Secretaria de Mulheres do PSTU
Maria Victória, da Secretaria de Mulheres do PSTU

Condenado desde 2017 pela justiça italiana pelo envolvimento num caso de estupro coletivo, o jogador Robinho viu, no dia 16 de outubro, seu projeto de retornar ao Santos frustrado após os detalhes do caso virem a público. A divulgação da transcrição de áudios obtidos pela polícia durante a investigação deixa poucas margens para dúvida quanto à sua participação no crime, cometido numa boate em Milão, em 2013, contra uma jovem imigrante.

Robinho alega ser vítima de perseguição da imprensa. Culpou a vítima e insinuou que ela estava usando o caso para ganhar dinheiro à sua custa. Vale dizer que o apoio a Robinho pelos setores reacionários está por trás do vazamento dos dados pessoais (telefones e endereços) de vários jornalistas que, desde então, estão sendo assediados e têm recebido ameaças de agressão e morte.

Depois de inúmeros protestos na internet e comoção no meio esportivo, a diretoria do Santos, até então indiferente ao caso, suspendeu a contratação quando grandes patrocinadores ameaçaram romper contratos, temendo um rechaço às suas marcas. É lamentável que um clube como o Santos, conhecido por fazer campanha pelo fim da violência contra a mulher, precise ser ameaçado para recuar da contratação de um jogador condenado por estupro, reforçando assim o machismo e naturalizando a violência contra mulheres.

Os crimes de estupro são cometidos pelo estuprador, mas são incentivados e perdoados pela ideologia machista que naturaliza a violência e banaliza os estupros. Por isso, além de exigir punição, precisamos combater também o machismo e a cultura do estupro. No caso de Robinho, cujo recurso à decisão em primeira instância deverá ser examinado no dia 10 de dezembro, defendemos que a sentença seja mantida e o jogador punido de forma rigorosa pelo crime que cometeu. Não podemos aceitar que mais mulheres sejam violentadas e agredidas e que seus agressores saiam impunes.

Não à violência e aos estupros! Basta de machismo no futebol! Que Robinho pague pelo crime que cometeu!

ENFRENTAR O MACHISMO

O que a cultura do estupro e como combatê-la

O caso Robinho expõe a cultura do estupro arraigada na sociedade. A cultura do estupro toma forma quando o consentimento da mulher (aceitar ou não uma relação sexual) é substituído por sua conduta. Isso aparece de diversas formas. As mais comuns são quando a vítima é culpabilizada porque usava determinadas roupas, porque estava bêbada, porque estava em tal lugar em tal hora ou por causa da sua “reputação”. Nada disso é justificativa para o estupro. Nem mesmo faz do estupro algo menos grave.

Nesse caso, o jogador chega a dizer, em uma das conversas grampeadas pela polícia italiana: “não estou nem aí, a mulher estava completamente bêbada, não sabe nem o que aconteceu.” Ele se isenta da responsabilidade pelo crime cometido porque a vítima estava inconsciente. Com essa mesma justificativa, não foram poucos que defenderam sua inocência. Porém nenhuma mulher perde o direito ao seu corpo porque está com roupas curtas, porque está sob efeito de álcool ou qualquer outra droga, porque foi a uma festa ou por seus antecedentes. Não é não em qualquer uma dessas situações. E uma pessoa que não está em condições de dizer sim ou não, como o próprio Robinho admite, nunca está consentindo.

As mulheres trabalhadoras, pobres, negras e jovens são as principais vítimas da violência e da cultura do estupro. Sabemos que a conivência da justiça burguesa faz com que a cultura do estupro acoberte especialmente os agressores ricos. Por isso o combate ao machismo e a luta por uma cultura antiestupro são tão importantes e necessários e devem ser travados pelos revolucionários na classe trabalhadora. Esse combate precisa ser quotidiano e em todos os espaços, pois não podemos esperar que a cultura do estupro acabe de forma espontânea. Do contrário, a tendência é que o problema piore, pois a cultura do estupro é reproduzida pelas instituições burguesas e pela ideologia dominante.

Defendemos punição rigorosa aos agressores, bem como políticas de combate ao machismo e à violência. Contudo não podemos iludir-nos acreditando que a justiça, que fecha os olhos para os crimes dos ricos, e os governos de plantão a serviço dos exploradores farão algo para mudar essa realidade, especialmente o governo Bolsonaro e Mourão, machistas e cúmplices da violência contra a mulher. Deve ser a classe trabalhadora a tomar para si essa tarefa como parte da luta para derrotar o sistema capitalista e construir uma sociedade socialista. Basta de cultura do estupro! Basta de barbárie machista e capitalista!