Redação
Instantes após o anúncio oficial da Anvisa da liberação das vacinas da CoronaVac e da Oxford, na tarde deste domingo, 17, a enfermeira Monica Calazans, mulher negra de 54 anos, trabalhadora da linha de frente do hospital Emílio Ribas em São Paulo, recebia a primeira dose da vacina no Brasil.
A cena comoveu o país e não foi por menos. Monica representou os verdadeiros herois que combatem diariamente a tragédia da pandemia agravada pela política genocida de Bolsonaro e dos governos estaduais. Representou os profissionais de saúde que mais sofrem, e morrem, por conta do descaso homicida dos governos. Da população mais pobre e negra, principais vítimas da pandemia.
Comove ainda por ter ocorrido dois dias após as cenas de barbárie em Manaus, que sofre uma verdadeira crise humanitária provocada diretamente pela negligência do governo Bolsonaro. A liberação da vacina neste domingo é uma vitória da ciência, dos institutos públicos de saúde e pesquisa como o Butantan e a FioCruz, além da própria Anvisa, seus servidores tão atacados, e uma derrota contundente de Bolsonaro.
O discurso do ministro-general Eduardo Pazuello pouco após o anúncio da aprovação da vacina não conseguiu esconder esse ar de derrota. Enquanto a população comemorava a luz no fim do túnel da vacina, Pazuello demonstrava irritação e atacava jornalistas. Não é difícil entender a razão.
O plano do governo Bolsonaro era buscar 2 milhões de doses da vacina da Oxford na Índia e, na disputa eleitoreira com Doria, sair primeiro na foto do início da vacinação. Mas o plano demonstrou não só o descaso, mas a incompetência flagrante desse governo. Além de terem demorado um dia para adesivar o avião com propaganda do governo, o governo da Índia, como já havia dito, não liberou as doses. Restou a Bolsonaro a vacina do Butantan.
A tragédia de Manaus, por sua vez, certamente pressionou a agilização da liberação das vacinas e o recuo de Bolsonaro em relação à CoronaVac.
Por um plano nacional de vacinação! Vacina para todos já
O início da vacinação representa um fio de esperança em meio à mais grave crise sanitária que esse país já viveu. No entanto, por incrível que pareça, ainda não existe um plano concreto de vacinação em massa. O que há, por enquanto, são as 6 milhões de doses da CoronaVac, que podem imunizar apenas 3 milhões de brasileiros (já que deve ser aplicada em duas doses com intervalo de 2 semanas). Uma quantidade ainda irrisória. Para se ter uma ideia, para se conseguir a “imunidade de rebanho”, seriam necessários imunizar 160 milhões de pessoas. Não há plano, há falta de seringas e demais insumos básicos.
E há condições de uma eficiente vacinação em massa num país que conta mais de 209 mil mortos oficiais pela pandemia. Segundo a pesquisadora da Fiocruz, Margareth Dalcolmo, referência na área, seria possível vacinar 5 milhões de pessoas por dia no país. Com uma estrutura como a do SUS, isso seria plenamente possível, bastando investimento e vontade política, tudo o que o governo Bolsonaro, seguido por seus governos estaduais capachos, não tem.
O genocídio em Manaus, com pacientes morrendo asfixiados e bebês recém-nascidos correndo risco de morte, mostram que a política do governo Bolsonaro e Mourão é a de, literalmente, matar as pessoas. É continuar propagando fake news em torno da cloroquina, como um post que o próprio Twitter censurou, a fim de que as pessoas se sintam protegidas, continuem trabalhando e dando lucros às grandes empresas e aos bancos. E atrasar ao máximo a vacinação. Prova disso é o fato, revelado pelo jornal O Globo, que pelo menos três companhias aéreas já estavam de prontidão para que, assim que saísse a liberação da Anvisa, pudessem levar a vacina aos estados já no domingo. O ministério da Saúde, porém, decidiu, de forma criminosa, atrasar o envio a fim de fazer propaganda e capitalizar politicamente.
Doria não está preocupado com a saúde
Já o governo Doria teve uma importante vitória política sobre Bolsonaro. Mas é preciso entender o que realmente representa esse governo, que se elegeu sob o lema “bolsodoria”. O governador paulista armou toda uma estratégia de marketing em torno da vacina, e negligenciou dados dos testes que deram margem para o negacionismo dos bolsonaristas. Mas isso não é o pior. O problema é que, nesta mesma semana, o governo Doria cortou 12% dos recursos da Saúde destinados aos convênios como as Santas Casas. A Fapesp, tradicional fundo de pesquisa do estado, também sofre sucessivos ataques e cortes de verbas por conta do governo tucano.
Sem contar o verdadeiro estelionato eleitoral praticado menos de 24h após o segundo turno das eleições que deu a vitória ao seu aliado, Bruno Covas. Vinha reiteradamente mentindo sobre o avanço da pandemia, e um dia após a votação, foi obrigado a restringir serviços públicos.
Governo de Bolsonaro e Mourão é obstáculo à vacinação
Agora não tem mais desculpas: já temos vacina aprovada pela Anvisa. Mas já vimos que o governo Bolsonaro vai sabotar ao máximo uma vacinação em massa. Mais que isso, vai nos matar sufocados como em Manaus. O governo de Bolsonaro e Mourão é um obstáculo para a vacinação. É tarefa urgente, uma verdadeira questão de vida ou morte, tirar esse governo e sua corja de lá. O panelaço deste sábado foi forte e mostrou uma indignação crescente contra esse governo. Neste domingo ocorreram novos panelaços, carreatas e até atos públicos. Está marcado um protesto para o dia 31 de janeiro na capital paulista.
É hora de unificar as lutas pelo Fora Bolsonaro e Mourão. Panelaços, manifestações que consigam manter a segurança dos participantes, protestos nas redes sociais, paralisações onde for possível, vale qualquer coisa para tirar de lá esse governo genocida.