Fachada da Câmara rodeada por tapumes

Na reabertura do legislativo natalense, manifestantes encontraram a Câmara cercada por tapumes e arame farpado

A Câmara Municipal de Natal mostrou mais uma vez que continua sem entender o recado que a população vem dando nas ruas desde junho, e expôs novamente a sua incompreensão diante da nova situação política do país. Na tarde de terça-feira (06), na reabertura do Legislativo após o recesso parlamentar, estudantes e trabalhadores encontraram a Câmara cercada por tapumes, arame farpado e com novas medidas de segurança, que restringem ainda mais a entrada das pessoas naquela que deveria ser a Casa do Povo.

Os manifestantes do movimento #Revolta do Busão foram até a Câmara reivindicar dos vereadores a aprovação do Passe Livre no transporte coletivo de Natal. Mas encontraram dificuldades para entrar e abrir um diálogo com os vereadores. Além dos tapumes e arames farpados, uma porta giratória com detector de metais foi instalada e o controle de segurança se tornou mais rigoroso e seletivo. A Câmara se transformou numa fortaleza sitiada. A decisão foi do presidente da Casa, Albert Dickson (PP), com apoio da maioria dos vereadores.

A retomada dos trabalhos legislativos neste dia 6 revelou o descompasso dos políticos com as vozes vindas das ruas. No momento em que as pessoas decidem participar da vida política da cidade, a Câmara se fecha e vira as costas para as reivindicações populares. O protesto foi inevitável. Os tapumes e arames foram derrubados pelos manifestantes, numa demonstração que o local deve estar aberto ao povo. Não houve interferência da polícia.

Do lado de fora do prédio, dezenas de estudantes e trabalhadores se aglomeravam na porta, tentando entrar, mas eram impedidos pela guarda legislativa. Apenas um pequeno grupo de estudantes conseguiu liberação e teve acesso. Dentro da Câmara, a maior parte das galerias do plenário estava vazia. Enquanto isso, a maioria dos manifestantes era barrada na entrada.

Durante a sessão, a vereadora Amanda Gurgel (PSTU) pediu a palavra e condenou a postura da Câmara e do presidente Albert Dickson (PP). “Todas as medidas de segurança que estão sendo tomadas aqui nessa Casa não são medidas de segurança contra a criminalidade, que também atinge escolas. São medidas de segurança contra a juventude que está se rebelando. A responsabilidade pela repressão que aconteceu aqui dentro é de Vossa Excelência, senhor presidente”, criticou Amanda.

A pedido da vereadora do PSTU, a sessão foi suspensa por cinco minutos para que os manifestantes fossem ouvidos. Dois representantes dos estudantes foram à tribuna e apresentaram suas reivindicações. Além de denunciar a repressão do dia 18 de julho, o fechamento da Câmara e a truculência do presidente Albert Dickson (PP), eles defenderam a aprovação do passe livre no transporte de Natal e exigiram diálogo com o movimento. No início da sessão, a vereadora Amanda Gurgel leu sua proposta de projeto de lei do Passe Livre para estudantes e desempregados, feito em parceria com os vereadores do PSOL. O projeto foi protocolado ainda em junho.

Uma fortaleza sitiada
A restrição do acesso à Câmara de Natal teve motivações políticas, e não de segurança dos funcionários contra a criminalidade crescente em Natal. No dia 18 de julho, cerca de 30 estudantes ocuparam o prédio pacificamente e sem depredações. Eles pediam mais tempo para discutir com a sociedade o projeto de licitação do transporte, enviado aos vereadores pelo prefeito Carlos Eduardo (PDT), que pedia a sua rápida aprovação.

O presidente da Câmara, vereador Albert Dickson (PP) cedeu, fez um acordo e estendeu o prazo de discussão. Entretanto, instantes depois, sob as ordens da Presidência da Casa, uma injustificável e desproporcional repressão da guarda legislativa e guardas municipais teve início contra os estudantes. Foram usados spray de pimenta e armas de choque. Uma mulher grávida foi agredida. Os manifestantes precisaram pular os muros da Câmara para fugir da ação da guarda.

Após a repressão e um protesto no dia seguinte, a Câmara dos Vereadores de Natal resolveu se fechar para a população, com tapumes e arames. No dia da reabertura, manteve a “Casa do Povo” como uma espécie de fortaleza sitiada, com um forte sistema de segurança.

Para a vereadora Amanda Gurgel, a Câmara e a Prefeitura estão na contramão da nova situação política do país e se afastam cada vez mais das reivindicações populares. “Há uma conjuntura de efervescência política em que as pessoas estão reivindicando participar e decidir sobre as próprias vidas. São greves, paralisações, ocupações. E o que a Câmara faz?! Fecha as portas, coloca tapumes e reprime os estudantes que ocupam o prédio. Só vai aumentar a revolta e o ódio legítimo que as pessoas sentem dos políticos. De nossa parte, estaremos ao lado dos trabalhadores e estudantes”, destacou a professora.

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