O anúncio do tarifaço imposto pelo governo e a Petrobrás no último dia 10 impacta não só quem depende diretamente dos combustíveis, mas é uma verdadeira pancada sobre toda a população, sobretudo os mais pobres. A partir da última sexta-feira, 11, a gasolina contou com um aumento de 18,77%; o diesel 24,9%, e o gás de cozinha 16%.

Com isso, o preço médio do litro da gasolina supera os R$ 7, chegando a R$ 11 em alguns lugares como no Acre. O diesel foi de R$ 5,60 para R$ 6,48 na bomba e o botijão de gás já não se encontra por menos de R$ 100. Evidentemente, quem primeiro está sentido isso são os caminhoneiros, sobretudo os autônomos, que há muito sofriam com a alta do diesel e o frete defasado. Os milhões de trabalhadores de aplicativos, precarizados, também veem cada vez mais inviabilizado seu trabalho, ficando “desempregados” no próprio desemprego.

As famílias mais pobres, por sua vez, não estão tendo como nem cozinhar mais. Os cada vez mais frequentes acidentes com álcool, e outras improvisações para fazer comida, mostram a barbárie que o país se afunda.

Os reflexos desse tarifaço, porém, reverberam em praticamente todos os setores. Num país continental em que o meio de transporte predominante é sobre rodas, o preço do diesel impacta em todos os produtos, desatando uma reação inflacionária em cadeia. Sobretudo no preço dos alimentos, num contexto de alta galopante que, junto com o desemprego em massa e queda na renda, provocam o aumento da fome e da barbárie social.

O grupo de alimentos e bebidas já vinha sofrendo uma tendência de alta, acelerando 1,11% em janeiro e 1,28% em fevereiro, sendo o setor de maior alta do IPCA (Índice de Preço do Consumidor Amplo), o índice utilizado oficialmente para se medir a oscilação da inflação. À primeira vista, podem parecer números modestos, mas tem que se levar em conta que eles partem de um patamar já alto, e é acumulativo. E mais, ainda não conta o efeito do mega-aumento dos combustíveis.

Para a inflação em geral, já se prevê para este ano um índice superior aos 10,06% de 2021, tendendo a ficar por volta dos 11%, se nada mais ocorrer. Mas não é que será “um pouco pior” que o ano passado, serão 11% sobre os altos valores que já pagamos hoje, no supermercado, por exemplo. Os produtos mais básicos da mesa de todas as famílias, como o arroz, a carne, e o café, ficarão ainda mais caros.

Pagamos com a fome os lucros dos banqueiros

O Brasil é um dos maiores produtores de petróleo do mundo, por que pagamos tão caro pelo combustível e o gás de cozinha, ficando reféns da variação do mercado internacional e da guerra na Ucrânia? A verdade é que produzimos, em média, 2,9 milhões de barris de petróleo diariamente, o que daria para suprir toda a demanda e ainda sobra. Para se ter uma ideia, exportamos quase metade do petróleo extraído aqui. No entanto, por uma política consciente do imperialismo e de sucessivos governos, a Petrobrás está sendo desmontada, principalmente as refinarias. Essa política, aprofundada pelo governo Bolsonaro através da chamada política de “desinvestimento”, visa manter o país cada vez mais dependente do petróleo refinado, fazendo que vendamos petróleo cru para comprar o refinado, mais caro. É uma lógica colonial de transformar o país em fornecedor de matéria-prima e dependente de produtos de maior valor agregado. Compramos de fora 22% do diesel e 15,6% da gasolina que consumimos aqui.

A razão principal, porém, para os altos preços do combustível e do gás de cozinha, é o “Preço de Paridade de Importação”, imposta a partir do governo Temer, em 2016. Por essa política, os preços cobrados no Brasil são determinados pela cotação da commoditie no mercado internacional, e em dólar. Ou seja, os custos da Petrobrás para a exploração do petróleo são em reais, mas o preço cobrado aqui é o que se cobra lá fora em dólar.

