jogo de cartas marcadas
A discussão e a preparação do ENE acabaram coincidindo e polarizando com o processo de tirada de delegados ao Conselho Nacional de Entidades de Base (Coneb) da UNE, que se realizará em abril. O PCdoB, partido majoritário na direção da entidade governista, resolveu chamar apressadamente o Coneb para tentar dar vazão à enorme insatisfação dos estudantes com a UNE e responder ao processo de ruptura com a entidade. Tanto os governistas quanto a oposição querem passar a impressão de que o Coneb será um espaço amplo e democrático, onde se poderá discutir os rumos da entidade. Nada mais falso.
Na verdade, o PCdoB prepara um grande golpe modificando a forma da eleição de delegados ao Congresso da UNE (Conune). A partir do Coneb os delegados serão eleitos por universidade e não mais por curso, o que restringirá ainda mais a participação da base nos fóruns da UNE. Como se não bastasse, o Coneb prepara as condições necessárias para que a UNE se engaje na campanha de reeleição de Lula.
A esquerda da UNE na encruzilhada
Os setores da chamada “esquerda da UNE” compraram o peixe do PCdoB e tentam passá-lo adiante. Repetem o discurso de que esse CONEB será “ultra-democrático” e poderá aprovar muitas resoluções, tais como as eleições diretas. Vãs esperanças. O Coneb será como o último Congresso da UNE, onde o PCdoB aprovou o apoio incondicional à reforma universitária do FMI e do Banco Mundial, fez passeata em defesa do governo do mensalão e esmagou a oposição.
Ir ao Coneb significa perder energia numa luta estéril e inglória. A UNE não serve mais e não há congresso no mundo que a faça retornar aos bons e velhos tempos de luta e independência.
Um Encontro de todos os estudantes
Ao invés de depositar esperanças numa empresa falida como a UNE e seu Coneb, e ter que engolir a seco o apoio da entidade a Lula nas eleições, chamamos os companheiros da esquerda da UNE, sobretudo o PSOL, a se integrar na construção do ENE. Dele participarão várias entidades que sequer são da Conlute, como as executivas de curso de letras e medicina. Não temos nenhum projeto acabado, nem queremos atestado de paternidade dessa iniciativa. Pelo contrário, o ENE, assim com a Conlute, está em um processo de elaboração coletiva e constante aperfeiçoamento.
A tendência à ruptura com a UNE é irreversível. Nada pode detê-la. A cada dia novas entidades e fóruns estudantis declaram seu repúdio à UNE governista e corrupta e saem à procura do novo. O novo está sendo construído a cada dia, e até agora, infelizmente, sem a ajuda dos companheiros da esquerda da UNE, que insistem em se agarrar a um passado distante, perdido em algum lugar da história.
O movimento estudantil já deu prova do que é capaz, como na greve deflagrada pelos estudantes da PUC em São Paulo no mês de março, quando enfrentaram junto com os professores e funcionários a intervenção da Igreja Católica e dos bancos credores.
O caminho já foi apontado mais uma vez pelos estudantes franceses, que junto com os trabalhadores e jovens de periferia sacudiram o governo Chirac contra o Contrato de Primeiro Emprego (CPE).
Como cantavam há poucos dias os estudantes da PUC de São Paulo: A mesma luta, só muda o nome, na PUC e na Sorbonne!