Não é à toa que a empresa vem acumulando recordes de lucros. Em 2021, em plena pandemia e carestia, os lucros da Petrobrás aumentaram 1400%. No último mês, foram distribuídos R$ 106 bilhões em dividendos aos acionistas. E só o anúncio do aumento do combustível já fez as ações da Petrobrás disparar na Bolsa. Esses acionistas são justamente os banqueiros e especuladores que detêm os títulos da empresa na bolsa de Nova Iorque. Nas mãos do governo estão apenas 36,75% das ações da Petrobrás. E nem mesmo os dividendos dessas ações são revertidos para a população, já que vão para pagar a dívida aos banqueiros.

Medidas do Congresso não vão resolver

Presidentes da Câmara e do Senado Foto: Marcos Corrêa/PR

Pressionados pela revolta gerada pelo aumento nos preços, o governo e o Congresso Nacional estão se apressando para aprovar medidas a fim de mitigar a inflação. As medidas cosméticas vão desde a unificação do ICMS cobrado pelos estados, a desoneração de impostos como o PIS/Cofins, até o “auxílio-gasolina”, uma espécie de bolsa de R$ 300 para quem recebe o Auxílio-Brasil.

Outra medida é a criação de um “fundo de estabilização”: os dividendos da Petrobrás (os lucros a que têm direito pelas ações que ainda detém), mais royalties e bônus de exploração e exportação, ficariam guardados e utilizados depois como subsídio quando o petróleo subisse. Ou seja, os lucros dos megaespeculadores e banqueiros ficariam intocados por conta da injeção de dinheiro público que poderiam ser investidos em áreas como saúde e educação.

Nenhuma dessas medidas vai conter a subida dos preços e a disparada da inflação. No máximo, reduzir alguns poucos centavos nas bombas, se muito. E a razão é muito simples: continuaremos pagando o preço que é cobrado lá fora, recebendo salários de miséria em real e pagando em dólar, mantendo os lucros exorbitantes dos banqueiros e especuladores. Por isso que analistas burgueses e a grande imprensa atacam tanto qualquer proposta que vise alterar esse regime de preços.

Retrocesso e submissão do país aumentam fome e carestia

A lógica da submissão ao imperialismo e a reversão colonial do país vivido nos últimos anos é responsável pela alta nos combustíveis aqui, e é a mesma que vem provocando a alta dos alimentos. Apesar de o país ter o maior rebanho de gado do mundo, a carne virou item de luxo na mesa das famílias. E isso acontece justamente por conta do aumento de seu preço no mercado internacional, fazendo que boa parte da produção seja exportada. Para comprar no açougue da esquina, precisamos competir com as multinacionais que pegam a carne aqui e vendem para o mundo inteiro. O mesmo acontece com o café; somos o maior produtor de café do mundo e estamos pagando R$ 20 num mísero pacote de meio quilo na gôndola dos supermercados.

Produção em larga escala para exportação no caso dos alimentos, e desmonte e privatização no caso da Petrobrás, extorquindo os brasileiros ao impor aqui o valor cobrado lá fora. O desemprego, a pobreza e a fome alimentam os lucros dos banqueiros e grandes especuladores, assim como das grandes multinacionais, que controlam e monopolizam do petróleo, à carne, aos grãos e até mesmo o café.

Romper com o imperialismo! Por uma Petrobrás 100% estatal sob controle dos trabalhadores

Para resolver o problema é preciso lutar por uma Petrobrás 100% estatal, sem qualquer ação na mão de especulador ou banqueiro. Uma empresa que funcione sob controle dos trabalhadores, para suprir as necessidades da população, vendendo o combustível e o gás de cozinha aqui a preço de custo. Segundo números da própria Petrobrás, reunidos pelo ILAESE, o botijão de gás sai da Petrobrás a um custo de R$ 35,98 (veja ao lado a composição dos custos). Já o litro da gasolina, em 2021, tinha seu custo por volta de R$ 2 (na época, o valor médio nos postos era de R$ 5).  Sem os lucros exorbitantes parasitados pelos especuladores, daria não só para suprir o mercado interno a um valor baixo, como investir no desenvolvimento de energia limpa, que não destrua o meio ambiente.

Mas isso é só parte do problema da inflação e da carestia. É preciso tomar a produção e distribuição dos alimentos, da carne aos grãos, das mãos das grandes multinacionais e dos bilionários. Estatizar, sob controle dos trabalhadores, as grandes empresas alimentícias, as grandes redes de supermercados, e colocá-las para alimentar o povo, e não para especular no mercado internacional ou enriquecer às custas da nossa pobreza.